Após a Petrobras (PETR3; PETR4) divulgar ao mercado, na noite desta quinta-feira (6), o resultado financeiro do terceiro trimestre deste ano (3T25), analistas avaliam que a estatal mostrou bom desempenho de julho a setembro com aumento na produção de petróleo e gás e margens maiores nos segmentos de exploração, refino e comercialização.
A companhia registrou lucro líquido de US$ 6,03 bilhões, alta de 2,7% em relação ao mesmo período de 2024, e de 27,3% em comparação ao trimestre anterior, em meio a recordes na exportação de petróleo e avanço da produção no pré-sal. O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) ajustado totalizou US$ 11,73 bilhões, crescimento de 2,2% na comparação anual.
A receita de vendas somou US$ 23,48 bilhões, alta de 0,5% sobre o terceiro trimestre de 2024 e 11,6% frente ao trimestre anterior. Confira aqui o balanço completo da Petrobras no 3T25.
Para os analistas, houve registro de despesas de capital acima do esperado, mas a geração de fluxo de caixa livre e os dividendos ficaram dentro do previsto. O balanço positivo compensou resultados mais fracos da área de gás e energias de baixo carbono.
“As expectativas para os resultados do terceiro trimestre da Petrobras eram elevadas, considerando a queda nos preços do petróleo, o fluxo de caixa decepcionante no segundo trimestre e a expectativa em torno do novo plano estratégico. Ainda assim, a Petrobras entregou resultados acima do esperado”, afirmam os analistas da XP Investimentos Regis Cardoso e João Rodrigues.
Alexandre Abu-Jamra, CEO da Klooks, empresa de tecnologia focada em análise financeira, aponta que o destaque do trimestre da Petrobras ficou com a produção recorde no pré-sal, confirmando a estratégia de crescimento baseada no aumento da extração de barris de óleo.
A execução operacional, segundo ele, chamou atenção: plataformas como o FPSO Almirante Tamandaré atingiram sua capacidade máxima meses antes do previsto e já operam acima do nominal, o que, diz ele, mostra eficiência técnica elevada. O refino apresentou bom desempenho, com utilização plena da capacidade e recordes de vendas de diesel S10. A geração de caixa avançou em relação ao trimestre anterior.
Batalha de 2 fatores que impactaram a Petrobras no 3T25
Mas, para o especialista, apesar do crescimento operacional, o lucro líquido e o Ebitda ficaram praticamente estáveis em comparação ao ano passado, evidenciando a sensibilidade da empresa às variações do preço do petróleo Brent e do câmbio.
Abu-Jamra observa que o capex (investimentos em bens de capital) aumentou, acelerando o ritmo de investimentos, o que pressionou o fluxo de caixa disponível para dividendos e redução de dívida. O endividamento subiu levemente, movimento esperado diante do ciclo intenso de investimentos, mas que exige acompanhamento.
“A empresa produziu muito mais, mas vendeu seu produto por menos dólares, e cada dólar vendido valeu menos reais. Se fosse uma maratona, daria pra dizer que ela correu mais do que no ano passado, mas o vento contra a fez cruzar a linha de chegada exatamente no mesmo tempo”, compara.
Abu-Jamra diz que o resultado da Petrobras no período foi marcado por uma espécie de batalha entre dois fatores: o interno, ligado à produção, que funcionou como principal motor positivo; e o externo, ligado ao preço do Brent e ao câmbio, que segurou a receita e o lucro.
“É provável que o desempenho operacional continue positivo, mas talvez não no mesmo ritmo acelerado visto neste trimestre, que foi um período atípico em que vários projetos amadureceram ao mesmo tempo. Novas plataformas devem entrar em operação, garantindo que a base de produção continue crescendo, ainda que de forma mais gradual”, explica.
“A questão principal para o resultado financeiro é se os preços do Brent e o câmbio irão ajudar ou atrapalhar esse crescimento operacional nos próximos trimestres“, projeta.
Dividendos atraentes aos acionistas
A Petrobras (PETR3; PETR4) registrou lucro líquido de US$ 6 bilhões no 3º trimestre de 2025. (Imagem: Adobe Stock)
O Conselho de Administração da Petrobras também aprovou o pagamento de dividendos intercalares de R$ 12,16 bilhões, correspondentes a R$ 0,94320755 por ação ordinária (PETR3) e preferencial (PETR4) em circulação, informou a companhia em fato relevante ao mercado.
Os proventos serão pagos como antecipação da remuneração aos acionistas referente ao exercício de 2025, com base no balanço de 30 de setembro, em duas parcelas previstas para fevereiro e março de 2026, segundo a estatal.
Para José Aureo Viana, especialista em investimentos e sócio da Blue3 Investimentos, o montante evidencia que a geração de caixa da estatal ainda oferece retorno atraente aos acionistas. No entanto, observa que o mercado não vê mais a Petrobras apenas como uma ação de renda. Atualmente, os investidores focam sobretudo na qualidade da alocação de capital e no retorno dos projetos que integram o ciclo de investimentos da petroleira.
“Se a empresa mantiver disciplina e previsibilidade na política de preços, os dividendos permanecem sustentáveis. Se houver desvio para investimentos de baixo retorno ou interferência política, o risco aumenta e o dividendo perde peso como argumento principal. Portanto, a tese passa a depender menos do fluxo distribuído e mais do retorno futuro”, explica.
Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos, também avalia que, embora os dividendos sigam relevantes, a análise dos investidores passa a considerar com mais peso a sustentabilidade da geração de caixa, o retorno sobre o capital investido e o nível de endividamento, já que a manutenção da política de distribuição depende de bons resultados e da estabilidade na política de preços.
O que o investidor da Petrobras deve prestar atenção agora
Aliás, para Viana, a política de preços sinaliza a coerência entre eficiência, rentabilidade e governança e deve ser acompanhada junto à alocação de capital e aos retornos dos novos projetos. O ritmo de crescimento da produção também é um ponto de atenção, já que, sem expansão de volume, o potencial de valorização estrutural da estatal fica limitado.
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Viana ainda lembra que, por se tratar de uma empresa estatal, o risco político permanece no radar, especialmente em decisões estratégicas.
Segundo Lima, o investidor precisa observar de perto a geração de caixa e a política de preços, considerados os principais vetores de rentabilidade e confiança. Ele destaca também a importância de monitorar o nível de investimentos e a evolução da dívida, já que um aumento do capex sem retorno adequado pode comprometer o fluxo de dividendos.
“O risco político segue no radar, mas o foco deve estar na capacidade da empresa de manter eficiência, margens e previsibilidade financeira mesmo em um ambiente mais volátil”, diz.
Recomendação e riscos
O Safrarecomenda compra das ações preferenciais da Petrobras com preço-alvo de R$ 43, representando valorização de 39%, enquanto o BTG Pactual também mantém compra com preço-alvo de R$ 44.
A Ativa adota recomendação neutra, com preço-alvo de R$ 44, o que indica potencial de valorização de 41,9% sobre o fechamento anterior, considerando a volatilidade do mercado e alternativas de investimento avaliadas mais atraentes.
Entre os riscos, Abu-Jamra, da Klooks, aponta a interferência política, já que o governo, controlador da estatal, pode alterar a política de preços de combustíveis ou direcionar investimentos com retorno limitado, além da volatilidade da cotação do petróleo.
O plano de investimentos da Petrobras, segundo ele, é agressivo e depende de patamares saudáveis do Brent para não comprometer a saúde financeira.