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“Magda Chambriard tomou posse em ambos os cargos nesta data e passou a integrar o conselho imediatamente, não sendo necessária a convocação de assembleia para esse fim”, diz a estatal em fato relevante.
A executiva já frequentava a sede da companhia, no Rio de Janeiro, onde vem conversando com a presidente interina, Clarice Coppetti. A meta, que Chambriard já deixou clara para os que a encontraram é acelerar o Plano Estratégico 2024-2028 – com investimentos de US$ 102 bilhões (R$ 526 bilhões) – e entregar o que Brasília está esperando.
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Indicada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para o cargo, a ex-diretora geral da Agência Nacional de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (ANP) herda a tarefa complexa de conciliar os interesses do governo sem perder a credibilidade no mercado financeiro.
Trata-se da sétima pessoa a assumir o cargo de presidência da Petrobras em cinco anos. Durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), entre 2019 e 2022, foram quatro mudanças no cargo. No dia 14 de maio, Jean Paul Prates entrou para a lista depois de passar 473 dias no comando da companhia.
O perfil de Chambriard mostra maior afinidade com as políticas do governo e sugere uma possível ampliação dos investimentos nos futuros planos estratégicos da estatal. Como resultado, a época de dividendos substanciais para os acionistas pode estar chegando ao fim, com a possibilidade de ser substituída pelo pagamento mínimo estipulado no estatuto da empresa.
Aos 66 anos, Magda Chambriard, além de ter uma carreira no setor petrolífero, possui mestrado em Engenharia Química pela Coppe, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e é graduada em Engenharia Civil pela mesma instituição. Sua expertise abrange engenharia de reservatórios, avaliação de formações e produção de petróleo e gás.
Anteriormente, ocupou o cargo de diretora da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) por quatro anos, de 2012 a 2016. Além disso, contribuiu como diretora da Assessoria Fiscal da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) e fez parte da equipe de transição do governo no final de 2022. Ela chegou a disputar a mesma vaga de presidente com Jean Paul Prates, no início da gestão Lula.
A analista Elizabeth Johnson, da consultoria britânica TS Lombard, prevê apenas “mudanças marginais” com a nova gestão, embora observe a nova liderança será testada no quarto trimestre, quando a estatal divulgar seu plano de investimentos para 2025/2029.
Chambriard desempenhou um papel fundamental no desenvolvimento do projeto do pré-sal, de acordo com a TS Lombard. Ela sempre defendeu o aumento da capacidade de produção no Brasil, assim como a ampliação da capacidade de refino.
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Ao mesmo tempo, a executiva parece adotar uma abordagem mais cautelosa em relação aos investimentos na transição energética, observa Johnson. A nova presidente da Petrobras manifestou apoio aos investimentos em combustíveis renováveis, como o diesel verde, enfatizando a necessidade de engajamento nesses produtos. No entanto, ela demonstrou ceticismo em relação a investimentos dispendiosos em energia eólica offshore, argumentando que o foco deveria ser na energia eólica on-shore, que é mais acessível.
Ao contrário de Prates, conhecido por sua presença ativa nas redes sociais e em entrevistas, Chambriard provavelmente terá um perfil mais discreto, o que pode evitar possíveis conflitos com o Ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, e o Ministro da Casa Civil, Rui Costa, avalia a analista.
Durante seu mandato, Jean Paul Prates implementou mudanças significativas, incluindo o fim da política de preços de paridade de importação (PPI) e ajustes na política de distribuição de dividendos extraordinários da empresa. Apesar das dúvidas iniciais, Prates conseguiu estabelecer uma imagem como um profissional técnico e uma figura de “moderação” aos olhos do mercado.
Com o tempo, as principais preocupações dos analistas em relação à administração da estatal pelo governo foram diminuindo, e as ações da empresa conseguiram se recuperar. Como mostramos nesta reportagem, a PETR4 teve alta de 115% no período em que o ex-senador esteve à frente do cargo de CEO.
Entretanto, nos últimos meses, a Petrobras enfrentou períodos de alta volatilidade devido a conflitos entre Prates e os ministros de Minas e Energia, Alexandre Silveira, e da Casa Civil, Rui Costa. A gestão também foi marcada pelo episódio da retenção dos dividendos extraordinários da empresa petrolífera.
Os especialistas consultados pelo E-Investidor concordam: em termos de experiência e aptidão para o cargo, Magda Chambriard é uma escolha técnica. Contudo, há preocupações quanto à orientação política de seu mandato.
“O primeiro desafio que ela enfrentará é conquistar a confiança do mercado”, afirma Frederico Nobre, líder da análise da Warren Investimentos. “Chambriard tem uma abordagem mais voltada para o desenvolvimento, em consonância com o que o governo estava buscando para o novo presidente da Petrobras. Seu histórico é menos voltado para o mercado do que o de Prates, é mais ponderado e conseguiu adotar uma postura bastante interessante na empresa.”
Segundo apuração da Coluna do Estadão, a ex-diretora-geral da ANP se comprometeu a acelerar os projetos voltados para o mercado de gás e fertilizantes, demanda vista como prioritária pelo governo. Ela também apoia a retomada de projetos em refinarias, área de atuação defendida pelo presidente Lula com objetivo de aumentar a capacidade de produção de diesel.
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No entanto, os esforços do governo nessa linha de negócios são criticados pelo mercado financeiro por estarem fora do “core business” da empresa e pelos altos custos. “A construção de uma nova refinaria é orçada em R$ 4 bilhões, com uma taxa interna de retorno de 20% ao ano. Os custos aumentam devido a uma projeção subestimada de investimentos e desvios de recursos. No final, são investidos R$12 bilhões e a taxa de retorno é negativa”, afirma Flávio Conde, analista da Levante Investimentos.
A preocupação também se estende à demanda futura, quando os projetos estiverem consolidados, diante do movimento global de transição energética. Além disso, os projetos de baixo carbono, que possuem um orçamento de US$ 11,5 bilhões no atual plano estratégico da empresa, também devem ser avaliados com atenção redobrada pelos investidores.
Os analistas apontam que o investidor deve ter calma e paciência. Ainda assim, quem tiver um grande apetite ao risco e não se importar com prováveis volatilidades em busca de lucros maiores, a ação da Petrobras pode ser atrativa.
Um levantamento realizado por Einar Rivero, da Elos Ayta Consultoria, a pedido do E-Investidor, aponta que as ações de PETR3 despencaram 10,46% desde o fechamento do dia 14 de maio – o dia da saída de Prates – até quinta-feira (23). Enquanto isso, PETR4 teve uma baixa de 9,93% no mesmo período.
Virgílio Lage, da Valor Investimentos, diz que o investidor deve ser mais cauteloso e só comprar a ação se ele não se importar com a volatilidade. Ele reforça que o ideal é esperar o mercado digerir a mudança no comando da estatal e ver qual será o destino da companhia na gestão de Chambriard. “Hoje as ações só estão atrativas para o investidor que busca ganhos com especulação. A questão de dividendos está muito incerta”, argumenta Lage.
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Para Vicente Falanga do Bradesco BBI e Ricardo França da Ágora Investimentos, o novo mandato será focado em usar a posição da Petrobras para desenvolver ainda mais a cadeia nacional de fornecimento de petróleo, possivelmente resultando em maiores investimentos. “Se o nosso diagnóstico estiver correto, as ações poderão se recuperar gradualmente, como em casos anteriores. Mantemos a recomendação de compra com preço-alvo de R$ 47”, afirmara. Trata-se de um potencial alta de 23% na comparação com o fechamento desta quinta (22), quando o papel encerrou o pregão a R$ 38,22.
Já para Pedro Soares, Thiago Duarte e Henrique Pérez do BTG Pactual, reiteram a recomendação de compra para as ações da Petrobras cotadas em Nova York, conhecidas como American Depositary Receipt (ADR). Eles estimam que a Petrobras deve pagar 14,4% do valor de sua ação em dividendos –o dividend yield – em 2024 e 10,9% do preço de seu ativo em dividendos em 2025.
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