As ações da Marcopolo(POMO4) desabam no pregão desta sexta-feira (31) após a companhia reportar um balanço com receitas abaixo do esperado pelo mercado. Ainda assim, os analistas recomendam compra para o papel, pois acreditam que o momento atual é somente reflexo do cenário macroeconômico. Por volta das 15h, as ações da Marcopolo recuavam 6,69%, a R$ 8,23.
Ontem, a companhia reportou lucro líquido de R$ 329,6 milhões no terceiro trimestre de 2025, queda de 1,8% na comparação com o mesmo período do ano passado. Para a Ágora Investimentos e Bradesco BBI, o número ficou dentro do esperado, com a receita sendo o principal destaque negativo do balanço.
“Tendemos a ver a perda de receita como a principal conclusão do trimestre, pois provavelmente levará a revisões para baixo nas previsões de receita para 2026. O déficit deveu-se principalmente a uma queda de 15% na receita do Brasil, abaixo da nossa estimativa de 19%, com desempenho particularmente fraco no segmento interurbano”, dizem Daniel Federle do Bradesco BBI e Wellington Lourenço da Ágora Investimentos.
A Marcopolo reportou uma receita operacional líquida de 2,5 bilhões no terceiro trimestre de 2025, alta de 8,2% na comparação com o mesmo ciclo do ano anterior. A administração atribuiu a desaceleração nas entregas às altas taxas de juros, já que as operadoras atrasam os investimentos enquanto esperam por taxas mais baixas no próximo ano.
Na visão da XP Investimentos, além da receita 7% abaixo do esperado pela corretora, a rentabilidade foi ofuscada por vários efeitos, como o impacto negativo (pontual e esperado) do lucro patrimonial do NFI Group, além de uma contribuição positiva relacionada ao Mover.
A corretora atribui a queda do dia porque os resultados da Marcopolo não atenderam às altas expectativas embutidas pelo mercado em sua tese de investimento. Os analistas acreditam que a sazonalidade de curto prazo, o mix de produtos, as exportações e as operações externas devem continuar a apoiar um desempenho operacional saudável.
“Dito isso, esperamos que a receita abaixo do que o esperado de hoje contribua com as preocupações dos investidores sobre uma possível desaceleração do ciclo em 2026”, afirmam Lucas Laghi, Fernanda Urbano e Guilherme Nippes, que assinam o relatório da XP.
Já o BTG Pactual diz que ficou decepcionado com a rentabilidade, medida pela margem Ebitda, que ficou em 16,8% no terceiro trimestre de 2025, baixa de 3,3 pontos porcentuais na base anual. “Acreditamos que, em parte, isso se deveu a uma composição pior dos volumes. Entretanto, os resultados no acumulado de 2025 trouxeram uma surpresa positiva exatamente nesse ponto — uma sólida margem de 19,6% (ajustada pela baixa contábil da NFI)”, explicam Lucas Marquiori, Fernanda Recchia e Samuel Alkmim, que assinam o relatório do BTG.
O Lucro Antes de Juros, Impostos, Depreciação e Amortização (Ebitda, na sigla em inglês) foi de R$ 419,8 milhões, baixa de 9,9% na comparação com o mesmo período do ano passado. Esse é outro fator para a queda dos ativos.
O que esperar da ação da Marcopolo?
Apesar dos problemas, o BTG lembra que a carteira de encomendas de ônibus rodoviários no 4º trimestre de 2025 permanece robusta, sustentando volumes de produção estáveis. O segmento de ônibus urbanos continua a crescer sequencialmente, com os modelos articulados mais pesados recuperando relevância. Um novo processo de licitação do Caminho da Escola é esperado no 4º trimestre de 2025 (embora acreditemos que os volumes potenciais tenham passado de cerca de 10 mil para 7,5 mil).
As perspectivas do BTG para a exportação do Brasil permanecem positivas, especialmente para o Chile, Argentina e Peru. A operação australiana também deve se beneficiar de uma sólida carteira de produtos de alto valor agregado, incluindo modelos elétricos, reforçando a perspectiva positiva para 2026, segundo o banco.
“Considerando a sazonalidade usual do negócio, as entregas em outubro e novembro devem permanecer fortes, com uma composição favorável, antes de esfriarem em dezembro devido ao período de férias coletivas, que deve se estender até o início de janeiro de 2026, em linha com os fabricantes de chassis de ônibus”, reforçam os analistas.
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Sendo assim, o BTG manteve sua recomendação de compra para a ação POMO4 com preço-alvo de R$ 12 para os próximos 12 meses, alta de 36% na comparação com o último fechamento. O banco estima que em 2026, a atenção do mercado deve se voltar para as tendências de crescimento, a composição do mix de transporte e as perspectivas para as entregas de transporte de passageiros e veículos elétricos e programas governamentais.
A Ágora Investimentos continua indicando compra com preço-alvo de R$ 12 para os próximos 12 meses, crescimento de 36% na comparação com o fechamento de ontem. A corretora diz que a inclusão de ganhos de hedge cambial no Ebitda tornaria a margem ainda mais significativa. Por isso, eles recomendam compra, mas enxergam algumas dificuldades.
“Dito isso, com a valorização do real, as restrições de capacidade na Austrália e um cenário macro incerto na Argentina, não esperamos que o consenso revise materialmente as estimativas de receita externa ou margem Ebitda para cima”, argumenta a corretora.
A XP reiterou sua recomendação de compra para o Marcopolo (POMO4) devido ao preço que ele é negociado. Os analistas recomendam compra com preço-alvo de R$ 11,50 para os próximos 12 meses, avanço de 30,38% em relação ao último fechamento. “Em suma, negociando a um Preço sobre Lucro (P/L) de 2026 de 7,1 vezes, continuamos a ver níveis de valuation atraentes, reiterando nossa recomendação de compra”, argumentam os especialistas da XP.