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Rússia e Ucrânia em debate na ONU: entenda o impacto no mercado

Apesar da distância geográfica com o Brasil, a situação pode causar apreensão nos investidores

Rússia e Ucrânia em debate na ONU: entenda o impacto no mercado
Com conflito, civis passaram a integrar a força territorial de defesa da Ucrânia. Efrem Lukatsky/AP
  • O impacto na cadeia produtiva é justamente um dos principais motivos de estresse em questões geopolíticas. Além disso, com possíveis sanções econômicas dos Estados Unidos à Rússia, o mundo relembra o período de rivalidade entre os dois países, a Guerra Fria
  • Existe uma tendência de problemas na oferta de commodities, assim como no fornecimento de energia elétrica na Europa, que já sofre com baixos níveis de gás. Com essas variáveis, acentuam-se as preocupações como a crise energética global e, consequentemente, o impacto na inflação
  • Enquanto os índices do mercado de ações mundial já respondem ao aumento da inflação, a preocupação com o desenvolvimento do conflito também impacta a precificação de ativos.

Cenários de guerras e conflitos ao redor do mundo chamam atenção para questões sociais, políticas e financeiras. Com as tensões entre Ucrânia e Rússia nos holofotes, as preocupações voltaram a influenciar o mercado.

A região presencia o posicionamento de tropas russas próximo à fronteira, assim como o envio de tropas e armamentos da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), na Ucrânia. A movimentação chamou atenção especialmente porque o país comandado por Vladimir Putin é um dos mais armados, além de ser um dos principais parceiros comerciais da Europa.

O impacto na cadeia produtiva é justamente um dos principais motivos de estresse em questões geopolíticas. Além disso, com possíveis sanções econômicas dos Estados Unidos à Rússia, o mundo relembra o período de rivalidade entre os dois países, a Guerra Fria.

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Nesta segunda-feira (31), a Rússia e os Estados Unidos trocaram farpas durante o Conselho de Segurança das Nações Unidas (ONU) ao debater o envio das tropas e soldados russos na fronteira com a Ucrânia. Washington diz que a Rússia já estava se preparando ao reunir mais de 100 mil soldados próximos à fronteira. Para os EUA, o movimento representa “uma ameaça à paz e à segurança”.

Em discurso, o embaixador da Rússia nas Nações Unidas, Vasily Nebenzya, acusou os EUA de gerar “histeria” e negou que o país tem a intenção de invadir a Ucrânia. “Não há nenhuma invasão planejada, ninguém disse isso, muito pelo contrário”, disse. “Parecem estar pedindo a guerra e esperando que ela aconteça”, acrescentou. O embaixador também negou que o número efetivo de militares fosse de 100 mil.

Em pronunciamento na última sexta-feira (28), o secretário de Defesa Lloyd J. Austin III afirmou que qualquer ataque russo ou incursão adicional na Ucrânia inflamaria o conflito e violaria os princípios fundamentais da soberania nacional, integridade territorial e autodeterminação.

Apesar da distância geográfica com o Brasil, a situação pode causar apreensão nos investidores. “Além de sermos um país pacifista diplomaticamente, precisamos de uma retomada da economia mundial para que cresçamos juntos e tenhamos prosperidade”, diz Ricardo Teixeira, coordenador do MBA em Gestão Financeira da FGV.

Segundo Heloïse Sanchez, analista da Terra Investimentos, as tensões na região impactam o mercado financeiro, principalmente em relação às commodities. “Isso acontece porque a região de Crimeia [península autônoma no sul da Ucrânia pró-Rússia] possui grande importância comercial por fazer fronteira com o Mar Negro e por ser uma região produtora de grãos e vinhos com avançada indústria alimentícia. Grande parte dessa produção acaba sendo levada para a Europa e para a própria Rússia”, explica.

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Por conta disso, existe uma tendência de problemas na oferta de commodities, assim como no fornecimento de energia elétrica na Europa, que já sofre com baixos níveis de gás. Com essas variáveis, acentuam-se as preocupações como a crise energética global e, consequentemente, o impacto na inflação.

Enquanto os efeitos na economia global podem influenciar negativamente o crescimento brasileiro, em alguns setores o País pode ter ganhos. Segundo José Márcio Camargo e Yihao Linn, da equipe de análise da Genial Investimentos, Ucrânia e Rússia são o quarto e o quinto maiores exportadores de milho do mundo, respectivamente.

“Como o Brasil é um importante exportador de milho, acreditamos que o eventual conflito e a consequente aceleração de preços podem beneficiar as empresas do setor agroexportador de grãos”, afirmam os especialistas.

Por outro lado, em caso de conflito, a exportação global de milho pode ser reduzida em 18,%, o que causaria risco de desabastecimento de alimentos no mundo, gerando crises humanitárias em meio a um ciclo de recuperação global

“A aceleração do preço do milho impacta o processo de arrefecimento da inflação brasileira, sendo um obstáculo para a desaceleração da inflação de alimentos e dificultando o trabalho do Banco Central”, complementam Camargo e Linn.

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Vale lembrar que junto ao Brasil, Índia, China e África do Sul, a Rússia também é integrante do Brics, grupo de países do mercado emergente.

Disrupção na cadeia produtiva

Igor Lucena, economista e doutorando em Relações Internacionais pela Universidade de Lisboa, reforça que a Rússia é responsável por aproximadamente 40% do gás consumido na Europa.

“Com sanções, a Rússia estaria impedida de exportar minério, carvão, petróleo e gás, o que causaria uma pressão econômica para o fim do conflito armado. Se a Europa passasse por um desabastecimento, toda a cadeia produtiva global seria afetada”, indica.

Lucena ainda aponta que os mercados já sofrem com a inflação resultante do impacto dos períodos de isolamento durante a pandemia. Com alterações na cadeia produtiva, os problemas seriam duplicados.

Para a equipe da Genial Investimentos, a influência nas cadeias produtivas de produção e de suprimento, caso a exportação russa seja suspensa ou diminua, deve causar volatilidade nos mercados, assim como no câmbio. “Esse fato torna mais preocupante o fenômeno de elevada inflação global, impondo mais desafios nas decisões de política monetária dos principais bancos centrais, em particular, o Banco Central americano (Fed)”, destaca relatório da casa.

Thiago de Aragão, colunista do E-Investidor e diretor de estratégia da consultoria Arko Advice, lembra que a Ucrânia é um dos principais exportadores de trigo. Com a possível invasão, pode haver desestabilização da produção, assim como distribuição. Por conta disso, o aumento do trigo pode ser esperado no mundo e, consequentemente, o preço de produtos.

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“No Brasil, isso pode afetar até o preço do pãozinho em um cidade pequena”, comenta.

Precificação do conflito nos índices

Enquanto os índices do mercado de ações mundial já respondem ao aumento da inflação, a preocupação com o desenvolvimento do conflito também impacta a precificação de ativos.

Para Lucena, o aumento dos juros nos EUA já criou abertura de oportunidade para mercados emergentes. Como exemplo, a Bolsa conseguiu subir aos 112 mil pontos em janeiro depois de ter fechado 2021 próximo aos 100 mil pontos.

“Isso foi um leve alívio. Mas além das eleições presidenciais ao longo do ano e a crise fiscal, a crise na Ucrânia também derruba bolsas, pensando na possibilidade de diminuição dos recursos energéticos da Europa. A ômicron deixa de ser o maior problema global, e a segurança toma essa posição”, complementa.

Segundo Aragão, da Arko, ainda é cedo para ver a precificação no mercado. “O impacto no índice por conta de preocupações políticas acontece quando existe opções bilaterais. Nesse caso de Rússia e Ucrânia, ainda há muitas incertezas”, aponta.

Ele destaca alguns questionamento que o investidor deve ter atenção para identificar movimentos de precificação. A invasão vai acontecer? Quando? Agora ou em quatro meses? Que tipo de invasão vai ser? A Rússia vai tomar o país inteiro ou um corredor para a Crimeia?

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