Mercado

Paulo Guedes é indispensável? Especialistas comentam possível saída do ministro

Tensões com presidente aumentaram rumores sobre um rompimento

(Marcello Casal Jr/ Agência Brasil)
  • Clima entre Paulo Guedes e o Bolsonaro esquentou com desavenças em relação a proposta do programa Renda Brasil
  • Tensão criou rumores sobre uma possível saída de PG do governo. O boato foi negado pelo ministério
  • Para especialistas, a figura Paulo Guedes não é indispensável, mas a ideia que ele representa

Após o clima esquentar com as desavenças entre o presidente Jair Bolsonaro e o ministro da Economia, Paulo Guedes, sobre o programa Renda Brasil, rumores sobre um possível rompimento ganharam força em Brasília. Mesmo que o boato sobre a saída de Guedes tenha sido desmentido pelo próprio ministério, as incertezas em relação ao desdobramento do caso ainda são grandes.

A nova queda de braço com Bolsonaro começou após o presidente criticar a proposta apresentada pelo ministro para o benefício que substituirá o Bolsa Família. Depois do ocorrido, o presidente suspendeu o lançamento do programa e aguarda uma nova proposta de Guedes para enviá-la ao congresso.

Para criar o Renda Brasil, o ministro propõe acabar com outros programas sociais, como abono do PIS/Pasep, para conseguir ampliar o valor pago para R$ 247, sem furar o texto de gastos, preservando a questão fiscal do País.

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Bolsonaro, no entanto, não aprovou o modelo, nem o valor, e pediu uma nova proposta para o benefício. “Não vou tirar de pobres para dar a paupérrimos”, justificou o presidente.

O E-Investidor conversou com especialistas para saber se Paulo Guedes ainda é considerado indispensável na visão do mercado e como o aumento das tensões pode ser prejudicial para o País. Confira as opiniões:

Rodrigo Franchini, sócio da Monte Bravo Investimentos

“O Paulo Guedes representa uma unidade de pensamento, que é o de ter segurança fiscal no médio e longo prazos. Sua eventual saída pode ocasionar um problema mais sério para nossa economia e o mercado pode cair com força por conta disso.

Ver uma sequência problemática de resultados na Bolsa é natural nessa hipótese, porque o mercado tem muito medo que ele saia e que a política monetária seja feita da maneira como foi no passado. Ou seja, que toda a trajetória dos últimos 18 meses mude radicalmente. Porém, a personificação de Guedes, a pessoa dele, não essencial, mas a ideia que ele defende e que ele tanto debate.

Se ele eventualmente sair e entrar outra pessoa no ministério tão qualificada quanto, que tenha o mesmo viés,a mesma ideia e o mesmo comportamento, tudo ficará bem. O mercado vai digerir isso com mais calma e vai avaliar o trabalho propriamente dito na prática. Por outro lado, se houve uma troca sem ter m nome  de imediato, ou se esse nome não agradar o mercado, o governo vai ter um problema. Neste caso, a aversão ao risco vai aumentar e haverá um problema mais sério no médio longo prazos por conta dessa troca. É bom deixar isso bem claro: não é a pessoa e sim a ideia que ele representa.”

Bruno Musa, sócio da Acqua Investimentos

“Uma eventual saída de Paulo Guedes seria muito prejudicial para o mercado. Primeiro, porque ele é um dos fatores que ajudou a eleger o governo com essa característica liberal/conservador. Ele é um fator gigantesco para sustentar essa visão. O lado fiscal do País vem de muitos anos sem controle e o ministro representa a ideia de equilíbrio dos gastos, diminuição da dívida e privatizações do governo.

O mercado sentiria a saída e seria uma crise que não passaria tão rápido. Se entrar alguém liberal e linha dura como ele, o mercado sentiria menos. Alguém em outra linha poderia fazer a Bolsa despencar o dólar explodir. Vale dizer que ele não é o único liberal no Brasil. Se ele sair, a vida continua.”

Felipe Romcy Araújo, sócio fundador e assessor de investimentos do Grupo Aplix

“Guedes sempre foi muito próximo ao mercado financeiro. Grande parte da confiança que o mercado depositou, e ainda deposita, no governo Bolsonaro é por conta de sua competência em apontar o que precisa ser feito.

Quando ocorrem os boatos de saída, o mercado financeiro lança dúvidas sobre a credibilidade fiscal do Brasil e isso gera um impacto negativo nas ações, com dólar e juros subindo. Quando temos um “fico”, o mercado se anima e, muitas vezes, por mais que seja momentaneamente, age como se não existissem problemas.

Mas, na verdade, PG não é insubstituível, existem outros nomes que poderiam entregar o que o País precisa. A grande questão é se um outro nome conseguiria vencer as barreiras que atualmente existem no governo.”

Eduardo Levy, diretor de investimentos da Kilima Gestão de Recursos

“Independente do nível de juros e da estabilidade das últimas semanas, talvez dos últimos dois meses, a dependência de nomes das pessoas que conduzem a política econômica e monetária no Brasil é muito grande.

Não há dúvida alguma de que o nome do Paulo Guedes, a figura de quem ele é, é extremamente importante para a estabilidade dos ativos financeiros no mercado doméstico. Sua saída pode trazer muita volatilidade e uma realização forte nos mercados.”

Gustavo Cruz, estrategista da RB investimentos

“A equipe econômica do Guedes deixa um pouco a desejar no lado político, pois eles batem muita cabeça com o congresso. Não adianta só ser o mais técnico possível. O cargo precisa de habilidade política. Vale ressaltar que quando Sérgio Moro saiu, todo mundo achou que tudo iria por água abaixo, mas não foi isso o que aconteceu.

Entendo que Paulo Guedes não é totalmente insubstituível. Caso a troca aconteça, a pergunta é quem vem depois. O mercado ficaria bem mais desconfiado se entrasse alguém com outra linha e mais alinhado ao Bolsonaro.”

João Paulo Teixeira Cardoso, sócio da Unnião Investimentos

“A saída seria prejudicial para o mercado e os investidores têm medo disso. Atualmente ele é quem defende o teto de gastos e a manutenção/segurança fiscal do Brasil. Se ele sair, talvez o governo deixe de respeitar o teto de gastos, uma vez que o Presidente e parte do Governo acham que devemos gastar mais. Acredito que um próximo ministro já entraria sabendo que o teto de gastos não é prioridade.”