- O volume foi superior a soma de todos os dividendos pagos pelas empresas listadas na bolsa de valores
- No entanto, a tendência é que o volume a ser distribuído ao longo do ano seja menor em relação ao do ano passado
- Até o momento, a estatal distribuiu R$ 21 bilhões em dividendos no primeiro trimestre, mas o volume previsto para o segundo trimestre poderá ser 19% menor
As ações da Petrobras (PETR3; PETR4) encerraram o pregão desta terça-feira (11) com uma desvalorização superior a 1% diante do anúncio da due diligence na Braskem (BRKM5). O termo consiste no processo de análise dos dados da companhia para ajudar na decisão de aumentar ou vender a sua participação acionária na estatal. Na avaliação de analistas, caso a estatal decida controlar a empresa, os papéis podem cair ainda mais e impactar os ganhos dos acionistas.
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As ações preferenciais foram as que mais sofreram com o início do processo de análise dos números da Braskem. No fechamento do pregão de ontem, os papéis fecharam com uma queda de 1,35%, enquanto as ordinárias encerraram com uma desvalorização de 0,42%. Segundo Ruy Hungria, analista da Empiricus Research, o pessimismo do mercado se deve à possibilidade da Petrobras retomar o controle da Braskem ou aumentar a sua participação acionária na empresa.
“Não é a melhor decisão pensando em termos de alocação de capital, já que os ativos de E&P em águas profundas e ultra profundas têm retornos melhores do que o setor petroquímico (Braskem)”, afirma Hungria. O comunicado sobre o início do processo foi divulgado ao mercado na segunda-feira (10). No documento, a Petrobras ressalta que nenhum posicionamento sobre investimentos ou desinvestimentos havia sido adotado. Acrescentou ainda que a futura decisão será pautada por uma análise criteriosa e de estudos técnicos.
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Se a companhia decidir aumentar a participação ou recuperar o controle acionário, a compra poderá contribuir para a redução dos ganhos aos acionistas. “A questão é que a atual gestão tem falado em vários outros investimentos além desse, que somados vão acabar reduzindo os dividendos distribuídos”, acrescenta o analista da Empiricus.
No entanto, esse não foi o único fato envolvendo a petroleira que deixou o mercado em alerta nas duas últimas semanas. No dia 30 de maio, as ações da estatal caíram mais de 4% diante do anúncio da queda do preço da gasolina e do gás de cozinha vendido nas refinarias. A medida coincidiu com a volta da cobrança dos impostos federais sobre os combustíveis e trouxe alerta para os investidores por parecer uma decisão mais com viés político do que técnico.
“Significa que a empresa estaria começando a subsidiar o preço do combustível. Abre precedentes para mais intervenções políticas negativas no futuro”, diz Guilherme Ishigami, broker da mesa de renda variável da RJ+ Investimentos. Com a repercussão negativa, o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, garantiu que a decisão da segunda redução da gasolina em junho tem como base nas variáveis econômicas e comerciais dos produtos e do petróleo bruto nos mercados brasileiro e internacional. A decisão, segundo ele, está de acordo com os próprios critérios da companhia que garantem a lucratividade e as participações nos mercados regionais.
Já no dia 3 de julho, a estatal decidiu habilitar as empreiteiras Odebrecht, Andrade Gutierrez e UTC a disputarem seus contratos. As empresas não podiam fechar contratos devido aos seus envolvimentos com esquemas de corrupção investigados pela operação Lava Jato. Para analistas, a permissão aumenta os “olhares desconfiados” dos investidores sobre os rumos que a estatal pode seguir nos próximos anos.
No entanto, até o momento, as recentes decisões não têm impactado nos fundamentos de investimentos da companhia. “Para que a decisão tivesse impacto nas ações, precisaria de um caso concreto de corrupção”, diz Mateus Haag, analista da Guide Investimentos. A boa notícia é que os recentes eventos ainda não foram suficientes para reverter o desempenho das ações da Petrobras no acumulado do ano. Segundo os dados do Broadcast, os papéis da estatal seguem com altas de 36,9% (PETR3) e de 45,5% (PETR4).
Como ficam os dividendos?
Ao acompanhar os movimentos da Petrobras, os investidores costumam avaliar se a decisão envolvendo a companhia poderá afetar a distribuição de dividendos. Vale lembrar que, ao longo de 2022, a companhia chegou a distribuir R$ 194,6 bilhões em dividendos. O provento, de acordo com um levantamento feito pelo TradeMap, supera a soma de todos os valores distribuídos pelas demais empresas listadas na Bolsa brasileira, que acumulam R$ 193,4bilhões aos investidores. Somente a União, principal acionista da empresa, recebeu R$ 55,8 bilhões em proventos. Veja os detalhes nesta reportagem.
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Neste ano, a companhia distribuiu cerca de R$ 21 bilhões no primeiro trimestre, de acordo com o TradeMap. O volume é bem superior ao montante pago aos investidores que ficou em torno de apenas R$ 28 milhões. No entanto, Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos, acredita que o próximo pagamento referente ao segundo trimestre não deve superar ao volume pago de 2022, mas deve permanecer acima do mínimo. O ponto de atenção para o investidor está na divulgação da nova política de distribuição de dividendos prevista para acontecer no fim deste ano.
“Há bastante informação a ser divulgada pela frente. Temos um dividend yield para a estatal acima de 10% para 2023, mas iremos “calibrar” esse dividend yield com as informações que iremos saber” , diz Arbetman. Mesmo assim, a Ativa mantém recomendação neutra para o papel com um preço-alvo de R$ 28. A Guide Investimentos também a mesma recomendação com preço-alvo de R$ 30. Já a Empiricus recomenda compra do papel para os investidores focados em dividendos por causa dos múltiplos baixos e do elevado dividend yield (rendimento do dividendo) em torno de 20%.