

Ao divulgar o seu balanço do quarto trimestre de 2024, a empresa M. Dias Branco (MDIA3) trouxe uma novidade aos investidores: a implementação de uma política de distribuição de dividendos mensais. A ideia é repassar R$ 0,03 por ação a partir de abril de 2025. Assim, a companhia se junta a outros players brasileiros que anunciaram propostas semelhantes no ano passado.
Se antes essa forma de distribuição de proventos era típica dos Fundos de Investimento Imobiliários (FIIs), agora mais empresas estão adotando a tendência. No começo de 2024, a JHSF (JHSF3) passou a seguir repasses mensais de dividendos, pagando cerca de R$ 0,03 por papel todos os meses do ano aos seus acionistas. O entendimento dos analistas ouvidos pelo E-Investidor nesta matéria era de que a proposta poderia aumentar a liquidez das ações JHSF3 e atrair interessados por renda passiva.
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Já em agosto do ano passado, a Vulcabras (VULC3), dona das marcas Olympikus e Mizuno, anunciou que também adotaria uma política parecida e passaria a distribuir R$ 0,125 por ação todos os meses. Na época, a decisão foi vista com “bons olhos” pelo mercado, que considerava a medida uma forma de tornar a ação mais atrativa para os investidores, proporcionando maior segurança ao aplicar no papel.
Além das empresas que distribuem dividendos mensais, existem aquelas que fazem o mesmo com juros sobre capital próprio (JCP). É o caso dos bancos Banestes (BEES3;BEES4), Itaú (ITUB3;ITUB4) e Bradesco (BBDC3;BBDC4). Vale lembrar, no entanto, que os JCP sofrem retenção de Imposto de Renda (IR) de 15% na fonte, diferentemente dos dividendos.
Quanto cada empresa paga de dividendos?
Quando se trata de dividend yield (DY) – rendimento de dividendos –, a campeã nos últimos 12 meses foi a Vulcabras, com um retorno de 10,16%, de acordo com levantamento de Einar Rivero, CEO e sócio-fundador da Elos Ayta Consultoria.
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Outro destaque positivo foi o Itaú. No caso das ações ordinárias do banco, o DY chegou a 9,69%, enquanto as ações preferenciais entregaram um rendimento de dividendos de 8,38%. No fim da lista, está a M. Dias Branco, com um dividend yield de 0,6%.
Em 2025, a JHSF já tem datas marcadas até março para realizar os seus repasses mensais que giram em torno de R$ 0,03 por ação. A Vulcabras também tem um calendário estabelecido até o mesmo período, com o valor de distribuição mensal seguindo em R$ 0,125 para este ano.
Já a M. Dias Branco vai aumentar a sua frequência de repasses trimestrais para mensais a partir de abril, distribuindo R$ 0,03 a cada mês, o que totaliza R$ 0,09 por trimestre. A companhia, que divulgou um calendário de pagamentos até dezembro de 2025, manterá o compromisso de pagar 80% do seu lucro ajustado em proventos aos acionistas.
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Os bancos também definiram o seu calendário completo de distribuições para este ano. O Banestes deve pagar cerca de R$ 0,02 por ação no primeiro dia útil de cada mês. O Bradesco seguirá as mesmas datas, com distribuições mensais de aproximadamente R$ 0,017 por ação ordinária e R$ 0,018 por ação preferencial. Segundo o seu calendário de 2025, o Itaú também pagará os investidores no primeiro dia útil de cada mês, com um JCP de R$ 0,01765 por ação.
Qual a melhor ação que paga proventos mensais?
A maioria dos analistas consultados pela reportagem tem uma preferência clara pelo Itaú dentre as empresas que repassam proventos mensais. O entendimento é de que, além dos JCP regulares, a companhia também paga dividendos complementares atrativos, o que eleva o seu DY.
Victor Bueno, sócio e analista de ações da Nord Investimentos, destaca os bons resultados apresentados pelo banco, que alcançou, no quarto trimestre de 2024, um retorno sobre o patrimônio líquido (ROE, na sigla em inglês) de 22,1%, alta de 0,9 ponto porcentual em um ano.
O analista enxerga que, no futuro, o Bradesco também pode se tornar uma opção interessante. “A empresa vem passando por uma reestruturação, estando ainda longe do Itaú em termos de rentabilidade. Quando tivermos uma confiança maior em seus resultados pode se tornar opção atraente para proventos”, afirma.
Quem também prefere o Itaú é Matheus Lima, analista de investimentos e sócio da casa de análise Top Gain. “Dentre as companhias que fazem repasses mensais, eu gosto de Itaú e Bradesco, mas com uma preferência maior para Itaú, que acabou conseguindo entregar um crescimento mais significativo ao longo dos meses e, então, o dividendo acaba sendo, obviamente, um bônus a mais do ganho de capital que você já tem sendo investidor dessa empresa.”
Lima explica que o Bradesco, apesar do pagamento recorrente, acaba tendo oscilações de preço em suas ações maiores do que as do concorrente, aumentando a volatilidade e, consequentemente, a insegurança para o investidor.
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Em termos de riscos, o analista acredita que o Itaú é mais resiliente a variações da economia devido à sua política estruturada e menor exposição a pressões competitivas. “Para o investidor, a escolha depende do objetivo: estabilidade com Itaú ou uma aposta um pouco mais dinâmica com Bradesco”, destaca.
Ações pagam dividendos mensais, mas sofrem com volatilidade
Já as ações das distribuidoras de dividendos mensais – JHSF, M. Dias Branco e Vulcabras – tendem a sofrer com maiores volatilidades pelos setores em que atuam, segundo Bueno, da Nord Investimentos.
O analista explica que, mesmo tendo um DY atrativo nos últimos 12 meses, de 8,51%, o cenário de alta de juros pode ser prejudicial à JHSF. O Comitê de Política Monetária (Copom) já sinalizou um novo aumento da Selic em março, para 14,25% ao ano, o que tende a pressionar a empresa.
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No caso da M. Dias Branco, o analista considera o DY pouco atrativo, com um payout (porcentagem do lucro líquido distribuído em dividendos) de 80%. “Os resultados da empresa são muito dependentes do dólar e o balanço anterior não foi muito animador, assim como as perspectivas futuras”, complementa.
Já a Vulcabras, líder em termos de DY, tem entregado resultados positivos, de acordo com Bueno, mas também corre o risco de ser impactada pelos juros altos, o que, consequentemente, geraria interferências em seus dividendos.
Retorno, consistência e valuation
Hayson Silva, analista da Nova Futura Investimentos, no entanto, tem uma visão diferente. Para ele, as ações VULC3 representam a melhor oportunidade dentre as distribuidoras de proventos mensais. "Todas valem a pena em algum grau para quem vive de dividendos, mas Vulcabras é a estrela atual pela combinação de retorno, consistência e valuation (valor de mercado)”, afirma.
Segundo suas projeções, a empresa deve voltar a entregar um DY acima de 10% para 2025, com dividendos mensais sustentados por uma sólida geração de caixa e crescimento dos lucros. Além disso, a ação negocia a um preço considerado atrativo, a 8 vezes P/L (preço sobre lucro).
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