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Offshore de Paulo Guedes não passa de ruído, dizem analistas

Polêmica em torno de investimentos no exterior não deve pesar no Ibovespa

Offshore de Paulo Guedes não passa de ruído, dizem analistas
Paulo Guedes (Dida Sampaio/ Estadão)
  • É importante frisar que a abertura de offshores não é crime e que as contas foram devidamente declaradas
  • A discussão acontece no âmbito de um possível conflito de interesse. Isto é, os dois executivos têm acesso a informações privilegiadas
  • Para analistas, a Bolsa não deve ser afetada por esses ruídos, já que até agora ainda não há nenhuma irregularidade concreta

O que o ministro da Economia, Paulo Guedes, e o presidente do Banco Central, Roberto Campo Neto, têm em comum? Além de serem duas figuras de muito peso e influência na economia brasileira, os dois também têm offshores (empresas abertas em paraísos fiscais). A revelação foi feita pelo Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ) e publicada na revista Piauí.

A notícia se espalhou rápido e tomou conta das redes sociais. Alguns partidos de oposição já pediram, inclusive, a abertura de investigação contra o ‘posto Ipiranga’ de Jair Bolsonaro e Campos Neto. Em defesa, o Ministério da Economia e a assessoria do presidente do Banco Central informaram à Agência Brasil que as empresas foram devidamente declaradas à Receita Federal e analisadas pela Comissão de Ética Pública da Presidência da República e demais órgãos competente.

Não é crime

É importante frisar que a abertura de offshores não é crime e a discussão acontece no âmbito de um possível conflito de interesse. Isto é, os dois executivos têm acesso a informações privilegiadas e são vedados, pelo Código de Conduta da Alta Administração Federal, artigo 5º, de gerirem investimentos dentro ou fora do Brasil ‘cujo valor possa ser substancialmente alterado por decisão ou política governamental’.

Cabe, agora, verificar se esse é ou não o caso. “Offshore qualquer um pode ter, não tem problema, é um instrumento perfeitamente legal. A questão é que o ministro, diante do exercício da função que tem hoje, não poderia ter offshore da maneira que tem”, diz Vitor Carettoni, diretor da mesa de operações de renda variável da Lifetime Investimentos. “Ele deveria ter passado toda essa gestão para um terceiro, que faria a atividade de forma profissional e discricionária, sem que ele pudesse opinar sobre os ativos ali ou fizesse qualquer tipo de operação, que é o que aparentemente acontece.”

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Para Carettoni, a descoberta é negativa e alimenta os argumentos de quem tenta pedir a cabeça do ministro da economia. “A base para ele se sustentar fica obviamente fragilizada agora. Pela situação, a oposição pode forçar um pedido de saída tranquilamente porque, de fato, vai contra o que ele poderia fazer no cargo”, diz.

Marolinha no Ibovespa

No mercado, entretanto, as notícias envolvendo Guedes e Campos Neto incomodam, mas estão longe de serem determinantes. Apesar dos ruídos em torno do conflito de interesse, ainda não há nada concreto que possa afetar o Ibovespa de maneira significativa. O principal índice de ações da B3 fechou esta segunda (04) em queda de 2,2%, aos 110.393,09 pontos, movido muito mais pelo mau humor no exterior do que pelos ruídos políticos domésticos.

“A movimentação na Bolsa de Valores hoje foi muito mais voltada para a expectativa do aumento da inflação e IPCA”, afirma Bruno Madruga, sócio e head de renda variável da Monte Bravo. “Qualquer brasileiro pode ter empresas e contas offshores, o que precisa ver é se está declarado ou não. E pelo que consta, está tudo declarado, tudo em linha.”

Essa também é a visão de Jansen Costa, sócio-fundador da Fatorial Investimentos. O especialista explica que os principais drivers deste pregão estavam concentrados na China, com a suspensão das ações da Evergrande, assim como a escalada do preço da energia elétrica na Europa.

“Começamos de mau-humor essa semana. A grande questão é que se cria um ruído político porque a maioria das pessoas não sabe que é legal ter dinheiro no exterior. O que pode acontecer, e que rapidamente vai se esclarecer, é se essas pessoas foram beneficiadas em algum momento em posições contra ou favor de decisões tomadas pelo ministério da economia ou banco central”, diz Costa.

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Outro ponto interessante seria que o próprio Paulo Guedes queria tributar empresas de investimentos no exterior, e por ter offshore, seria afetado pela medida. Além disso, mesmo em um cenário extremo, em que as investigações sobre as empresas no exterior identificassem irregularidades e resultassem na saída do ministro da economia, o peso sobre o Ibovespa não seria esmagador.

“O ministro Guedes não faz mais tanto peso assim no mercado, diante de tantas promessas que não foram cumpridas. Muitos especulam que a sua queda não resultaria em turbulência significativa na Bolsa, talvez no curto prazo”, afirma Carettoni. “Mas Campos Neto estava totalmente fora desse radar. Aí sim, uma queda poderia ser uma notícia ruim.”

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