O Ibovespa hoje tende a operar em queda no pregão desta quinta-feira (28) após o pronunciamento do Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disseram analistas ouvidos pela reportagem nesta quinta-feira (28). A perspectiva de baixa para a Bolsa acontece especialistas afirmarem que as falas do ministro foram superficiais e não deram tantos detalhes de como deve funcionar o pacote fiscal.
Ontem, Fernando Haddad comentou que o governo pretende implementar o reajuste do salário mínimo dentro das regras do arcabouço fiscal, uma idade mínima para a aposentadoria dos militares, além de restrições de acesso ao abono salarial e um teto para o salário de servidores públicos.
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O pacote fiscal de Haddad também pretende fazer um pente-fino no Benefício de Prestação Continuada (BPC) e no Bolsa Família. O político informou ainda que o vai enviar ao Congresso o projeto de isenção do Imposto de Renda (IR) da pessoa física para quem ganha até R$ 5 mil por mês. Em contrapartida, o governo prevê aumentar a taxação de quem ganha acima de R$ 50 mil por mês, para não ter impacto fiscal. Com essas medidas, o governo prevê economizar R$ 70 bilhões em dois anos.
Pacote fiscal do Haddad agradou o mercado?
Do lado positivo, os especialistas comentam que o número anunciado, um corte de gastos de R$ 70 bilhões, foi em linha com as expectativas do mercado. Para Enrico Cozzolino, sócio e head de análise da Levante Investimentos, o número anunciado veio como o esperado. No entanto, ele disse que a forma como foi divulgado, sem grande detalhes de onde cada centavo seria tirado, deixa o pacote fiscal com dificuldade de previsibilidade. “Não está tão claro de como esse volume de corte de gastos será realizado. O anúncio frustra bastante as expectativas, por isso, o Ibovespa tende a cair amanhã”, aponta.
Felipe Sant’ Anna, especialista em mercado da mesa proprietária Star Desk, disse que o governo jogou uma “granada sem pino”. Na visão dele, o pronunciamento de Haddad teve mais um tom de propaganda política do que de um comunicado à nação. “Faltaram muitos elementos. Ficou uma sensação de frustração, talvez na abertura do pregão podemos ver a Bolsa para baixo e o dólar lá para cima“, explica Felipe Sant’ Anna.
Segundo Felipe Corleta, sócio da GTF Capital, a estimativa de R$ 70 bilhões ficou em linha com o esperado, porém há muita dúvida entre os economistas de que as medidas anunciadas são capazes de justificar esse valor. No entanto, ele comenta que o temor do pacote fiscal já foi precificado no pregão de quarta-feira (27) e, por isso, a tendência é de ter um Ibovespa operando sem grandes rumos neste quinta-feira.
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“É muito difícil precisar o movimento de um dia da Bolsa, especialmente em meio a um feriado nos Estados Unidos que reduzirá a liquidez de forma importante. Acho que o mercado correu para precificar hoje e sigo com uma visão construtiva para a Bolsa no médio prazo”, relata Corleta.
Isenção do Imposto de Renda para quem ganha até 5 mil parece um sonho difícil
Corleta também vê dificuldades em algumas propostas, como a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil por mês. “A questão do IR ainda depende de uma longa discussão do Congresso Nacional. Um dos principais temas nos próximos dias será se haverá tempo e disposição dos parlamentares para avançar com essa pauta antes do recesso parlamentar ou nos primeiros meses do próximo ano”, explica.
Enrico Cozzolino, da Levante Investimentos, detalha que o anúncio sobre o Imposto de Renda carece de detalhes, o que também acabou frustrando as expectativas. Na visão dele, era esperado uma compensação após o anúncio das medidas de corte de gastos. Entretanto, o especialista relata que as falas de Haddad não ficaram claras, visto que o ministro não detalhou o porcentual de tributação que será pago para as pessoas que ganham acima de R$ 50 mil por mês.
Segundo esta reportagem do Estadão, a reforma do Imposto de Renda deve adotar alíquotas comecem a subir a partir de R$ 50 mil por mês, até chegar a 10% para rendas a partir de R$ 100 mil mensais. A tributação só vai acontecer se a soma de todas as rendas da pessoa física – como salário, aluguéis, lucros e dividendos – passar de R$ 50 mil por mês (R$ 600 mil por ano).
Nesse caso, será calculada a alíquota média efetiva de sua tributação. Se ela for menor do que 5%, o contribuinte pagará a diferença. Esses dois números números vão subindo progressivamente, até chegar à alíquota de 10% para rendas mensais a partir de R$ 100 mil – ou R$ 1,2 milhão por ano. Ainda assim, os especialistas ouvidos pelo E-Investidor dizem que é necessário o governo mostrar qual será o impacto dessa taxação e se ela de fato vai compensar toda isenção até a faixa dos R$ 5 mil por mês. Ou seja, essa acaba sendo mais um fator para fazer o Ibovespa cair hoje.
Quais empresas devem ser afetadas pelo pacote fiscal de Haddad?
Para Corleta, da GTF Capital, o anuncio de não renovação de benefício fiscal para as empresas após um ano de déficit fiscal, deve impactar diretamente empresas da Bolsa que precisam de renovação nos curto prazo. “As ações cíclicas, como do varejo e construção civil e as empresas com dívidas altas serão as mais afetadas, muito provavelmente seguindo a dinâmica que a curva de juros oferecer nos próximos dias”, argumenta.
Já Enrico Cozzolino, da Levante, estima que todas as empresas devem ser impactadas na Bolsa hoje de forma generalizada. “Todas as empresa devem sofrer por causa do risco Brasil. Não vejo apenas um setor, mas todas devem sentir os impactos”, aponta o especialista. Ainda assim, ele diz que esse é um bom momento para o investidor alocar recursos e aumentar sua exposição em Bolsa. Segundo ele, o Ibovespa está barato e no médio e longo prazo, as ações tendem a se recuperar.
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Corleta também se diz construtivo com a Bolsa e revela que o investidor deve aportar neste momento, mesmo que o Ibovespa hoje caia fortemente. “Acredito que é um bom momento para se ter ações de boas empresas, com paciência para tolerar a volatilidade de curto prazo”, explica o especialista.