A Petrobras (PETR3; PETR4) reduziu o preço do Querosene de Aviação (QAV) para as distribuidoras em 7,6%. A medida foi a primeira redução de preço feita pela atual CEO da companhia, Magda Chambriard. Segundo a estatal, desde 1º de junho, o preço do QAV mais alto do combustível ficou em R$ 3.852,70, por metro cúbico, em Canoas, Rio Grande do Sul, e o mais barato de R$ 3.607,10 por metro cúbico, em São Luiz do Maranhão. Analistas do mercado financeiro se dividem sobre a mudança e também divergem sobre o que o investidor deve fazer com a ação.
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Na visão de Gabriel Meira, especialista e sócio da Valor Investimentos, a Petrobras tem operado abaixo do Preço de Paridade Internacional (PPI). Segundo dados da Associação Brasileira de Importadores de Biocombustíveis (Abicom), a Petrobras chegou a negociar a gasolina com 17% de defasagem no preço no dia 30 de abril. Na data, a gasolina era negociada a R$ 2,70 por litro, enquanto pelo PPI ela deveria ser vendida por R$ 3,25.
“Essa é uma prova de que a empresa está operando abaixo do preço de paridade. Nos últimos dias, o preço da gasolina estava operando entre 4,5% e 5% abaixo do preço do petróleo no mercado internacional. E o diesel a diferença é de 0,5%, houve uma redução da defasagem em relação ao patamar do fim de abril, mas ainda abaixo do preço de paridade”, diz Meira.
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Já os analistas do Itaú BBA lembram que, embora a Petrobras mantenha o preço abaixo da importação, a companhia ainda mantém o preço acima do preço de exportação e que essa é a nova política de preços da estatal. Na visão do BBA, a medida vem sendo empregada sem grandes prejuízos.
Segundo gráfico apresentado em relatório do banco publicado nesta terça-feira (4), a gasolina da Petrobras é negociada 17% acima do preço que a companhia exporta o produto e 1% abaixo do mercado internacional. Já em relação ao diesel, o valor de venda está 34% acima do preço de exportação e 1% abaixo do mercado internacional.
“Os preços da gasolina e do diesel da Petrobras continuam entre o preço de importação e exportação, mas ambos mais próximos do preço de importação, o que é mais lucrativo para a empresa”, diz Monique Greco, Bruna Amorim e Eric de Mello, que assinam o relatório do Itaú BBA.
Artur Horta, especialista em investimentos da GTF Capital, comenta que essa redução do Querosene de Aviação tem uma lógica de mercado totalmente diferente da gasolina e do diesel. A companhia normalmente vende esse combustível com base na demanda das empresas aéreas, ou seja, os consumidores são mais restritos, diferenciando a política de preços.
“A compra desses combustíveis segue a questão de oferta e demanda e dos contratos firmados entre a Petrobras, as distribuidoras e as companhias de aviação, ou seja, são condições comerciais diferentes da gasolina e diesel. Acredito que essa mudança de hoje não deve impactar o balanço da Petrobras, visto que o Querosene de Aviação tem uma representação muito baixa nas receitas da empresa”, diz Horta.
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No primeiro trimestre de 2024, a Petrobras reportou R$ 117,7 bilhões em receitas. Dentro desse montante, apenas R$ 5,8 bilhões vieram do Querosene de Aviação, cerca de 4,92% das receitas da empresa. Sendo assim, Horta também não vê impactos dessa decisão na distribuição de dividendos da empresa. O especialista calcula que a companhia deve pagar entre 12% a 15% do seu valor de mercado em dividendos nos próximos 12 meses, Dividend Yield (DY).
O que fazer com as ações da Petrobras?
Embora Horta calcule que a Petrobras pode pagar até 15% do seu valor de mercado por ano, ele comenta que a ação da companhia não está atrativa e que essa pode não ser uma boa opção para o investidor. Segundo ele, a companhia oferece muitos riscos relacionados a seu controlador, o governo federal.
Ele lembra que a antiga gestão de Jean Paul Prates era bem vista pelo mercado e que, se o governo trocou a presidência da Petrobras, é porque ele busca alguém mais alinhado a ele. “A Chambriard tem todos esses requisitos, principalmente por gerir a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis do Brasil (ANP) durante o governo da ex-presidente Dilma. Ela tem o perfil muito alinhado ao PT. E acredito que, se o petróleo disparar no mercado internacional, há sim o risco da nova CEO controlar o preço do combustível”, salienta Horta.
Já Meira, da Valor Investimentos, reforça que a queda no lucro da companhia no começo do ano é reflexo da baixa do barril de petróleo no mercado internacional, que pode recuar mais ao longo desse ano e pressionar ainda mais o resultado da estatal. No primeiro trimestre de 2024, a Petrobras teve um lucro líquido de R$ 23,7 bilhões, queda de 37,9% na comparação com o lucro líquido de R$ 38,1 bilhões do primeiro trimestre de 2023.
“Nossa estimativa é que esse lucro diminua ainda mais ao longo dos próximos trimestres. Isso porque, o preço do barril de petróleo pode recuar dos atuais US$ 77 para a casa dos US$ 70. Além disso, o preço dos combustíveis está abaixo do PPI, o que é bem ruim, pois a empresa perde dos dois lados, com a queda do petróleo e o produto negociado abaixo do preço do mercado internacional”, aponta Meira.
Mesmo com essa redução de lucro, o analista estima que o papel pode pagar um Dividend Yield de 3% por trimestre, equivalente a 12% em 12 meses. Com base nesse dividend yield, ele lembra que a casa de análise da Valor Investimentos, a Lumi, tem recomendação de compra para a Petrobras com preço-alvo de R$ 46, uma alta de 19,2% na comparação com o fechamento de segunda-feira (03), quando a ação encerrou o pregão a R$ 38,58.
Já os analistas do Itaú BBA calculam que a estatal tende a pagar 10,2% do valor de sua ação em dividendos em 2024. Em 2023, a companhia pagou 29,58% do seu valor de mercado em proventos. Essa redução é o fator principal para o BBA ter recomendação de Market Perform para as ações da Petrobras, desempenho dentro da média do mercado, que é equivalente à neutra.
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O preço-alvo é de R$ 43 para a ação ao fim de 2024, uma alta de 11,45% na comparação com o fechamento de segunda-feira. “Acreditamos, portanto, que a maioria dos investidores utilizará provavelmente o rendimento de dividendos ordinários para avaliar a atratividade das ações no futuro”, afirmam Monique Greco Natal, Eric de Mello e Bruna Amorim.