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Magazine Luiza (MGLU3) cai mais de 30% no ano. O que esperar das ações?

Os papéis da varejista, considerada uma das ‘queridinhas’ do lockdown, se desvalorizaram em 2021

Magazine Luiza (MGLU3) cai mais de 30% no ano. O que esperar das ações?
(Foto: Shutterstock)
  • Alimentada pela disparada do e-commerce em função da adoção do home office, MGLU3 acumulou 109,84% de alta em plena pandemia
  • Mas quem entrou na ação em janeiro deste ano e a segurou até esta quarta-feira (15) viu os ativos desvalorizarem mais de 30%, passando para os atuais R$ 16,62
  • Apesar da tempestade perfeita que se abate sobre o setor varejista, muitos dos analistas seguem confiantes com o Magazine Luiza

O Magazine Luiza encerrou o ano de 2020 como uma das ações que mais se beneficiaram com o lockdown. Com a disparada do e-commerce em função da adoção do home office, os papéis MGLU3 acumularam 109,84% de alta de janeiro a dezembro, passando de R$ 12,31 para R$ 24,95. A virada do ano, entretanto, mudou o panorama.

Quem entrou na ação em janeiro deste ano e a segurou até esta quarta-feira (15) viu os ativos desvalorizarem mais de 30%, passando para os atuais R$ 16,62. Na última sexta-feira (10), houve até mesmo uma queda brusca, de 8,8%, uma pressão vendedora que não ocorria com os papéis desde março de 2020, quando houve o auge do impacto do coronavírus no mercado financeiro.

Tal volatilidade fez com que o Magalu tivesse que publicar um comunicado ao mercado, explicando a movimentação atípica. No texto, a varejista apontou como responsáveis pelas oscilações algumas reportagens vinculadas na imprensa. Paralelamente, um relatório da consultoria americana YipitData teria rebaixado as estimativas para o crescimento das vendas da varejista no terceiro trimestre de 2021, na comparação ao mesmo período do ano passado. “O relatório indicou que teria um crescimento de 20%, o que é baixo para uma companhia que estava crescendo 60% ou 70% nos últimos trimestres”, afirma Fernando Ferrer, analista da Empiricus.

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Por ter um valuation (valor de mercado) ‘caro’, o mercado quer que a empresa apresente taxas elevadas de crescimento. Dessa forma, qualquer crescimento abaixo do esperado resulta na penalização dos papéis. “Esse crescimento baixo que deve vir, para alguns analistas, seria um pouco mais estrutural (de longo prazo) do que conjuntural (de momento), mas não concordo com isso”, diz Ferrer.

Questões macroeconômicas

Fora as questões específicas do Magazine Luiza, o e-commerce está sofrendo no ano. Segundo Danilo Batara, sócio-fundador e head da mesa de operações da Delta Flow Investimentos, as expectativas de juros mais altos, assim como a escalada da inflação, são alguns dos fatores macroeconômicos que explicam o desempenho do setor.

Estima-se que a taxa de juros básica da economia, Selic, aumente nas próximas reuniões do Copom e chegue ao fim do ano em 8%, mesmo patamar do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação. “O varejo tende a vender menos ou vender com taxas mais altas, o que acaba restringindo o volume de vendas e negociações”, afirma Batara.

De acordo com Roberto Nemr, analista da Ohmresearch, o setor varejista está cada vez mais competitivo, com a chegada de players estrangeiros como a Shopee (S2EA34) e o próprio Mercado Livre (MELI34). Agora, o mercado estaria à procura de quem poderá ser o consolidador, isto é, a ‘Amazon brasileira’ – o que torna os dados de crescimento ainda mais importantes.

“Os analistas acompanham dados de venda e de crescimento para saber quem está ganhando e quem está perdendo”, afirma Nemr. “A percepção, até agora, é de que o Mercado Livre estava ganhando, com um valor de mercado de R$ 90 bilhões. Em segundo, o Magazine Luiza e depois a Americanas.”

Ferrer reforça essa conjuntura de expansão da concorrência. O analista ressalta que o mercado de e-commerce latino foi o que mais cresceu no mundo, o que atraiu companhias estrangeiras e está fomentando novas oportunidades. O conglomerado japonês de investimento em tecnologia Softbank, por exemplo, criou um novo fundo de US$ 3 bilhões para investimentos na América Latina. “É um mercado pujante, que tem interessado outras empresas a atuar e investir aqui”, afirma.

Recomendações

Apesar da tempestade perfeita que se abate sobre o setor varejista, muitos dos analistas seguem confiantes com o Magazine Luiza. A empresa reportou sólidos resultados no segundo trimestre de 2021, com um lucro líquido de R$ 89,1 milhões, revertendo o resultado negativo de R$ 62,2 milhões no mesmo período do ano passado.

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O EBITDA (lucro antes dos juros, impostos, depreciação e amortização) também cresceu 209,3% na comparação com o segundo trimestre de 2020, para os atuais R$ R$ 455,4 milhões. Ferrer, da Empiricus, tem recomendação de compra para MGLU3 com base em três pilares: investimento em logística, o superapp e conta digital, além de fusões e aquisições (M&As).

No guidance divulgado pela varejista para 2023, existem metas logísticas audaciosas, como ampliar o número de unidades logísticas de 225  para 450. O número de lojas também deve passar de 1.440 para 1.680.

O superapp e a conta digital do Magazine Luiza seriam fortes motores para o crescimento da varejista no longo prazo. “Hoje a Magalu processa 10 milhões de TPV (faturamento do cartão de crédito) e tem portfólio de crédito de R$ 13,5 bilhões”, afirma Ferrer. “Tudo isso aumenta a conversão de clientes.”

Por último, as aquisições estratégicas, como a plataforma de e-commerce de tecnologia e games KaBuM!, levariam a empresa para além do varejo tradicional. “Desde janeiro de 2020 foram 21 aquisições, nos mais variados temas. Eles estão comprando diversas empresas com viés tecnológico para conectar ao superapp. O Magazine Luiza, com isso, vai começar a capturar vários vetores de mercado”, afirma Ferrer.

Rodrigo Romero⁩, sócio da Inside Research, também mantém uma visão positiva para MGLU3. “A companhia deva continuar tendo sucesso no desenvolvimento de um ecossistema bastante diverso e integrado. Os movimentos recentes de aquisição por parte da empresa reforçam nossa ideia de um mix cada vez mais robusto e diversificado”, afirma o executivo. “Olhamos para o Magazine Luiza com um case de longo prazo, comprando uma tese de crescimento em constante transformação.”

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Já Nemr, da Ohmresearch, vê o cenário com mais cautela. O aumento da competição, principalmente com o Mercado Livre ganhando espaço, pode fazer pressão sobre as ações do Magazine Luiza. “Se a ideia é que a empresa vai perder espaço para o Mercado Livre, ainda tem muito para cair”, explica.

Hoje, o especialista vê a Americanas S.A. (AMER3) como uma oportunidade muito mais interessante que o Magalu, dado o desconto no papel. “O Magazine Luiza também tem um múltiplo super elevado”, afirma.

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