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Petrobras e BR Distribuidora: o que esperar após operação de venda

Com a venda da participação na ex-subsidiária, Petrobras embolsou mais de R$ 11 bilhões

Petrobras e BR Distribuidora: o que esperar após operação de venda
(Foto: Sergio Moraes/Reuters)
  • No final de junho, a Petrobras (PETR4) vendeu a fatia de 37,5% que detinha na BR Distribuidora (BRDT3), sua ex-subsidiária, por um preço de R$ 26 por ação
  • Para especialistas de mercado, a operação foi um 'ganha-ganha’, ou seja, ambas as partes saíram beneficiadas
  • A troca de comando na BR Distribuidora trouxe perspectivas mais positivas para a empresa. A Petrobras segue se recuperando das polêmicas, mas ainda divide opiniões

A Petrobras (PETR4) vendeu no fim de junho a fatia de 37,5% que detinha na BR Distribuidora (BRDT3), sua ex-subsidiária, por um preço de R$ 26 por ação. Com a operação, a estatal embolsou R$ 11,36 bilhões e deu mais um passo em direção aos planos de desinvestimento da empresa – a meta é manter a dívida bruta em até US$ 67 bilhões em 2021 e US$ 60 bilhões em 2022.

Para especialistas de mercado, a operação foi um ‘ganha-ganha’, ou seja, ambas as partes saíram beneficiadas. “Para a Petrobras, a venda levantou um valor forte que pode ajudá-la no plano de redução de dívidas. Além de que, com um caixa mais robusto, a distribuição de dividendos pode ser facilitada”, afirma Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos. “Já para a BR Distribuidora, é o começo de um novo ciclo que pode ser muito positivo.”

Esse ‘ciclo positivo’ teria se iniciado em março deste ano, quando Wilson Ferreira Junior, ex-presidente da Eletrobras, assumiu o cargo de CEO da BR Distribuidora. A nomeação ocorreu a contragosto do governo, que tentou barrar a indicação, segundo apurou o Estadão. Em janeiro, dois meses antes de ser empossado na distribuidora de combustíveis, o executivo renunciou ao cargo na estatal de energia, em tom crítico ao comprometimento de Jair Bolsonaro com as privatizações.

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Apesar dos ruídos políticos, o nome de Ferreira Junior na BR foi muito bem recebido pelo mercado. A expectativa dos agentes financeiros já era de que o novo comandante promovesse mudanças fortes no business da companhia. Algumas já estão se concretizando, como a redução de despesas e maior eficiência na gestão de contratos, além da própria saída do capital da Petrobras.

Com a venda da participação relevante da estatal, a BR se tornou oficialmente uma ‘true corporation’, ou seja, uma empresa sem controlador definido, com ações mais pulverizadas. “Isso desengessa e permite que as alterações que a companhia quer fazer, possam ser feitas. A ideia da empresa é deixar de ser apenas uma distribuidora de combustíveis e se tornar uma provedora completa de serviços de energia”, explica Arbetman. “Foi uma jogada acertada para os dois lados.”

Ricardo França, analista de investimentos da Ágora, também tem uma visão positiva para a BR Distribuidora nesse novo cenário. Segundo o especialista, a saída em definitivo da Petrobras tira qualquer tipo de exposição à estatal, o que atrai outros players privados para o bloco de controle da empresa e ajuda a empresa a diversificar as operações.

“É uma gestão relativamente nova no comando da BR, cujo um dos objetivos é justamente fazer essa diversificação de atividades. Hoje a empresa é muito exposta ao segmento de distribuição de combustíveis e entende-se que, no futuro, ela vai buscar outras fontes de crescimento e resultado”, afirma França.

A BRDT3 está na carteira recomendada da Ágora para julho, com preço-alvo de R$ 31, o que representa um prêmio de 8,4% sobre o preço do fechamento de terça-feira (6), de R$ 28,60. A Ativa Investimentos possui indicação de compra desde o final de 2020, já com vistas ao processo de transformação da BR Distribuidora.

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“Já gostávamos do trabalho do Wilson Júnior na Eletrobras, então quando ele foi para a BR vimos como um baita casamento. É um líder que traz confiança para o mercado e pode usar a expertise nele no processo de retomada da empresa”, explica Arbetman. “Além disso, companhia vinha perdendo share nos principais mercados. E há mais ou menos um ano, desde que a Petrobras fez a primeira venda de participação, vimos melhoras muito fortes.”

Petrobras ainda divide opiniões

O impacto das polêmicas que envolveram a Petrobras no início do ano ainda repercutem no mercado. Em fevereiro, Bolsonaro anunciou a troca do então presidente, Roberto Castello Branco, pelo general Joaquim Silva e Luna, em uma sinalização de descontentamento com o aumento dos preços dos combustíveis.

Os investidores reagiram violentamente e o papel se depreciou 20% somente nos primeiros dois meses do ano. Contudo, aos poucos, boa parte da insegurança foi se dissipando. Hoje as ações ainda estão negativas no acumulado do ano, mas já retornaram ao patamar de R$ 27, de antes da troca de CEOs. “A Petrobras passou por um período conturbado no início de 2021, mas desde então viemos tendo sinais positivos da nova gestão, alinhados com o plano estratégico da companhia”, afirma França.

Basicamente, o plano estratégico da Petrobras inclui o foco em desalavancagem (redução de dívidas) e concentração no ‘core business’ (principais negócios, em tradução livre), além de um futuro aumento na distribuição de dividendos a partir dessa melhora na saúde financeira da empresa.

“Soma-se a isso o momento do petróleo, que está em forte alta. O barril de brent bateu o US$ 76, maior preço dos últimos três anos, que deve permitir que as empresas ligadas à commoditie tenham resultados muitos consistentes nos próximos meses”, explica França. “O dólar cedendo frente ao real reduz um pouco da necessidade da Petrobras de fazer reajustes nos preços de combustíveis. Em tese, a empresa deveria seguir a paridade internacional, mas sabemos que as vezes fica complicado de a estatal realizar esses reajustes.”

Para a Ágora, a PETR4 é recomendação de compra, com preço-alvo de R$ 35. Já para a Ativa, ainda existem algumas dúvidas a esse cenário. De acordo com Arbetman, a gestão Silva e Luna parece comprometida com a continuidade das vendas de ativos non-core e a permanência de investimentos no pré-sal, onde a Petrobras tem uma vantagem competitiva forte.

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Porém, o ritmo dos reajustes nos preços dos combustíveis após a troca de presidentes continua preocupando. “Essa questão da paridade internacional é a grande dúvida, que pode ser perigosa. Estimamos uma defasagem de aproximadamente 20% nos preços que a Petro cobra nas refinarias em comparação ao preço internacional, isso é uma diferença grande”, explica Arbetman.

Na visão do especialista da Ativa, essa defasagem pode ser prejudicial à qualidade das informações passadas ao mercado, já que oficialmente a Petrobras diz que não houve mudança na paridade (relação entre o preço cobrado pela estatal e os praticados internacionalmente).

“Oficialmente se diz que deixou-se de fazer ajustes a todo momento, para fazer apenas quando forem estruturais (mudanças de longo prazo nos preços). Mas acho difícil diferenciar mudanças estruturais de conjunturais (de momento), e isso traz sim insegurança para o mercado, justamente porque o preço do petróleo brent disparou”, explica Arbetman.

Por esse fator, a Ativa ainda tem recomendação de venda para PETR4, mas os analistas da casa seguem discutindo diariamente o futuro dos papéis da petroleira. “Sempre reanalisamos essa posição, porque essa é a única dúvida que nos sobrou”, afirma o especialista da corretora.

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