O que este conteúdo fez por você?
- A decisão do Banco Central do Japão em elevar os juros para o patamar de 0,25% surpreendeu os investidores internacionais por adotar uma postura mais restritiva do que o esperado
- A situação ficou ainda pior com os dados do relatório de empregos dos EUA que sinalizaram uma possível recessão econômica no país
- Todo esse cenário adicionou um temor global com os investidores fugindo de ativos de risco e buscando proteção em meio a um ambiente econômico desfavorável
A decisão do Banco Central do Japão em elevar os juros para o patamar de 0,25% na última quarta-feira (31) trouxe pessimismo para os mercados globais e consequências para o Ibovespa hoje. A medida para contornar a deflação no país resulta na busca dos investidores por ativos de menor risco e reduz a atratividade de mercados emergentes, como o Brasil
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Sem o capital estrangeiro, a recuperação do principal índice da B3, que acumula uma desvalorização de 7% no ano, fica ainda mais difícil de ocorrer no curto prazo.
Desde o primeiro pregão de agosto, o índice Nikkei 225 – que reúne as principais companhias listadas na bolsa de valores de Tóquio – encerra as negociações com perdas. A maior queda aconteceu na madrugada desta segunda-feira (5), quando o índice encerrou o pregão com uma desvalorização de 12,40%, o pior desempenho desde 1987. A reação negativa reflete a surpresa do mercado com o BC japonês ao adotar uma política monetária mais restritiva. Além de elevar os juros, a autoridade asiática sinalizou a possibilidade de novos aumentos nos próximos meses.
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“O mercado acionário japonês é muito dependente de empresas exportadoras. Com a alta e a inesperada valorização do yen, as exportações japonesas tornam-se menos competitivas. Por exemplo, as ações da Toyota caíram 4,2% (na sexta-feira) refletindo essa preocupação”, diz Marcelo Cabral, CEO da Straton Capital, gestora de investimentos internacional.
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O receio obriga os investidores a ficarem mais cautelosos e, por consequência, cria uma fuga de capital dos ativos de riscos, enquanto o ambiente econômico permanece desfavorável. Em paralelo, as bolsas também reagem aos dados do relatório de empregos dos Estados Unidos (payroll), que foram divulgados na última sexta-feira (2) e vieram abaixo do esperado, com 114 mil empregos criados no mês passado.
“No caso específico da B3, podemos ver uma aversão ao risco aumentada, levando a uma venda generalizada de ativos e à retirada de capital estrangeiro. Isso pode resultar em quedas nos principais índices brasileiros, como o próprio Ibovespa”, diz Sidney Lima, analista da gestora Ouro Preto Investimentos.
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A boa notícia é que os números reforçam a necessidade de uma queda de juros nos Estados Unidos em setembro, como o mercado deseja. Por outro lado, essa expectativa pode não ser suficiente para tornar o mercado brasileiro atrativo para os investidores estrangeiros no curto prazo. “O dado do payroll se torna relevante porque indica que o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) pode ter perdido o timing de baixar os juros americanos”, avalia Eduardo Grübler, gestor de multimercados da AMW. O conflito no Oriente Médio também aumenta a preocupação dos agentes de mercado, visto que a tensão geopolítica na região pode impactar no preço de algumas commodities.
Todo esse contexto deve impedir que agosto dê continuidade ao fluxo positivo do capital estrangeiro em direção ao Brasil. Segundo dados mais atualizados da B3, até o momento, a aversão a risco motivou a retirada de R$ 584 milhões apenas no dia primeiro de agosto. O resultado vai na contramão do fluxo de capital estrangeiro registrado em julho, que registrou uma captação líquida (diferença entre entrada e saída) de R$ 7,3 bilhões, o único período a ter um saldo positivo em 2024.
Em agosto, assim como as bolsas internacionais, o Ibovespa acumula perdas de 2,56% durante o mês. A desvalorização fez com que o desempenho do principal índice da B3 ampliasse as suas perdas no acumulado do ano que agora alcançaram o patamar de 7,31%. Em julho, o IBOV encerrou com o mês com uma alta de 3% e mantinha um queda de 5% em 2024.
Fuga do capital estrangeiro em 2024
A situação nos mercados globais só reforça a mensagem que os brasileiros já tinham há alguns meses: o Brasil não é o destino preferido dos gringos. Segundo dados da B3, os gringos retiraram R$ 32 bilhões de janeiro até o dia 1º de agosto. Se o pessimismo persistir entre no mercado internacional, a tendência é que a debandada continue. Mas antes de presenciarmos o caos que as bolsas globais enfrentam nos primeiros dias de agosto, outros motivos foram responsáveis por afastar os gringos do Brasil.
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O primeiro deles é o patamar dos juros dos EUA, há mais de um ano no intervalo de 5,25% a 5,50% . Dado a esse patamar, o fluxo do capital tende a ir em direção aos títulos soberanos norte-americano devido ao seu baixo risco e alto retorno. Os riscos fiscais com a mudança das metas dos próximos anos, realizada pelo governo em abril, e ausência de ações de controle de gastos também ajudaram o mercado brasileiro a perder espaço na carteira dos investidores estrangeiros.
A situação, além de interromper a sequência de corte de juros da Selic, aumentou a chances de uma retomada de um ciclo de aperto monetário no Brasil diante das expectativas de alta da inflação para os próximos anos. Com o risco fiscal no radar, outros países emergentes ganham espaço no cenário internacional em detrimento do Brasil.
A Índia é um deles. Como mostramos nesta reportagem, Relatório do Centro de Investigação Económica e Empresarial (CEBR, na sigla em inglês), publicado em dezembro do ano passado, mostra que as estimativas apontam para um crescimento médio de 6,5% da economia indiana até 2028. A título de comparação, as projeções para o Brasil falam em crescimento anual médio de 1,9% durante o mesmo período, conforme os dados do CEBR. Ou seja, nesse ritmo, a Índia tem chances de ultrapassar o Japão e a Alemanha e conseguir ficar atrás apenas da economia dos Estados Unidos e da China até 2032.
Se não houver iniciativas que reforçam o comprometimento do governo em equilibrar as contas públicas, a esperança de uma recuperação do Ibovespa se ancora na temporada de balanços das companhias brasileiras. O balanço da Petrobras (PETR3; PETR4), previsto para ser divulgado no dia 8 de agosto, é um dos mais aguardados pelo mercado.
No fim de julho, a petroleira divulgou o seu relatório de produção e vendas que deu sinais do que esperar do balanço corporativo da estatal. Como mostramos nesta reportagem, os analistas acreditam que a companhia pode entregar um lucro em linha com as expectativas do mercado após reportar uma alta de 2,4% na produção de barris diários (boed) de óleo em relação ao mesmo período de 2023. Os balanços dos bancos, como Itaú Unibanco (ITUB3; ITUB4), de seguradoras, como BB Seguridade (BBSE3), também estão entre os mais aguardados pelos investidores e com o maior potencial de influenciar no direcionamento da Bolsa.
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