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‘Não é vergonha ir para a renda fixa’, diz presidente do Bradesco

Octavio de Lazari recomenda serenidade ao investidor neste momento de crise

‘Não é vergonha ir para a renda fixa’, diz presidente do Bradesco
Octavio de Lazari, presidente do Bradesco (Foto: Paulo Whitaker/Reuters)
  • Octavio de Lazari enfatizou a importância de as pessoas continuarem pagando contas e aluguéis, para evitar quebradeira em cascata da economia
  • Investidor deve ter contato mais próximo com um especialista, em busca de orientações sobre investimentos condizentes com seu perfil de risco
  • Quem tiver dificuldades para honrar prestações deve fazer contato com o banco para uma reorganização do crédito, que pode ser prorrogado sem elevação dos juros

Em live da Ágora Investimentos nesta quinta-feira, 16, o presidente do Bradesco, Octavio de Lazari, comentou os impactos do coronavírus na economia e no banco. Na conversa, mediada pela analista Ellen Steter, o executivo falou sobre as soluções que vêm sendo adotadas para ajudar empresários em dificuldades.

Para o investidor que, sem a orientação necessária, transferiu seu dinheiro da renda fixa para a renda variável e se surpreendeu com as perdas, ele lembrou que é importante se aconselhar com um especialista. E deu um recado. “Não é vergonha nenhuma ir para a renda fixa, ela também é um bom investimento. Não devemos colocar todos os ovos na mesma cesta.”

Confira a conversa abaixo:

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Ágora – O senhor já se expressou em outras entrevistas sobre a crise como presidente do Bradesco. Agora a pergunta é diferente: como o cidadão Octavio está enxergando o momento que estamos atravessando?

Octavio de Lazari – Temos que viver um dia de cada vez. Pode parecer banal, mas perdemos essa essência de viver o presente. Hoje tivemos uma mudança profunda no nosso jeito de ser e modo de agir e pensar. Estamos cuidando do presente, da saúde dos nossos funcionários, do dia de hoje.

A história da humanidade foi marcada por mudanças que foram detonadas por um gatilho que mudou o comportamento das pessoas: as quatro Revoluções Industriais, as duas Guerras Mundiais. Eu me questiono se essa quarta revolução industrial, a do conhecimento, não está sendo desafiada por um inimigo invisível com o qual não sabemos lidar. E que nos faz voltar para o mais essencial, que é cumprir com a missão de sobreviver. Isso tem que trazer reflexões para nós.

Se hoje temos cadeias globais de fornecimento, não existem mais fronteiras para os países produzirem e venderem o que tiverem de melhor, o Brasil produz insumos, grãos e minérios… tudo isso acabou no momento em, que por alguns tostões, você desvia uma carga de máscaras, testes e equipamentos.

Temos que repensar nosso planeta. O quanto estamos fazendo por ele de fato? O planeta está nos dando uma chance de repensar nossa atitude como seres humanos. Temos mudar nosso modo de agir para poder deixar para as próximas gerações um outro estilo de vida, outro modo de consumo. Em que possamos procurar a nossa felicidade sem o exagero de consumo de recursos naturais que temos hoje.

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Ágora – Como economista, como você enxerga a economia brasileira diante desses novos desafios propostos? Como vamos virar a página?

Octavio de Lazari – Difícil falar agora, pois ainda não temos clareza de quanto tempo esse problema irá se estender. Os reflexos certamente serão sérios. Temos que procurar fazer o nosso melhor e viver um dia de cada vez. Teremos reflexos importantes no PIB, estimo queda próxima a 4%, mas é quase um achismo.

Temos que ter uma postura de respeito aos contratos, as pessoas têm que cumprir suas obrigações. Vejo oportunistas dizendo: não vamos mais pagar contas, aluguéis… não podemos fazer isso! Quando alguém deixa de pagar, alguém deixa de receber, e esse outro alguém deixa de ter condições de pagar seus empregados, fornecedores.

Quem puder pagar, pague, assim a roda da economia continuará girando, ainda que mais lentamente, com algum solavanco. Esses ativismos só destroem a população como um todo. Quem não puder pagar, procure seu credor e renegocie sua dívida, para tentar esticar o prazo, pagar um pouco menor, replanejar a situação financeira. O momento é de pensar na comunidade e agir com extrema responsabilidade.

Ágora – Vimos medidas do governo para tentar mitigar os impactos do coronavírus na economia. Como o banco tem se posicionado para auxiliar nessa travessia?

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Octavio de Lazari – Nunca havíamos visto os três maiores bancos privados se unirem por uma mesma causa. Bradesco, Itaú e Santander se juntaram e procuraram o Ministério da Saúde para oferecer ajuda. O Ministério disse: não adianta oferecerem dinheiro, nós até temos dinheiro. O que precisamos é que usem de seu networking para ajudar a trazer os equipamentos de que precisamos.

Então compramos 5 milhões de testes, estamos doando 30 tomógrafos da Siemens, fizemos a doação de outros equipamentos, doamos R$ 50 milhões para uma entidade que arrebanhou empresários individuais para produzir máscaras. Estamos contribuindo com um hospital de campanha do Rio de Janeiro, doamos 80 mil cestas básicas em São Paulo. Cada um está buscando se solidarizar e ajudar.

É importante que o desejo de solidariedade da sociedade não venha apenas nesse momento, mas que seja estruturante, uma ação contínua. O poder público não vai resolver todos os problemas sozinho.

Ágora – E o lado dos empresários? Ele se mostra fragilizado. O cenário é desafiador.

Octavio de Lazari – Enquanto em 2008, a crise tinha a ver com o próprio setor financeiro, hoje os bancos são parte importante da solução do problema. Fomos conversar com o Banco Central e o BNDES, perguntar o que poderíamos fazer por aquelas empresas que geram mais empregos e têm uma estrutura de capital mais fragilizada, que faturam de R$ 360 mil a R$ 10 milhões. Nós temos que fazer a folha de pagamento dessas empresas para que elas continuem produzindo, ainda que em escala menor.

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Surgiu a ideia de fazermos a folha dessas empresas por dois meses, abril e maio. Rapidamente os bancos selecionaram essas empresas. A gente aprovou 92% das empresas que têm folha de pagamento no Bradesco, são 54 mil empresas que envolvem 1,4 milhão de trabalhadores. Oito mil empresas já tomaram esse crédito e o dinheiro já foi direto para a conta das pessoas, que precisam se alimentar e pagar suas obrigações. Nas folhas de pagamento não tem spread, estamos usando toda a rede de distribuição, suportando os custos operacionais, não estamos cobrando nada por isso, os bancos não vão ganhar um centavo com a operação.

Uma outra medida foi prorrogar as parcelas por 60 dias, mantendo exatamente a mesma taxa de juros do contrato. Não há elevação de taxa, ao contrário do que algumas pessoas vêm dizendo. Todas as operações em que nossos clientes pedirem para jogar as parcelas de abril e maio para o final do contrato, a taxa de juros será a mesma. O que vai acontecer é que a prestação vai aumentar um valor pequenininho, porque o prazo do contrato vai aumentar dois meses.

Uma outra medida que devemos ressaltar: a ajuda emergencial de R$ 600, imagine em um espaço de tempo curto você pagar 20 a 25 milhões de pessoas. Conversamos com a Caixa, oferecemos ajuda a ela, e ela incluiu o Bradesco entre os bancos em que essas pessoas podem receber o benefício. Imagine se não houvesse os bancos para pagar aposentados, pagar a ajuda emergencial em um prazo tão exíguo, fazer a extensão de folha de pagamento, a extensão do prazo dos contratos… Os bancos são parte importante da solução.

Ágora – Você como líder, que dica você daria para o empresário sobre como administrar o quadro de funcionários? Qual foi a sua experiência com o Bradesco diante do coronavírus?

Octavio de Lazari – No passado, a diretoria e o conselho do banco discutiam o budget, as metas, o lucro, novos produtos. Faz 40 dias que a gente está discutindo pessoas: se temos funcionários com coronavírus, se perdemos alguém, como estão as famílias. Agora essa é a nossa preocupação, com as pessoas, e tenho orgulho de dizer isso. Todo o resto a gente vai reconstruir.

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Começamos a testar o home office entre os funcionários com muito medo, de repente apareceu toda essa crise, e a gente teve que se adaptar rapidamente. Hoje nós temos 92% dos nossos funcionários de escritório trabalhando em casa. Das centrais de atendimento, 72% dos funcionários também estão atendendo de casa, o que era inimaginável. Na rede de agências, que foram declaradas serviço essencial, há um rodízio semanal. A cada semana, trabalha 50% da equipe; na sexta-feira entra uma equipe que faz a higienização completa da agência, e na semana seguinte entram os outros 50%. A gente faz esse rodízio para preservar as pessoas. Na nossa casa de investimentos, a Ágora, 100% dos analistas e consultores estão trabalhando de casa, e tão produtivos como no escritório.

Se podemos dar uma mensagem para todos os empresários, é planejar o trabalho com cuidado, olhando para as pessoas, diagnosticar as deficiências, as dificuldades. A central de atendimento não recebia dúvidas que recebe hoje, e teve que se adaptar rapidamente, com suor, dedicação e estratégia.

Ágora – Os clientes estão perguntando como está o atendimento na agência, se está normal ou tem restrições.

Octavio de Lazari – O próprio Bacen limitou o horário de 10h a 14h, para minorar o contato físico. Regulamos a entrada, entram de 5 a 10 clientes de cada vez, com marcas no chão para ter maior espaçamento entre as pessoas e manter uma distância segura. Todas as agências estão abertas, com quadro de funcionários de 50%.

Nos canais digitais, mobile e internet banking, o cliente consegue fazer absolutamente todas as transações. Procurem falar com o gerente por e-mail, telefone, evitem ao máximo o contato físico nesse momento. Teremos muita gente para receber o auxílio emergencial, pessoas mais carentes que precisam ir à agência. Então evitem sair de casa agora se não precisarem, prefiram os canais digitais.

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Ágora – Temos diversos investidores nos assistindo neste momento. Diante de tanta volatilidade no cenário,qual o conselho que você dá para o investidor.

Octavio de Lazari – Ligue para a Ágora (risos). Tivemos 2 milhões de novos investidores na Bolsa de Valores em 2019, e tenho dúvida sobre quantas dessas pessoas foram de fato bem orientadas antes de tirar o dinheiro delas da renda fixa e colocar na renda variável, se elas sabiam do risco que estavam correndo. Todos os ativos perderam de 30 a 40% do valor.

O momento é de calma e serenidade para o cliente com seus investimentos. Ligue para o seu analista, seu conselheiro, seu especialista, o gerente do banco, para se aconselhar, colocar suas dúvidas. Para a gente entender qual é a dúvida do cliente e também qual o perfil e apetite de risco do cliente. Muita gente vê oportunidades na crise, mas é preciso ter estômago para correr riscos.

Os consultores estão preparados para dar essas informações e orientar o cliente, entender os anseios, dúvidas e dores. Não é vergonha nenhuma ir para a renda fixa, ela também é bom investimento, não devemos colocar todos os ovos na mesma cesta. Estamos preparados para orientar sobre o que é melhor para ele fazer. O momento é de muita conversa e muita serenidade.

Ágora – A Ágora tem tido uma postura de focar em especialistas, em plataformas e gerentes. O agente autônomo de investimento caberia nessa configuração?

Octavio de Lazari – Acredito muito na nossa equipe e na capacidade de orientar nossos clientes. Não tenho nada contra o agente autônomo. Mas somos um banco de dimensões quase continentais, com 4.700 agências. Estamos treinando quase 900 novos especialistas em investimentos. Não nos cabe agora esse tipo de discussão.

Acredito muito no nosso time e na nossa capacidade de realizar as coisas. Nosso colaborador está trabalhando em uma organização que o respeita, o anseio dele não é por comissão, o trabalho dele é de longo prazo, de crescer dentro da organização e como ser humano, os objetivos são diferentes. Prefiro por enquanto confiar no nosso time e não ter agentes autônomos, com todo respeito que essa classe merece.

Ágora – A prorrogação de crédito vale para todas as operações: consignado, veículo, todas as linhas de crédito? Como acessar o crédito à distância?

Octavio de Lazari – As operações poderão ser prorrogadas por 60 dias, dentro de algumas limitações. O crédito consignado recai sobre o salário, que continua sendo pago, então não faz sentido prorrogar, a menos que a pessoa tenha perdido o emprego.

Se for esse o caso, a pessoa procura o banco e ele faz uma reorganização desse crédito. O banco não tem nenhum interesse em que as empresas quebrem ou que as pessoas deixem de pagar, esse é o pior cenário.

Para nós é muito mais fácil reorganizar o crédito do cliente, alongando o prazo das operações, dando uma carência maior, de 3, 4, 6 meses, para as pessoas voltarem a trabalhar e poderem pagar suas obrigações, como a grande maioria faz e quer fazer.

As outras operações, crédito pessoal, veículos, imobiliário, todas elas entram na prorrogação, sem nenhum aumento de taxa. Podem procurar nossos canais para isso. Os clientes e as empresas que tiverem mais dificuldade, procurem nossos gerentes para fazer essa reorganização.

A gente sabe que vai ter aumento de inadimplência, não vai ter jeito, a crise é severa e não sabemos sua extensão, mas estamos preparados para atender o cliente e dar uma condição melhor para que ele possa pagar suas operações no futuro.

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