- O economista Gabriel Galípolo, indicado pelo Governo à presidência do Banco Central em 2025, enfrentou uma sabatina no Senado na manhã desta terça-feira (8)
- Na sabatina, Galípolo foi perguntado sobre assuntos técnicos e em relação à condução da política monetária
- Os senadores criticaram, por exemplo, os juros elevados, uma vez que a taxa básica de juros Selic está em 10,75% ao ano e com visão para subir a 11,75% ao ano até o fim de 2024. Sobre isso, o economista reforçou a autonomia do Banco Central para definir a Selic
O economista Gabriel Galípolo, indicado pelo Governo à presidência do Banco Central em 2025, enfrentou uma sabatina no Senado nesta terça-feira (8). A sessão de perguntas da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) é uma das etapas do processo de aprovação para o principal cargo da autoridade monetária. Finalizados os questionamentos, o nome dele passou por votação entre os senadores, que o aprovaram com unanimidade.
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No mercado, os investidores e analistas acompanharam de perto a performance de Galípolo, uma vez que as respostas dele poderiam indicar a postura a ser adotada pelo futuro presidente do BC a partir do ano que vem. Vale lembrar que ele já é diretor de política monetária da instituição e, quando assumiu o posto em 2023, gerou polêmica por supostamente ser “heterodoxo” – nomenclatura utilizada para uma vertente de economistas que toleram gastos públicos e inflação maiores. Também era visto como alguém próximo ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que é abertamente crítico a juros altos, o que levantou preocupações de interferência política no BC no novo mandato.
Com o passar dos meses e das reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom), algumas das principais preocupações se dissiparam. Galípolo demonstrou uma atuação e discursos alinhados com o que o mercado espera do Banco Central: postura diligente no combate à inflação. No último encontro do Copom, por exemplo, os diretores votaram em unanimidade para subir a taxa básica de juros Selic.
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“Galípolo, atual diretor de Política Monetária do BC, destaca-se por sua postura técnica e independente, especialmente ao apoiar aumentos na taxa Selic para controlar a inflação, mesmo diante de pressões políticas. Sua experiência em gerenciar crises financeiras e dialogar com diversos atores econômicos fortalece a confiança do mercado em sua liderança”, afirma Felipe Vasconcellos, Sócio da Equss Capital.
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Jefferson Laatus, chefe-estrategista do grupo Laatus, tem uma visão parecida, mas ressalta uma incerteza. “”O Galípolo tem capacidade para estar ali, sua indicação é positiva para o mercado”, afirma. “A única preocupação é o fato de ele ser muito próximo ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e, se pressionado, acabe cedendo. A grande questão é se ele pode ser leniente ou não com a inflação. Porém, sobre isso só vamos ter certeza em janeiro, na primeira reunião que terá de fato com ele presidindo”, diz o especialista.
Galípolo na sabatina: qual a visão do mercado?
Na sabatina, Galípolo foi questionado sobre assuntos técnicos e principalmente em relação à condução da política monetária. Os senadores criticaram, por exemplo, os juros elevados, uma vez que a taxa básica de juros Selic está em 10,75% ao ano e com visão para subir a 11,75% ao ano até o fim de 2024. Sobre isso, o economista reforçou a autonomia do Banco Central para definir a Selic. Também ressaltou que os juros são o necessário para atingir a meta de inflação de 3%, estipulada pelo próprio Governo.
O posicionamento agradou o mercado. “Está totalmente dentro do esperado, não houve nenhuma surpresa, tudo dentro da previsibilidade”, afirma Denis Medina, economista e professor da Faculdade do Comércio. “Por isso, não vejo o mercado reagindo a isso.”
Gabriel Meira, especialista e sócio da Valor Investimentos, também acompanhou a sabatina e não se surpreendeu com a performance de Galípolo. “Nada além do esperado ou fora do normal, até porque o meio de campo com o mercado já foi feito pelo Galípolo e pela equipe do Banco Central há muito tempo. O Senado quer entender basicamente se o indicado não vai se deixar levar pela pressão do presidente Lula, de forma geral. Mas até agora, foi tudo bem tranquilo”, afirma.
Com as falas de Galípolo seguindo o “rito”, a Bolsa não deve ser influenciada de forma negativa. A queda de 0,4% do Ibovespa até as 14h40 de hoje, por exemplo, tem outros fatores como pano de fundo. “A maior influência no índice hoje é a queda de Vale (VALE3) e Petrobras (PETR4), por conta de baixa das commodities”, diz Meira.
Já o que chamou a atenção de Enrico Cozzolino, sócio e head de análise da Levante Investimentos, foram as falas do futuro presidente do BC em relação ao relacionamento com o presidente Lula. Segundo Galípolo, o líder do Executivo jamais o pressionou para baixar juros.
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“O Lula é um crítico aos juros na mídia, no discurso, mas Galípolo bateu muito nesse ponto na não-interferência do Governo”, diz Cozzolino. “O economista também teve uma fala interessante sobre a confusão que as pessoas fazem com a política monetária. Ele mencionou que quando as pessoas criticam os juros altos, na verdade o problema é a inflação. As pessoas sentem muito mais a inflação elevada do que os juros elevados.”
Matheus Spiess, analista da Empiricus Research, seguiu o mesmo entendimento. “Zero novidade em relação à sabatina. Galípolo estava com a articulação em dia com os senadores. Fala em linha com o que ele tem falado, respeitando a autonomia do BC, defendendo arcabouço técnico e se mantendo bem firme em relação ao combate à inflação, sem surpresas. Não poderia ser diferente”, afirma.