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Oi vê tráfego na rede subir até 40% e tenta evitar instabilidade

A inadimplência dos consumidores também é um problema para as empresas

Oi vê tráfego na rede subir até 40% e tenta evitar instabilidade
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  • Home office elevou o tráfego de dados da Oi em torno de 30% a 40%, conta o presidente Rodrigo Abreu
  • Por outro lado, empresas têm sofrido com inadimplência dos consumidores, queda nas recargas de telefones pré-pagos e diminuição nas vendas de aparelhos
  • Operadora, que ainda cumpre recuperação judicial, anunciou que vai postergar em 15 dias o prazo de pagamento das faturas de abril

(Circe Bonatelli, Agência Estado) – A crise do coronavírus e o crescimento do trabalho via home office elevaram o tráfego de dados em torno de 30% a 40%, contou o presidente da Oi, Rodrigo Abreu, em entrevista ao Broadcast. “Estamos trabalhando bastante para que a instabilidade das redes não aconteça. Já tivemos um aumento de tráfego significativo”, disse, pedindo aos clientes que usem a internet de modo “consciente” para evitar mais sobrecarga.

Por outro lado, esse aumento no tráfego não significa que o setor de telecomunicações no Brasil está “bombando”, alertou Abreu. As empresas têm sofrido com inadimplência dos consumidores, queda nas recargas de telefones pré-pagos e diminuição nas vendas de aparelhos devido ao baque na economia global e às restrições para circulação de pessoas. Só a Oi tem 200 lojas fechadas.

O executivo disse que sua maior preocupação no momento está em propostas de associações de defesa do consumidor para que as teles prestem os serviços de graça durante a quarentena. “Se chegar neste nível de intervenção, nesta falta de responsabilidade, vamos ver uma bola de neve, porque isso incentiva a inadimplência. O setor não aguenta”, frisou.

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Abreu ressaltou que a Oi tem procurado fazer a sua parte para aliviar os consumidores. A tele, que ainda cumpre recuperação judicial, anunciou que vai postergar em 15 dias o prazo de pagamento das faturas de abril. A medida vale para pessoas físicas e pequenas empresas, que são clientes de telefonia fixa e móvel, internet e TV por assinatura.

Dentro de casa, a operadora também está cumprindo quarentena. A companhia tem 12.400 funcionários (sem contar técnicos de campo), dos quais 9.000 estão em home office e outros 1.000 estão em home office intermitente, isto é, indo à empresa apenas um ou dois dias na semana. Leia a seguir os principais trechos da entrevista:

Broadcast: A Oi corre risco de instabilidade nas redes com o crescimento da demanda por telecomunicações durante a quarentena?

Rodrigo Abreu: Estamos trabalhando bastante para que a instabilidade não aconteça. Já tivemos um aumento de tráfego significativo. A grande fortaleza da Oi é a sua capacidade de infraestrutura. Nós já fizemos expansão de rotas emergenciais, reforçamos redes e adotamos outras medidas, então estamos com uma capacidade de gerenciamento do tráfego razoável.

Broadcast: Quanto cresceu o tráfego de dados?

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Abreu: Isso varia de acordo com o tipo de rede, mas, se fosse para resumir em um dado único, eu diria que o aumento foi de 30% a 40%. Em alguns elementos, tivemos alta de 20%, em outros mais de 80%, mais de 100%. Temos backbones (espinha dorsal das redes de internet), redes móveis, pontos que ligam provedores, redes internacionais, o volume de tráfego varia. Como a nossa rede é bastante parruda, temos conseguido gerenciar bastante bem essas demandas.

Broadcast: Na Espanha, a Telefónica chegou a pedir aos usuários um uso mais consciente da internet, para priorizar o trabalho e deixar de lado streaming de filmes e jogos nos horários de pico. É o caso de se fazer isso aqui também?

Abreu: Obviamente é preciso ter um uso consciente das redes. Já temos uma campanha conjunta do setor que vai nesse sentido e, possivelmente, será amplificada. Cada operadora terá a sua gestão. Vimos provedores internacionais adotando medidas para reduzir a qualidade de vídeo e sobrecarregar menos as redes. Da nossa parte, estamos monitorando as redes com uma “lupa”, produzindo vários boletins diários, eu mesmo estou acompanhando isso.

Broadcast: Já é possível calcular o tamanho do prejuízo com a crise?

Abreu: O nosso setor tem uma situação peculiar. Ele é crítico neste momento. Pela primeira vez o País quase inteiro está ficando em casa e pode perceber a importância das telecomunicações no dia a dia para habilitar as atividades. Pode haver uma sensação inicial que o setor está bombando porque as pessoas têm maior demanda pelas conexões. Mas demanda e consumo são coisas diferentes. E houve uma redução da capacidade de consumo e fechamento de lojas, que impactam o faturamento.

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Broadcast: Qual seria a maior preocupação neste momento?

Abreu: Muita gente está querendo jogar mais obrigações para o setor, e nós vimos isso acontecendo nas últimas semanas. Há propostas para que as operadoras mantenham os serviços mesmo que não haja pagamento da parte dos clientes, outros querem que as operadoras ofereçam o serviço de graça para todo mundo. (Ele se refere a propostas de associações regionais de defesa do consumidor) Mesmo que bem intencionadas, essas medidas podem causar um desequilíbrio muito maior. O setor está fazendo a sua parte, tem adotado várias medidas para o ajudar o País neste momento de crise. Mas se chegar neste nível de intervenção, nesta falta de responsabilidade, vamos ver uma bola de neve porque isso incentiva a inadimplência. O setor não aguenta. Telecomunicações não é um negócio ultra rentável como outros. O nosso nível de investimentos e giro no caixa é muito grande e não pode ser submetido a esse tipo de medida.

Broadcast: Em que áreas vocês estão sendo mais afetados?

Abreu: A telefonia pré-paga é um segmento bastante impactado. É possível notar o impacto no volume de recargas, mas ainda não é possível ter uma medida precisa. O segmento de mobilidade depende da circulação das pessoas. A recarga acontece no supermercado, na farmácia, na banca de jornal e em outros pontos autorizados. E as vendas de celulares e serviços em lojas hoje é zero, porque todas as lojas estão fechadas. Então o impacto nas vendas neste caso é integral.

Broadcast: E nos demais segmentos em que a Oi atua?

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Abreu: Quando se olha para o setor de serviços como um todo, que no nosso caso inclui banda larga, TV por assinatura e celular pós-pago, existe sim um impacto na arrecadação por conta da inadimplência imediata. Por tudo isso, imaginar que o setor de telecom não é impactado não é verdade. Tem aumento da demanda, mas há um impacto no volume de consumo e nos pagamentos.

Broadcast: E como estão os novos pedidos de banda larga, que é onde está a maior demanda de quem trabalha em home office, por exemplo?

Abreu: Do ponto de vista de demanda, há diferenças significativas aqui em relação ao segmento de mobilidade. Ninguém entra na loja, pede a banda larga e sai com ela debaixo do braço. Os pedidos não são feitos em loja, mas por canais na internet ou teleatendimento. A banda larga tem uma procura cada vez mais alta nos últimos anos, e isso não mudou durante a crise. Essa procura continua acontecendo. Quem tem a banda larga de cobre tem motivação extra para mudar para a banda de alta velocidade, via fibra. O que vai ser impactado nesse setor é a capacidade de pagamento dos clientes.

Broadcast: A Oi tem conseguido instalar pontos de banda larga mesmo com restrições à circulação de pessoas?

Abreu: Com o decreto que declarou telecomunicação como um serviço essencial, a situação do trabalho em campo melhorou bastante. Houve um pequeno impacto na capacidade de campo. Quase a totalidade dos técnicos são da companhia, criamos protocolos muito rígidos de higiene e conduta. Os técnicos foram valorizados neste momento, porque ficou ainda mais claro a importância que estes profissionais têm.

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Broadcast: Quanto a Oi vai investir em 2020?

Abreu: Mesmo na crise, continuamos a executar nosso plano, com foco no desenvolvimento da fibra ótica. A capacidade de execução pelas equipes está mantida. Nós já comunicamos que não vamos emitir um guidance (meta formal) de investimentos para este ano em função da incerteza sobre o tamanho da crise que a sociedade está passando. A intenção é fazer com que o plano seja o menos afetado possível. Não fizemos alteração no capex de R$ 7 bilhões por ano. Não reduzimos. Neste momento está sento mantido, mas não sabemos como vão ser os próximos meses.

Broadcast: A crise esfria as negociações para vendas de ativos da Oi, como as redes móveis, que despertaram interesse das rivais Vivo, TIM e Claro?

Abreu: Só posso comentar aqui o que já foi tornado público. Nós seguimos tocando as estratégias da companhia, buscando a maior normalidade possível. E isso vale para tudo, desde os objetivos operacionais quanto financeiros. Óbvio que, no momento, a grande atenção é para o impacto potencial financeiro no curtíssimo prazo (por conta da crise). De resto, continuamos tocando todos os projetos.

Broadcast: E o leilão de 5G? Antes da crise, já havia expectativa das teles para que ficasse para 2021. E agora, isso se confirma?

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Abreu: Essa é a expectativa de todo mundo, dada a desorganização para capacidade de planejamento e de definição de estratégias financeiras neste novo cenário. Então, a expectativa é, sim, para que fique para 2021, embora ainda exista gente tentando manter o cronograma (para 2020). Eu vejo que é muito difícil que as consultas públicas tenham tempo para chegar a todos os deferimentos.

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