O que este conteúdo fez por você?
- A falta de perspectiva de uma solução para o conflito russo-ucraniano e as medidas restritivas na China no combate à covid-19 seguem pressionando a cadeia global de suprimentos, o que resulta em mais inflação.
- Pedro Galdi, da Mirae Asset, lembra das férias no Hemisfério Norte no meio do ano e da disputa eleitoral no Brasil, em seguida, que tendem a reforçar o ambiente de cautela e de volatilidade nos mercados.
- O Brasil ainda ocupa posição de destaque entre pares emergentes, pondera o gestor de renda variável da Western.
Maria Regina Silva – O Ibovespa já caminha para retomar a tradição do “sell in may and go away” (venda em maio e vá embora) após subir três anos seguidos no quinto mês do ano. A possibilidade de juros altos no mundo por mais tempo que o estimado pelo mercado na tentativa de conter a escalada inflacionária é um dos principais pontos a justificar o quadro desfavorável para a bolsa brasileira neste mês.
Leia também
Com o aperto monetário especialmente em economias desenvolvidas, como a dos Estados Unidos, a tendência é que os investidores se apoiem nesses portos seguros. Ainda que os recursos fiquem no Brasil, o dinheiro tende a ir para a renda fixa, que tem sido um forte chamariz com a Selic a 12,75% e, segundo especialistas, perspectiva de que o Banco Central vá demorar para iniciar um afrouxamento monetário.
“Há uma tendência de instabilidade em meio à remuneração mais agressiva na renda fixa. Com o calendário no Congresso fechando [diante da proximidade das eleições], podemos ter um mês de maio tão desafiador quanto foi abril”, afirma João Negrão, assessor de investimentos da SVN.
Publicidade
Invista em oportunidades que combinam com seus objetivos. Faça seu cadastro na Ágora Investimentos
Em abril, o índice Bovespa fechou em queda de 10,10%, com saída de R$ 7,67 bilhões em investimentos estrangeiros. Em maio, até o fechamento desta segunda-feira (9), acumulava queda de 4,29%. A saída de capital externo neste mês foi de R$ 7,875 bilhões até quinta (5), sendo quatro sessões de retirada.
“Já houve muita saída [dia, 4, de R$ 2,309 bi]. Difícil dizer que chegamos ao fundo do poço. Não há sinais claros, mas evidências. No entanto, a balança ainda está positiva [acumulado em 2022 é de R$ 49,775 bilhões até quinta-feira]”, completa Negrão, da SVN.
A falta de perspectiva de uma solução para o conflito russo-ucraniano e as medidas restritivas na China no combate à covid-19 seguem pressionando a cadeia global de suprimentos, o que resulta em mais inflação. Neste cenário, a tendência é de custos maiores para as empresas e desempenho menos robustos em seus balanços.
A indicação, por ora, diz Rodrigo Knudsen, sócio da Vitreo, é de um mês de maio volátil para o Ibovespa, dado que os problemas que têm causado incerteza nos investidores continuam pendentes. “Volatilidade com algum viés de queda deve ser a tônica. Não vejo muita coisa acontecendo em termos de melhora dos mercados. Se o lockdown na China e a guerra acabarem, podem dar algum alívio”, afirma.
Publicidade
Para Cesar Mikail, gestor de renda variável da Western Asset, os mercados já consideram em seus cenários que a guerra na Ucrânia se alongará. A novidade, diz, é que há uma tensão maior no mundo diante da expectativa de desaceleração global, principalmente da China, juntamente com a falta de insumos e de matérias-primas.
“Parte da inflação é por demanda e uma outra parcela é por conta da oferta de produtos. A cadeia continua sofrendo impactos”, afirma. Conforme Mikail, um alerta importante veio recentemente da Apple.
Após informar recorde de receita no trimestre até março de US$ 97,3 bilhões, alta de 9% na comparação com o ano passado, estimou impacto de US$ 4 bilhões a US$ 8 bilhões em seus negócios por conta de restrições de fornecimento causadas por interrupções relacionadas à covid-19.
“Se vemos uma empresa como a Apple dando esses sinais, o que pensar? O mercado se pergunta até onde o juro vai parar, dado que aumentou a probabilidade de recessão [nos EUA]”, acrescenta o gestor da Western.
Publicidade
Pedro Galdi, da Mirae Asset, lembra das férias no Hemisfério Norte no meio do ano e da disputa eleitoral no Brasil, em seguida, que tendem a reforçar o ambiente de cautela e de volatilidade nos mercados. “O Ibovespa fechou a semana em queda e o investidor terá de continuar olhando para frente, para essa questão do Fed [aumento dos juros], que chama dinheiro, o chamado smart money. Consequentemente, podemos ter um mês com a expressão ‘sell in may’ de volta. Psicologicamente isso acaba influenciando”, diz Galdi.
O Brasil ainda ocupa posição de destaque entre pares emergentes, pondera o gestor de renda variável da Western. Em sua visão, a não ser que aconteça uma correção muito forte nos preços de commodities – o que não está em seu cenário, por ora -, o quadro não deve ser totalmente desfavorável ao índice Bovespa. Ele, porém, não descarta volatilidade. “Dito isso, o Brasil ainda está descontado. Começamos a fazer ajuste nos juros primeiro, e estamos no final [do ciclo de alta]. A Selic pode subir um pouco mais e o mercado está colocando isso no preço”, afirma Mikail.