O decreto eleva a alíquota da CSLL das instituições de pagamentos de 9% para 15%. Estão nessa categoria Pagbank e Stone. As empresas financeiras de crédito ao consumidor terão um aumento da alíquota de 15% para 20% e bolsas de valores e demais corretoras terão a alíquota elevada de 9% para 15%. Os demais segmentos, como bancos e seguradoras, terão a alíquota mantidas, respectivamente, em 15% e 20%.
João Abdouni, analista da Levante Inside Corp, estima que as mais impactadas serão PagBank e Stone. Segundo ele, as empresas teriam a elevação de 6 pontos porcentuais da alíquota, o que pesaria fortemente sobre o lucro delas. Já o Itaú BBA calcula um impacto menor nas empresas de pagamentos, com a queda no lucro da PagSeguro em 4% e da Stone em 3%. Os analistas estimam que as empresas possuem um espaço maior para repassar preços e manter um pouco mais de margem de ganhos. No entanto, essas não são as únicas empresas no centro do debate.
B3, XP e Nubank são as maiores impactadas pela MP de Lula
Na visão dos analistas do JPMorgan, a medida pode ser vista como negativa e gerar um recuo de 7% a 8% no lucro da B3 (B3SA3). Essa queda no lucro é calculada assumindo que não haja repasse do imposto via preços para os clientes ou outras medidas para compensação da nova taxa, que para companhia deve subir de 9% para 15%. O Itaú BBA tem a mesma estimativa para a empresa, com redução de 7% no lucro devido ao novo imposto.
O consenso dos bancos é que a B3 não deve optar por fazer o repasse de preços devido a potenciais concorrentes da companhia, como a própria listagem no mercado internacional, que passou a ser uma verdadeira pedra no caminho da empresa. Isso porque companhias brasileiras começaram a procurar a Bolsa americana por ter mais volume e ganhos de mercado. O caso mais recente foi o da JBS.
Outra empresa a ser impactada será a XP (XPBR34). Os analistas calculam que a companhia terá uma redução de 10% no seu lucro líquido. Conforme o Itaú BBA, a empresa será impactada por operar fundos no exterior, que terão a alíquota elevada de 15% para 25%. Isso significa que empresas que operam por meio de fundos fora do Brasil verão um aumento na tributação sobre a renda.
“Isso inclui principalmente a XP, que utiliza esses fundos (também conhecidos como Coliseu) como contraparte para operações locais. Aproximadamente dois terços dos lucros antes dos tributos (EBT) da XP vêm desses veículos. É claro que esse assunto e suas interpretações ainda podem mudar, mas isso pode gerar um impacto de cerca de 10% no lucro líquido da XP”, dizem Pedro Leduc, William Barranjard e Mateus Raffaelli, que assinam o relatório do BBA.
Há também outras companhias com reduções significativas no lucro por causa dessas medidas. O JPMorgan estima que o Nubank (ROXO34) pode apresentar queda entre 5% e 7% do lucro. “O Nubank também deve ser afetado, pois a alíquota de imposto para sua entidade financeira no Brasil, somando Imposto de Renda Pessoa Jurídica e CSLL, vai passar dos 40% para 45%, lembrando que o Inter paga a alíquota maior, portanto sem grande impacto”, explicam Yuri Fernandes, Guilherme Grespan, Fernanda Sayao e Marlon Medina, que assinam o relatório do JPMorgan. Já o Itaú BBA calcula que o Nubank deve apresentar queda de 6% do lucro pelos mesmos motivos.
IOF vai impactar bancos e seguradoras por previdência?
Há também mudanças na previdência privada, relacionada ao Vida Gerador de Benefício Livre (VGBL). Segundo o decreto, até 31 de dezembro de 2025, o IOF nos aportes em VGBL incidirá somente sobre o valor que exceder R$ 300 mil, considerados a partir da data de entrada em vigor do decreto e em uma mesma seguradora.
A partir de 1º de janeiro de 2026, o IOF de 5% nos aportes em VGBL começaria a incidir sobre o valor que exceder R$ 600 mil, independentemente de terem sido depositados em uma ou várias instituições. No fim do dia, a medida eleva a alíquota de 3% para 5% para valores acima de R$ 600 mil e isenta patrimônios abaixo dessa quantia.
Hulisses Dias, especialista em finanças e investimentos e sócio da Beginity Capital, explica que entre os bancos, o Banco do Brasil (BBAS3) tende a ser o mais impactado. Isso ocorre porque ele detém uma participação majoritária na BB Seguridade, a qual é altamente exposta a produtos de previdência e seguros de vida — segmentos diretamente afetados pela nova taxação.
“O impacto esperado no lucro da BB Seguridade (BBSE3) pode chegar a 5% a 8% ao ano, especialmente se a companhia não conseguir repassar o IOF integralmente ao cliente. Isso implicaria em uma redução estimada de até 0,7 ponto percentual no rendimento em dividendos da BB Seguridade (dividend yield), levando-o de cerca de 9,5% para 8,8%”, calcula Dias. Ainda entre as seguradoras, a Caixa Seguridade (CXSE3) tem perfil semelhante, com alta exposição à previdência. A redução no lucro pode variar entre 4% e 6%, com uma possível queda no dividend yield de 9,2% para 8,6%.
Como devem ficar os dividendos dos bancos?
Já o Bradesco também deve sentir os impactos da mudança, pois a companhia possui uma das maiores operações de seguros do País, especialmente em vida e previdência. A Bradesco Seguros reportou lucro de R$ 2,4 bilhões no primeiro trimestre de 2025, equivalente a 40,9% do lucro total do grupo, que foi de R$ 5,86 bilhões no primeiro trimestre de 2024.
“A nova alíquota de IOF pode comprimir a rentabilidade dos segmentos de seguros e previdência, afetando indiretamente o lucro consolidado dos bancos — principalmente para aqueles com maior dependência dessas receitas. Por isso, estimamos um retorno em dividendos de 9,5% para BB, 6,8% para Bradesco, rendimento de 6,2% em dividendos do Itaú e 7% para o Santander”, argumenta o sócio da Beginity Capital.
João Abdouni, analista da Levante Inside Corp, diz que, embora os grandes bancos tenham operações de seguros, o impacto deve ser limitado, visto que o IOF sobre previdência tende a não ser tão agressivo quanto o CSLL para os demais concorrentes. A mudança do CSLL afeta concorrentes diretos, como o Nubank, já as questões de seguros e previdência afetam todo o setor.
Ou seja, há espaço para repasse de preços no segmento de previdência e ganhos com equalização da competitividade com concorrentes que pagavam menos impostos. “A relação dessas mudanças não deve alterar significativamente os dividendos, sendo o dividend yield esperado de BBAS3 de 9%. ITUB4 com 7%, SANB11 com 7,5% e BBDC4com 8%”, explica Abdouni.
Como os bancos tradicionais são os beneficiados pela medida, os analistas preferem ações desses bancos. Hulisses Dias recomenda a compra para a ação do Banco do Brasil pelo fato de a estatal apresentar o maior rendimento em dividendos. Ele acredita que o papel está atraente pelo desconto apresentado, mesmo diante das incertezas sobre o agronegócio.
Já Abdouni, da Levante, prefere o Itaú (ITUB4) pelo menor risco que o banco apresenta, mesmo com a companhia pagando o menor dividendo entre os quatro. Bradesco e Santander não são cotados pelos analistas devido aos dividendos medianos e o momento de recuperação que as companhias vivem, reduzindo os possíveis ganhos de competitividade com a nova MP de Lula.