- O dólar iniciou esta quarta-feira (6) como o grande protagonista dos mercados globais, em alta frente a praticamente todas as divisas rivais e emergentes
- Mas, depois de disparar pela manhã, o dólar começou a cair e às 14h valia R$ 5,70, o menor patamar intradia em uma semana
- Carry trade, fluxo de capital estrangeiro e expectativa pelo fiscal podem estar por trás do alívio no câmbio
O dólar iniciou esta quarta-feira (6) como o grande protagonista dos mercados globais, em alta frente a praticamente todas as divisas rivais e emergentes. O fortalecimento da moeda americana era um reflexo direto da vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais nos Estados Unidos.
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Como mostramos aqui, o índice DXY, que compara as flutuações do dólar em relação a seis dividas relevantes como euro, libra e ienes, tinha alta de cerca de 2% no início desta quarta-feira. O índice chegou a tocar a máxima em quatro meses. O dólar também deu um salto contra o peso mexicano e o yuan chinês, assim como iniciou o pregão com alta de 1,95% frente ao real, a R$ 5,86.
Mas o humor virou. Ainda que especialistas acreditem que a vitória do republicano jogue a favor de um fortalecimento da moeda americana, já no começo da tarde, o dólar começou a cair. Às 14h, valia R$ 5,70, com queda de 0,66% em relação ao real. É o menor patamar intradia em uma semana.
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“O mercado está aproveitando pra auferir lucro, já que o dólar deu uma baita esticada pela manhã”, explica Elson Gusmão, diretor de câmbio da Ourominas. “A possibilidade de que os cortes do Fed ano que vem possam diminuir de grau e a Selic suba também gera um sentimento favorável ao carry trade.”
O carry trade é uma aplicação financeira que consiste em tomar dinheiro a uma taxa de juros em um país e aplicá-lo em outra moeda, onde as taxas de juros são maiores – e, assim, lucrar com a diferença. Isso significa que, quanto maior o diferencial de juros entre o Brasil e os EUA, mais atrativo o País fica aos olhos do investidor estrangeiro.
E as reuniões de política monetária podem ajudar nisso. O Comitê de Política Monetária (Copom) se reúne nesta quarta-feira para decidir sobre o futuro da Selic. O consenso de mercado aponta para um ajuste de 0,50 ponto percentual, que elevaria os juros brasileiros para 11,25% ao ano. Lá fora, o Federal Reserve (Fed) decidirá sobre a taxa americana na quinta-feira (7) – para a reunião nos EUA, não há consenso, mas a maior chance é de um corte de 25 pontos-base.
Brasil no radar, apesar do fiscal
Bruno Fratelli, economista da Journey Capital, explica que a queda do dólar frente ao real é relevante tendo em vista o bom desempenho da moeda frente aos pares emergentes. Pela manhã, a moeda americana bateu seu maior valor frente ao peso mexicano desde julho de 2022. O entendimento é de que alguns países, emergentes e desenvolvidos, podem sofrer mais do que o Brasil com as políticas protecionistas de Trump porque dependem mais da exportação para o país.
“Não que o real não vá sofrer, mas, por causa desse grau de exposição ao risco de tarifas, é bem provável que essas moedas apanhem mais do que a brasileira”, diz Fratelli. O economista destaca ainda que o fluxo de capital estrangeiro também pode estar pontualmente de volta ao mercado brasileiro – ainda não é possível confirmar, pois esses dados só são divulgados pela B3 com certo atraso. “Parece que está havendo aumento no fluxo de estrangeiros aqui no Brasil, que podem estar observando o País como uma alternativa de emergente em relação aos outros pares”.
Um outro ponto de alívio nesta quarta-feira é a questão fiscal. Ainda que o governo não tenha apresentado nenhuma proposta para o corte de gastos, o Executivo passou a semana reunido em Brasília para endereçar o tema. A perspectiva de que as medidas sejam anunciadas logo já vinha ajudando na recuperação do real desde a segunda-feira (4), depois do pico de estresse da última semana, que levou o dólar ao seu segundo maior patamar nominal da história, a R$ 5,86.
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“Nos últimos dias, a cotação do dólar já refletia isso, como mostrado pela correção após a alta de segunda-feira, com a moeda recuando firmemente ontem e hoje operando abaixo dos R$ 5,75. A expectativa agora é de que o governo acelere as medidas fiscais para conter a pressão sobre o câmbio, que pode, por sua vez, pressionar a inflação e resultar em juros mais altos. A pressão fiscal tem sido um dos principais fatores que influenciam o comportamento do dólar em relação ao real, no curto prazo, o mercado segue atento às medidas do governo para controlar as contas públicas”, destaca Diego Costa, head de câmbio para o Norte e Nordeste da B&T Câmbio.
Por que vitória de Trump fortalece o dólar
Como mostramos aqui, Trump foi eleito com propostas econômicas mais protecionistas, incluindo o aumento de imposto de importação, com tarifas mais elevadas para a China. A possibilidade de manutenção dessas tensões comerciais tende a sustentar a demanda por ativos seguros, favorecendo a moeda americana. Isso já era esperado no mercado e vinha pressionando o câmbio dias antes da eleição.
Agora, com a vantagem republicana também no Congresso americano, essa expectativa começa a se materializar. “Ao encampar uma agenda claramente nacionalista e isolacionista do mundo, tal resultado, em um primeiro momento, é extremamente favorável ao dólar e as ações americanas, que deverão se beneficiar de novas rodadas de estímulos tributários e afrouxamento fiscal, o que eleva os juros americanos”, explica Daniel Cunha, estrategista-chefe da BGC Liquidez.
O especialista explica que a conjuntura de dólar forte e aumento na curva de juros nos EUA eleva a percepção de risco e cria vulnerabilidades adicionais para os mercados emergentes, como o Brasil. O resultado disso é a depreciação de suas moedas.
Um outro ponto que joga a favor de um dólar mais forte no novo mandato de Trump é a inflação. O entendimento do mercado é que a agenda econômica apresentada na campanha é inflacionária; e, com a maioria republicana no Congresso, essas propostas podem ter maior facilidade de sair do papel.
“Com Trump eleito, as expectativas do mercado incluem a possibilidade de um retorno à sua abordagem ‘America First’, que pode significar a continuidade ou até a expansão das tarifas sobre produtos chineses. Se ele decidir aumentar as tarifas em 60% para a China e 10% para outros países, conforme ventilado, isso resultaria em uma pressão inflacionária elevada”, destaca JR Belardo, sócio e especialista em câmbio na Duo Digital.
O aumento da inflação implicaria em taxas de juros mais altas por mais tempo nos EUA, o que, por consequência, mantém o dólar valorizado. “Essas medidas são vistas como inflacionárias e potencialmente prejudiciais para a economia de outros países, especialmente para os mercados emergentes, como Brasil e México, que dependem fortemente do comércio global”, afirma o vice-presidente executivo do Grupo Travelex Confidence, João Manuel Campanelli Freitas. “Para os Estados Unidos, no curto prazo será bom, mas no longo prazo pode ser ruim por conta da inflação”, completa.
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