A tese de investimentos na Petrobras (PETR3; PETR4) tem enfrentado alguns dilemas. A companhia tem vendido combustíveis abaixo do Preço de Paridade Internacional (PPI), fato que fez o Conselho de Administração da petroleira se reunir na última quarta-feira (29) para discutir a questão. Além disso, o cenário para 2024 promete ser desafiador, com analistas prevendo alta na produção global de petróleo, o que deve pressionar os preços do barril para baixo.
De acordo com Adriano Pires, sócio-fundador do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), o petróleo pode cair para a faixa dos US$ 64 ao longo deste ano. Na quinta-feira (30), o barril WTI para março foi cotado a US$ 72,39, enquanto o do Brent – produzido no Mar do Norte e adotado como referência global – para abril bateu nos US$ 75,33.
A queda no preço do petróleo, segundo Pires, reflete à menor tensão geopolítica pelo mundo, com a redução dos riscos de uma guerra mais ampla no Oriente Médio, a partir da rivalidade entre Israel e Irã, e com a já consolidada precificação para a guerra entre Rússia e Ucrânia. O especialista diz ainda que as tensões geopolíticas tendem a diminuir ao longo deste ano, principalmente após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ter mostrado disposição em resolver os conflitos.
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Trump também tem sinalizado entusiasmo em incentivar o aumento da produção de petróleo nos EUA, mas há um ponto de alerta. “A ideia do presidente em mudar o foco para os combustíveis fósseis e de acabar com os subsídios aos combustíveis renováveis e aos carros elétricos pode fazer a demanda crescer. Ou seja, isso pode tirar o petróleo da faixa dos US$ 64”, explica. “Mas ainda assim, vejo que o petróleo em 2025 será mais barato do que o preço praticado em 2024”, diz Pires.
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As estimativas do CBIE são mais pessimistas quando comparadas a previsões de outros especialistas consultados pela reportagem. Jonas Carvalho, CEO da Hike Capital, projeta uma média de US$ 74 para o Brent em 2025, mas com uma possível queda para US$ 66 em 2026. Já na visão de Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos, a expectativa está em US$ 74 por barril.
Para Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos, o petróleo deve operar o ano entre US$ 70 e US$ 80. Ele diz que, embora Trump queira aumentar a oferta, a cotação do barril vai depender de como os países da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) vão reagir à oferta e à demanda da commodity no mercado. O analista não descarta que os membros da organização possam reduzir suas produções para manter o preço do petróleo próximo dos patamares atuais.
O petróleo barato pode derrubar os dividendos?
Em linhas gerais, os analistas avaliam que o petróleo mais barato pode reduzir os lucros e os dividendos da Petrobras, a exemplo do que ocorreu nos últimos anos. Em 2022, o lucro líquido da Petrobras cresceu 83,9%, saindo de US$ 19,9 bilhões em 2021 para US$ 36,6 bilhões. Na época, o preço médio do petróleo foi de US$ 70,73 para US$ 101,19, uma alta de 43,1%. No ano seguinte, o preço do petróleo caiu 18,4%, para US$ 82,62, e o lucro da estatal em 2023 chegou a US$ 24,8 bilhões, baixa de 32,1% em comparação ao período anterior. Neste sobe e desce, os valores nominais dos dividendos foram afetados.
Em 2022, a estatal pagou US$ 37,7 bilhões em dividendos, segundo o balanço da companhia. Já em 2023, os proventos pagos chegaram a US$ 19,6 bilhões, queda de 48% na comparação entre os dois períodos. Os analistas projetam que a queda deve se repetir em 2025, porém, esses valores já estão precificados na ação, o que mantém o papel atrativo para a aquisição em uma estratégia voltada para ações que pagam dividendos.
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Para Frederico Nobre, gestor de investimentos da Warren, o investidor deve esperar rendimento em dividendos (dividend yield) da Petrobras entre 13% e 14%, com o petróleo operando na faixa dos US$ 75. Já Jonas Carvalho, da Hike Capital, estima que a estatal deve pagar 14% do seu valor de mercado em dividendos. Enquanto isso, Albertman, da Ativa, calcula 16% do valor de mercado da empresa em 2025 ao somar dividendos extraordinários.
Agentes do mercado já precificaram, portanto, o cenário não tão atrativo para o preço do petróleo no mercado internacional e a redução do valor dos proventos da companhia. Atualmente, a ação da Petrobras oferece um rendimento em dividendo competitivo, entre 13% e 16% para 2025, patamar satisfatório na percepção dos analistas ouvidos pela reportagem.
Política de preços pode implodir a Petrobras?
Com o risco relacionado ao preço do petróleo e impacto da cotação da commodity nos dividendos resolvido, a pedra no sapato da petroleira fica com a política de preços e a governança corporativa da companhia. Segundo dados da Associação Brasileira dos Importadores de Combustível (Abicon), o diesel comercializado pela Petrobras nas suas refinarias está com 14% de defasagem em comparação aos preços dos contratos no mercado internacional. A gasolina, por sua vez, é negociada 6% abaixo do Preço de Paridade Internacional (PPI).
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De acordo com informações do Broadcast, a Petrobras fez uma reunião de seu Conselho de Administração para discutir a política de preços. A CEO, Magda Chambriard, não participou da reunião, mas os executivos da estatal presentes defenderam que os preços estão alinhados à estratégia comercial da empresa. A própria presidente da Petrobras, entretanto, confirmou nessa semana para o governo Luiz Inácio Lula da Silva que espera reajuste no preço do diesel.
O que dizem os analistas sobre PETR4?
Para os analistas do Bank of America (BofA), as notícias de reajuste do diesel são positivas, pois a medida dá um sinal que vai além de uma mera decisão de aumento de preço: ela alivia as preocupações com governança corporativa da Petrobras e com o impacto negativo no fluxo de caixa livre (FCL) – de onde sai o cálculo da Petrobras para o pagamento de dividendos. O BofA tem recomendação de compra para a petroleira, com preço-alvo de US$ 16,50 para a American Depositary Receipt (ADR, recibo que permite que investidores consigam comprar nos EUA ações na bolsa de empresas não americanas) negociada em Nova York. O valor estimado equivale a uma potencial alta de 18,8% em relação ao fechamento de quarta-feira.
Ilan Arbetman, da Ativa, ao contrário do banco, diz que embora boa parte dos pontos negativos da empresa já estejam precificados pelo mercado, a governança corporativa da Petrobras ainda representa uma caixa de surpresas. Ele vê risco na defasagem do preço dos combustíveis para o caixa da estatal, com possíveis reflexos no pagamento de proventos a acionistas. Assim, a Ativa Investimentos tem recomendação neutra para PETR4. O preço-alvo é de R$ 44 para o fim de 2025, alta de 19,24% na comparação com o fechamento de quarta-feira (29), quando a ação encerrou o pregão a R$ 36,90.
Já os demais analistas consultados pela reportagem minimizam os riscos para a tese de investimentos da Petrobras e dizem que a empresa vale a pena por conta dos dividendos. Na visão de Adriano Pires, do CBIE, a estatal lucra muito mais com a exportação de petróleo do que com os derivados, o que diminui o impacto da defasagem do preço dos combustíveis nas contas da empresa. No cálculo de Frederico Nobre, da Warren, seria necessário a defasagem passar dos 20% por pelo menos 3 semanas semanas consecutivas para que as receitas da Petrobras sintam impacto relevante. A Hike Capital tem recomendação de compra com preço-alvo de R$ 48, crescimento de 30,08% na comparação com o fechamento de quarta-feira.