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Mercado

Magda Chambriard é eleita presidente da Petrobras. Qual a visão do mercado?

Ela é a sétima pessoa a assumir o cargo de presidência da companhia petrolífera em cinco anos

Magda Chambriard é eleita presidente da Petrobras. Qual a visão do mercado?
Magda Chambriard, a nova CEO da Petrobras. (Foto: Wilson Dias/Agência Brasil)

O comitê do Conselho de Administração da Petrobras (PETR3;PETR4) aprovou Magda Chambriard como conselheira de administração e a nomeou como presidente da maior empresa do Brasil, anunciou a companhia na manhã desta sexta-feira (24).

“Magda Chambriard tomou posse em ambos os cargos nesta data e passou a integrar o conselho imediatamente, não sendo necessária a convocação de assembleia para esse fim”, diz a estatal em fato relevante.

A executiva já frequentava a sede da companhia, no Rio de Janeiro, onde vem conversando com a presidente interina, Clarice Coppetti. A meta, que Chambriard já deixou clara para os que a encontraram é acelerar o Plano Estratégico 2024-2028 – com investimentos de US$ 102 bilhões (R$ 526 bilhões) – e entregar o que Brasília está esperando.

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Indicada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para o cargo, a ex-diretora geral da Agência Nacional de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (ANP) herda a tarefa complexa de conciliar os interesses do governo sem perder a credibilidade no mercado financeiro.

Trata-se da sétima pessoa a assumir o cargo de presidência da Petrobras em cinco anos. Durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), entre 2019 e 2022, foram quatro mudanças no cargo. No dia 14 de maio, Jean Paul Prates entrou para a lista depois de passar 473 dias no comando da companhia.

O perfil de Chambriard mostra maior afinidade com as políticas do governo e sugere uma possível ampliação dos investimentos nos futuros planos estratégicos da estatal. Como resultado, a época de dividendos substanciais para os acionistas pode estar chegando ao fim, com a possibilidade de ser substituída pelo pagamento mínimo estipulado no estatuto da empresa.

Quem é Magda Chambriard?

Aos 66 anos, Magda Chambriard, além de ter uma carreira no setor petrolífero, possui mestrado em Engenharia Química pela Coppe, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e é graduada em Engenharia Civil pela mesma instituição. Sua expertise abrange engenharia de reservatórios, avaliação de formações e produção de petróleo e gás.

Anteriormente, ocupou o cargo de diretora da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) por quatro anos, de 2012 a 2016. Além disso, contribuiu como diretora da Assessoria Fiscal da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) e fez parte da equipe de transição do governo no final de 2022. Ela chegou a disputar a mesma vaga de presidente com Jean Paul Prates, no início da gestão Lula.

A analista Elizabeth Johnson, da consultoria britânica TS Lombard, prevê apenas “mudanças marginais” com a nova gestão, embora observe a nova liderança será testada no quarto trimestre, quando a estatal divulgar seu plano de investimentos para 2025/2029.

Chambriard desempenhou um papel fundamental no desenvolvimento do projeto do pré-sal, de acordo com a TS Lombard. Ela sempre defendeu o aumento da capacidade de produção no Brasil, assim como a ampliação da capacidade de refino.

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Ao mesmo tempo, a executiva parece adotar uma abordagem mais cautelosa em relação aos investimentos na transição energética, observa Johnson. A nova presidente da Petrobras manifestou apoio aos investimentos em combustíveis renováveis, como o diesel verde, enfatizando a necessidade de engajamento nesses produtos. No entanto, ela demonstrou ceticismo em relação a investimentos dispendiosos em energia eólica offshore, argumentando que o foco deveria ser na energia eólica on-shore, que é mais acessível.

Ao contrário de Prates, conhecido por sua presença ativa nas redes sociais e em entrevistas, Chambriard provavelmente terá um perfil mais discreto, o que pode evitar possíveis conflitos com o Ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, e o Ministro da Casa Civil, Rui Costa, avalia a analista.

A saída de Jean Paul Prates

Durante seu mandato, Jean Paul Prates implementou mudanças significativas, incluindo o fim da política de preços de paridade de importação (PPI) e ajustes na política de distribuição de dividendos extraordinários da empresa. Apesar das dúvidas iniciais, Prates conseguiu estabelecer uma imagem como um profissional técnico e uma figura de “moderação” aos olhos do mercado.

Com o tempo, as principais preocupações dos analistas em relação à administração da estatal pelo governo foram diminuindo, e as ações da empresa conseguiram se recuperar. Como mostramos nesta reportagem, a PETR4 teve alta de 115% no período em que o ex-senador esteve à frente do cargo de CEO.

Entretanto, nos últimos meses, a Petrobras enfrentou períodos de alta volatilidade devido a conflitos entre Prates e os ministros de Minas e Energia, Alexandre Silveira, e da Casa Civil, Rui Costa. A gestão também foi marcada pelo episódio da retenção dos dividendos extraordinários da empresa petrolífera.

Qual a visão do mercado sobre a mudança?

Os especialistas consultados pelo E-Investidor concordam: em termos de experiência e aptidão para o cargo, Magda Chambriard é uma escolha técnica. Contudo, há preocupações quanto à orientação política de seu mandato.

“O primeiro desafio que ela enfrentará é conquistar a confiança do mercado”, afirma Frederico Nobre, líder da análise da Warren Investimentos. “Chambriard tem uma abordagem mais voltada para o desenvolvimento, em consonância com o que o governo estava buscando para o novo presidente da Petrobras. Seu histórico é menos voltado para o mercado do que o de Prates, é mais ponderado e conseguiu adotar uma postura bastante interessante na empresa.”

Segundo apuração da Coluna do Estadão, a ex-diretora-geral da ANP se comprometeu a acelerar os projetos voltados para o mercado de gás e fertilizantes, demanda vista como prioritária pelo governo. Ela também apoia a retomada de projetos em refinarias, área de atuação defendida pelo presidente Lula com objetivo de aumentar a capacidade de produção de diesel.

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No entanto, os esforços do governo nessa linha de negócios são criticados pelo mercado financeiro por estarem fora do “core business” da empresa e pelos altos custos. “A construção de uma nova refinaria é orçada em R$ 4 bilhões, com uma taxa interna de retorno de 20% ao ano. Os custos aumentam devido a uma projeção subestimada de investimentos e desvios de recursos. No final, são investidos R$12 bilhões e a taxa de retorno é negativa”, afirma Flávio Conde, analista da Levante Investimentos.

A preocupação também se estende à demanda futura, quando os projetos estiverem consolidados, diante do movimento global de transição energética. Além disso, os projetos de baixo carbono, que possuem um orçamento de US$ 11,5 bilhões no atual plano estratégico da empresa, também devem ser avaliados com atenção redobrada pelos investidores.

O que deve acontecer com PETR3 e PETR4?

Os analistas apontam que o investidor deve ter calma e paciência. Ainda assim, quem tiver um grande apetite ao risco e não se importar com prováveis volatilidades em busca de lucros maiores, a ação da Petrobras pode ser atrativa.

Um levantamento realizado por Einar Rivero, da Elos Ayta Consultoria, a pedido do E-Investidor, aponta que as ações de PETR3 despencaram 10,46% desde o fechamento do dia 14 de maio – o dia da saída de Prates – até quinta-feira (23). Enquanto isso, PETR4 teve uma baixa de 9,93% no mesmo período.

Virgílio Lage, da Valor Investimentos, diz que o investidor deve ser mais cauteloso e só comprar a ação se ele não se importar com a volatilidade. Ele reforça que o ideal é esperar o mercado digerir a mudança no comando da estatal e ver qual será o destino da companhia na gestão de Chambriard. “Hoje as ações só estão atrativas para o investidor que busca ganhos com especulação. A questão de dividendos está muito incerta”, argumenta Lage.

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Para Vicente Falanga do Bradesco BBI e Ricardo França da Ágora Investimentos, o novo mandato será focado em usar a posição da Petrobras para desenvolver ainda mais a cadeia nacional de fornecimento de petróleo, possivelmente resultando em maiores investimentos. “Se o nosso diagnóstico estiver correto, as ações poderão se recuperar gradualmente, como em casos anteriores. Mantemos a recomendação de compra com preço-alvo de R$ 47”, afirmara. Trata-se de um potencial alta de 23% na comparação com o fechamento desta quinta (22), quando o papel encerrou o pregão a R$ 38,22.

Já para Pedro Soares, Thiago Duarte e Henrique Pérez do BTG Pactual, reiteram a recomendação de compra para as ações da Petrobras cotadas em Nova York, conhecidas como American Depositary Receipt (ADR). Eles estimam que a Petrobras deve pagar 14,4% do valor de sua ação em dividendos –o dividend yield – em 2024 e 10,9% do preço de seu ativo em dividendos em 2025.