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Mercado volátil exige postura estratégica do investidor; veja o que fazer neste momento

Veja o que fazer agora: semana começou com a bolsa do Japão desabando 12,4% e aversão a risco generalizada

Mercado volátil exige postura estratégica do investidor; veja o que fazer neste momento
A alta dos juros no Japão e risco de recessão nos EUA trouxeram temor nos mercados globais (Foto: Envato Elements)
  • Agosto começou amargo para os mercados financeiros globais. A queda histórica de 12,4% na Bolsa do Japão nesta segunda-feira (5) instalou o pânico de vez entre os investidores
  • Além das preocupações com a possível desaceleração na economia norte-americana, uma subida de juros inesperada pelo Banco Central japonês pegou de surpresa os agentes financeiros e provocou um forte movimento de reversão de “carry trades”
  • A pior coisa que um investidor pode fazer em um momento de pânico dos mercados, é materializar esse desespero na carteira de investimentos. Ou seja, sair vendendo os ativos de risco, sem estratégia

Agosto começou cheio de altos e baixos para os mercados financeiros globais. Em apenas dois dias, as bolsas do mundo passaram de um estado de pânico para uma relativa normalidade – a Bolsa do Japão reflete tal volatilidade: iniciou a semana com queda de mais de 12% para, um dia depois, fechar com alta de 10%. Tamanha variação faz investidores vislumbrarem tanto supostas oportunidades quanto uma eventual crise à frente e ambos os cenários levantam questões sobre o que fazer com os investimentos.

O início das especulações ocorreu na semana passada, com dados do emprego nos Estados Unidos que vieram mais fracos do que o esperado. A preocupação era de que uma recessão estivesse se avizinhando na principal economia do mundo. Contudo, foi a queda histórica de 12,4% na Bolsa do Japão nesta segunda-feira (5) que instalou o pânico de vez. Além dos temores com a possível desaceleração na economia norte-americana, uma subida de juros inesperada pelo Banco Central japonês pegou de surpresa os agentes financeiros e provocou um forte movimento de reversão de “carry trades”.

Nessa operações, fundos de investimento pegavam empréstimos com o Japão e investiam o dinheiro em outros países com taxas mais altas, para ganhar no diferencial de juros. Agora, com a alta anunciadas pelo Banco Central japonês, esse tipo de movimento pode não mais fazer sentido. A extensão dos efeitos dessa situação ainda não está totalmente clara.

Se antes eram “só” os EUA o foco das apreensões, na última segunda (5), o drama do país asiático ganhou os holofotes. E quando há um aumento relevante de incertezas, dois movimentos são amplamente esperados: a queda das bolsas e corrida para o dólar, em busca de proteção. “Essa combinação criou uma “tempestade perfeita” de pessimismo, resultando em uma aversão global ao risco e vendas generalizadas nos mercados”, afirma Marlon Glaciano, planejador financeiro e especialista em finanças.

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Neste início de semana, as bolsas da Europa e dos Estados Unidos fecharam com quedas substanciais, superiores a 2%. O Ibovespa chegou a cair 2% durante o dia, mas se recuperou e terminou uma sessão com uma leve baixa de 0,46%, aos 125,2 mil. O dólar subiu 0,56% sobre o real, enquanto as criptomoedas afundaram em meio ao “crash”.

“A bolsa brasileira não sentiu o impacto na mesma proporção. Na parte da manhã, operava em baixa, mas muito menor do que a bolsa japonesa. Fechou o dia com a queda de 0,46% reforçando a teoria de que a bolsa brasileira está barata, e que momentos de baixa são, via de regra, menores que nas bolsas do restante do mundo”, afirma Felipe Martins Passero, especialista em investimentos.

Hoje, entretanto, o cenário já mudou. A Bolsa do Japão subiu mais de 10%  – e todo o caos observado no dia anterior parece ter se dissipado no ar. Até às 12h53, os principais índices americanos, S&P 500, Dow Jones e Nasdaq, subiam 1,61%, 1,1% e 1,65%, respectivamente. O Ibovespa, por sua vez, apresentava leve alta de 0,3%, aos 125,6 mil.

Ainda assim, os especialistas ressaltam que a volatilidade de ontem pode ter sido exagerada, mas não totalmente infundada. Isto porque uma recessão nos EUA pode impactar o Brasil, principalmente em relação às commodities. Passero aponta que, hoje, a maior parte das empresas listadas na bolsa brasileira são exportadoras, isto é, o País está em um momento em que o setor externo tem o maior peso no Produto Interno Bruto (PIB). Uma desaceleração americana, junto com um aumento das tensões no Oriente Médio, pode significar, por exemplo, uma queda nos preços do petróleo.

“E hoje somos muito mais dependentes do preço do petróleo que há dez anos. O impacto do petróleo nas contas públicas hoje é mais de dez vezes maior que o que era há 10 anos”, diz Passero.

Essa também é a visão compartilhada por Diego Faust, operador de renda variável da Manchester Investimentos. “Uma recessão nos Estados Unidos significa basicamente um freio no principal motor da economia global e isso a gente já começa a ver, por exemplo, com as commodities caindo com bastante força”, afirma.

O que fazer: não mexa nos investimentos se não tiver estratégia

A pior coisa que um investidor pode fazer em um momento de pânico dos mercados é materializar esse desespero na carteira de investimentos. Ou seja, sair vendendo os ativos de risco, sem estratégia, não é uma boa saída em meio à crise. Para os especialistas consultados pelo E-Investidor, o momento é de observação – ou seja, de esperar para entender o que virá à frente. A rápida recuperação dos mercados nesta terça (6) expõe a necessidade de cautela em situações de grande volatilidade.

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“Nessas horas de confusão, em que o mercado está em pânico, você não faz nada”, afirma Fernando Bresciani, analista de investimentos do Andbank. “Para mim, foi exagerado e tem que ter mais notícias, mais movimentos, para tomar decisões.”

Leia mais: Reação de mercado por temor de recessão nos EUA é exagerada, diz CEO do Bradesco

Faust, da Manchester Investimentos, aponta que o investidor que tem uma carteira bem diversificada e balanceada não deve fazer nenhum movimento brusco. O ideal é sempre seguir o que foi planejado, até porque “cisnes negros” (eventos de grande impacto) acontecem e não há como prevê-los.

“É o momento de aguardar um pouco, ver para qual lado que o mercado vai acabar indo e tomar as decisões sempre olhando para o médio e para o longo prazo. Sem tentar acertar o que vai acontecer na próxima semana”, diz Faust. O especialista ressalta que, apesar de todo o movimento global, não houve ativos despencando no Brasil.

As oportunidades, para Faust, seguem as mesmas – em papéis de grandes empresas que já estavam descontadas, como Vale (VALE3), Bradesco (BBDC4) e Cosan (CSAN3). Contudo, para realizar qualquer compra, o investidor precise entender se isso faz sentido para a carteira a estratégia de longo prazo e para o perfil de risco.

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Leandro Ormond, analista da Aware Investments, também aposta no “básico”. “As melhores oportunidades se apresentam em ações de empresas com bons fundamentos, que estejam sendo negociadas com preços descontados”, diz. “Geralmente num dia como a segunda (5), é necessário manter a calma e a prudência, para não se realizar prejuízo.”

Passero, por sua vez, afirma que os que pretendem utilizar esse “crash” para se movimentar uma boa estratégia é a de “rebalanceamento periódico”. Isso significa aumentar a participação nos ativos que caíram muito de preço, apenas para se manter dentro do perfil de risco.

“Cada investidor deve tomar uma atitude conforme seu perfil, planejamento e objetivos. Não sabemos se estamos no fundo do poço, não sabemos se estamos pegando uma faca caindo, então também não é aconselhável aumentar drasticamente as posições em bolsa, cripto ou qualquer outro ativo de risco. Investir significa disciplina e constância”, ressalta o especialista em investimentos.

Segurança adicional para lidar com momentos de “caos”

Já para quem pretende aumentar a proteção nesse momento de alta das incertezas, a renda fixa pós-fixada está com rentabilidades interessantes e consegue fornecer essa segurança. Títulos indexados à inflação também são encarados como ativos protetores em momentos de crise, pensando principalmente no longo prazo.

“Penso ser importante um olhar calmo para fundamentos da carteira para entender a que o investidor está exposto – a bolsa americana, por exemplo, ainda acumula mais de 10% de alta no ano, mesmo frente à correção que já vemos desde a semana, tendo ativos com mais de 100% de valorização”, diz Jaqueline Kist, especialista em mercado de capitais e sócia da Matriz Capital. “Pode valer a pena aproveitar uma onda de realização para se reposicionar em ativos que abram oportunidades de entrada nessa queda.”

Luigi Wis, especialista em investimentos da Genial, também vê a oportunidades em ativos de renda fixa que se beneficiem de eventuais quedas da Selic. “Como opções de renda fixa prefixadas ou atreladas ao IPCA”, diz.

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Há também opções de ativos de proteção vinculados a ETFs (fundos que seguem índices). A Guide Investimentos, por exemplo, recomenda os ETFs GOLD11, BTLT39 e BSHY39 para navegar uma possível recessão nos Estados Unidos. O primeiro é atrelado ao ouro, uma dos mais antigos ativos de proteção, e os outros dois são vinculados a títulos do Tesouro americano, considerados os mais seguros do mundo.

A casa vê para o mercado financeiro um cenário, à frente, que ainda tem espaço para piorar. “Todos os instrumentos recomendados incluem a variação cambial. Então, além de uma exposição direta aos rendimentos do tesouro americano, você também estaria suscetível a ganhos decorrentes da apreciação do dólar frente ao real”, diz a Guide, em relatório. “Em tempos de incerteza econômica, os investidores buscam ativos que preservem capital, e o ouro, com seu valor intrínseco e histórico como meio de troca e reserva de valor, se destaca.”

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