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“Brasil está apanhando na sua imagem internacional”, diz João de Nagy

Na visão do CEO, é boa hora para atrair investimentos, mas problema do País é a 'falta de relações públicas'

“Brasil está apanhando na sua imagem internacional”, diz João de Nagy
João de Nagy em cima de fusca, fotografado dentro do maior salão do complexo WTC (FOTO:Claudio Gatti)
  • Segundo dados da FecomercioSP, o segmento perdeu o equivalente a R$ 51,5 milhões em faturamento.
  • Para Nagy, as plataformas como Hotel Urbano e Trivago mais atrapalham do que ajudam.
  • Na opinião do CEO, a pandemia iria durar no máximo 40 dias, “Se soubesse que a levaria tanto tempo, teria tomado decisões diferentes”

Os setores de turismo e hotelaria, juntamente com as companhias aéreas, foram os mais impactados pela crise provocada pela covid-19. Segundo levantamento feito pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), o segmento perdeu o equivalente a R$ 51,5 milhões em faturamento durante a pandemia. Os dados também levam em conta as áreas de transporte e de atividades culturais, recreativas e esportivas.

João de Nagy, CEO do ITC Hotelaria – WTC Events e Sheraton São Paulo, acreditava que a crise gerada pela pandemia duraria apenas 40 dias. ”Se soubesse que essa levaria tanto tempo, teria tomado decisões diferentes”, diz Nagy.

Quem passa pela Marginal Pinheiros, em São Paulo, já deve ter reparado no grande complexo, conhecido por WTC Events, na altura da Ponte Estaiada. Com 12 mil m², o espaço conta com hotel, restaurante e centro de convenções, entre outros serviços.

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Um dos maiores impactos da pandemia, segundo Nagy, é o fato de que os colaboradores de alto poder de decisão nas empresas estão se mudando para casas fora da cidade e até mesmo do país. “Essa mudança de hábito fará com que esse tipo de executivo viaje apenas quando realmente precise. O movimento vai reduzir as reuniões individuais e viagens em geral”, diz Nagy.

Na opinião do CEO, a retomada do setor já está acontecendo. ”O primeiro a voltar será o turismo de lazer para a costa do país. Depois, os eventos, que vão voltar ainda esse ano, mas não com força total e, por fim, as viagens individuais de negócios”, conta.

Veja os principais trechos da entrevista:

E-Investidor: Como foi a pandemia para o WTC Events/Sheraton?

João de Nagy – A pandemia foi um desastre para o nosso segmento de viagens corporativas, não só para nós, em São Paulo, mas para o mundo inteiro. De fato, aqui vemos que todo mundo cometeu erros. Os dirigentes os fizeram e, nós, como empresários, também cometemos. Eu mesmo, se soubesse que a pandemia levaria tanto tempo, teria tomado decisões diferentes.

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Quando a pandemia começou, imaginei que fosse uma coisa de 30 a 40 dias. Jamais pensei que fosse durar mais de 12 meses. Foi um ano que, de início, indicava que tudo correria bem. Nós tínhamos projetado uma meta bem ambiciosa para 2020, e até março parecia que conseguiríamos atingí-la.

Porém, ao contrário de um bom lucro, o ano nos trouxe um grande prejuízo.

E-Investidor: A recuperação será em 2021? Por quê?

Todo mundo acreditava que o prazo da retomada iria acontecer no segundo semestre de 2020. Depois, no final de 2020. Em seguida, no início de 2021 e, agora, se fala no final de 2021 ou no início de 2022.

As viagens de negócios mudaram seu perfil consideravelmente, uma vez que as tecnologias como Zoom, que já existiam, passaram a ser utilizadas com mais afinco. Antes, as pessoas mais idosas nos cargos de direção não estavam habituadas a usá-las.

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Agora, com a pandemia, fomos todos forçados a lidar com essas ferramentas e vimos que trazem uma economia de tempo muito grande. Pode-se trabalhar de qualquer lugar e pode-se, inclusive, contratar funcionários, não importa onde estejam. Essas ferramentas vão trazer outros hábitos e essas práticas vão reduzir as viagens individuais de negócios para contato com quem você já conhece.

Há uma grande demanda reprimida para os destinos de sol e praia, por isso, talvez esses locais contem com uma retomada mais rápida. Depois, vai haver uma retomada para eventos, especialmente de negócios, porque há uma necessidade de realizar novos contatos. E, por fim, a retomada de viagens de negócios menores, o que só deverá acontecer no final de 2022.

E-Investidor: O que os investidores do setor de turismo e hotelaria podem esperar de 2021?

Prejuízo! Acredito que o ano vai começar com prejuízo, fora alguns casos muito específicos, como por exemplo, destinos próximos às plataformas de petróleo, onde a necessidade de operação faz com que as coisas aconteçam. Mas, de modo geral, na minha visão, vamos ter prejuízo porque, infelizmente, o setor é muito ligado ao desconto. Em um momento de crise, ao invés de preservar o pequeno tráfego que existe com uma tarifa normal, baixa-se o preço, o que acaba afetando o valor operacional.

Infelizmente, alguns operadores e alguns dos estabelecimentos que hoje são hotéis, talvez acabem não voltando a atuar no segmento porque não aguentaram a falta de caixa.

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Contudo, isso também trará oportunidades para novos investidores. Nós mesmos, aqui no WTC, estamos administrando um investimento grande na França, e para minha surpresa, há grandes fundos interessados no projeto.

E-Investidor: O setor de turismo e hotelaria foi um dos mais impactados pela pandemia. Como o WTC events conseguiu equilibrar as contas?

Não conseguiu, assim como todos os outros, nós também tivemos prejuízo. Conseguimos reduzir as despesas consideravelmente e já tínhamos uma operação bastante terceirizada, o que nos ajudou a dividir o prejuízo com os nossos colegas.

O hotel operou o tempo todo e, infelizmente, com uma ocupação muito baixa. Já no centro de eventos, nós começamos a trabalhar com eventos híbridos. Hoje somos, sem dúvida, o espaço que mais estúdios têm para atendimento de eventos digitais e híbridos.

E-Investidor: Qual a sua opinião sobre as plataformas de reservas, como Trivago e Hotel Urbano? Elas ajudam ou atrapalham?

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Para os clientes elas ajudam muito, mas são um aborto da relação comercial em geral. Para o meu tipo de hotel, que é o corporativo, elas não representam 5% do nosso faturamento. O público não se dá conta que elas mais o atrapalham, embora, aparentemente, ofereçam uma grande vantagem.

Para se ter uma ideia, antigamente, o agente de viagem que você visitava fisicamente e era realmente um consultor para a sua viagem, recebia em média 10% dos serviços que vendia. Essas plataformas chegam a ganhar 30%.

No mundo inteiro o digital trouxe uma margem menor para quem era o intermediário. O setor, por sua fraqueza de não ter encontrado uma resposta, permitiu que essas empresas operassem com uma margem excessiva, o que, na verdade, está aumentando os preços, e não reduzindo.

E-Investidor: É um bom momento para investir no setor no Brasil?

É um setor para quem tem condições econômicas e um bom parceiro que entenda onde investir. Certamente haverá boas oportunidades de compra, seja de ativos ou de talentos.

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Então, para alguém que tem a assessoria adequada, o Brasil oferece um potencial turístico enorme, e que ainda conta com muito espaço para crescer. Você tem viagens de negócios juntamente com a área de eventos, que eu acredito muito, e também tem o lazer, que possui uma aptidão muito grande. Por exemplo, o estado de São Paulo é o que mais exporta turismo de luxo para fora, certamente mais que o resto do Brasil.

E-Investidor: Quais são os benefícios de quem aposta no investimento no setor?

O setor tem um potencial muito grande lá fora e já está maduro, então tem muitas coisas para serem copiadas e importadas para o Brasil. É um setor que não polui. Você vê as pessoas estão buscando ter uma jardim, ter uma área maior em sua casa. É uma indústria sem chaminé, ou seja, não degrada o meio ambiente, e na realidade é um setor que só vinha crescendo, e agora foi um dos mais afetados, o que pode eventualmente assustar alguns investidores

E-Investidor: Quais são os próximos planos do grupo ITC Hotelaria – WTC Events e Sheraton São Paulo?

O WTC em si é um produto muito específico. É um complexo multiuso sem igual na América do Sul. Nós temos lá dentro o D&D, que é um shopping de decoração, temos uma torre de escritórios com heliporto, 22 opções gastronômicas, farmácia, ginástica e tudo que você precisa em um só lugar.

Isso acaba sendo uma vantagem também para os hóspedes do hotel, porque normalmente tem-se um ou dois restaurantes, no máximo, e aqui você encontra inúmeros e com a facilidade de assinar a conta que chegará direto no seu quarto.

Nós temos a ideia de, cada vez mais, fortalecer esse estilo de qualidade de vida e valorizar o que já temos.

E-Investidor: Qual o futuro dos eventos corporativos para este ano de 2021?

A demanda reprimida para eventos corporativos. Estamos falando de eventos de 300 pessoas para cima. É enorme porque as pessoas precisam se encontrar e você, muitas vezes, não consegue vender uma imagem simplesmente por meio de um evento digital.

O híbrido vai continuar a ganhar forças, especialmente enquanto a vacinação acontece. Depois, terá ainda mais força quando as pessoas ganharem confiança para viajar, em um primeiro momento de forma regional, depois nacional e, então, internacional.

E-Investidor: As incertezas com o risco fiscal não acabaram no dia 31 de dezembro.
Mesmo em uma fase melhor para o mercado financeiro, ainda há dificuldade de atrair investimento estrangeiro. Como esse risco fiscal pode afastar o capital estrangeiro no país?

O risco fiscal não acomete apenas o Brasil. Hoje, nosso país tem uma grande vantagem: o câmbio, que está nos índices mais altos. Essa diferença cambial torna-se uma grande oportunidade, que pode cobrir o problema fiscal para o investidor estrangeiro.

É um excelente momento para atrairmos investimento de fora. O estado de São Paulo, por exemplo, está fazendo vários roadshows para trazer investimentos internacionais. É o momento certo para isso, porque com a taxa de dólar a R$ 5, o euro acima de R$ 6 e o mercado debilitado do Brasil, oferecemos oportunidades que ultrapassam qualquer risco fiscal que exista.

E-Investidor: O que é necessário para destravar isso? Como dar tranquilidade para o mercado não olhar para o Brasil com desconfiança?

O problema do Brasil é a falta de relações públicas. Talvez tenhamos hoje um dos piores Itamaraty da história. Um chanceler que realmente não se relaciona com o resto do mundo e distancia o nosso país dos demais.

O Brasil está apanhando muito na sua imagem internacional por não conseguir responder a altura. Isso é um problema maior do que os outros.

Infelizmente, essa disputa pela eleição presidencial de 2022 está tirando o foco de coisas que são necessárias nesse momento.

E-Investidor: Esse risco pode afetar o seu setor?

Atrasa tudo, porque a imagem do Brasil sofre muito lá fora. Essa falta de preocupação com a imagem prejudica, pois as pessoas querem viajar para um país bonito, agradável e seguro. Essa não é a imagem que estamos passando.

Já o risco fiscal não é o maior dos problemas. A questão é que nós pagamos muito imposto para recebermos poucos serviços. Precisa haver uma redução do custo do governo enorme, e isso ainda não está sendo feito. Há várias propostas, mas esses projetos precisam ser encarados de frente para que o Brasil se torne mais competitivo.

Nosso país tem um custo de operação muito cara e acaba cobrando não só impostos muito altos, mas também uma forma de cobrar esses tributos muito confusa. Não há um imposto único, há muitas interpretações desses impostos e isso cria também um custo para as empresas os administrarem.

E-Investidor: O setor aéreo foi um dos mais afetados pela crise no Brasil e o prejuízo foi superior a R$ 15 bilhões. O seu segmento está totalmente relacionado com as aéreas. Como o pior momento desse setor afetou o seu negócio?

Eu acho que as aéreas foram uma das mais beneficiadas, não só no Brasil, como no resto do mundo. Se você se lembra bem, um dos primeiros setores que foram ajudados pelo governo brasileiro foi o setor das aéreas.

Essas empresas receberam uma ajuda enorme, maior que o setor de hotelaria. Na realidade, estamos todos ligados aos eventos, mas elas foram beneficiadas e não tiveram tanta restrição como tiveram outros segmentos, considerados primários em quesitos de necessidade.

Obviamente, a retomada será para todo mundo, e seria bom que o governo, de alguma forma, ajudasse em algum momento os hotéis, centros de eventos ou organizadores para sobreviverem. Se não houver eventos, ou seja, a criação de necessidade de viagens, as companhias aéreas terão dificuldades de voltar aos patamares de antes, porque as pessoas viajam por algum motivo, e se não o encontram, deixam de viajar.

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