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![Somente uma ação do setor de siderurgia deve se salvar do tarifaço de Trump (Foto: Adobe Stock)](https://einvestidor.estadao.com.br/wp-content/uploads/2025/02/tarifaco-trump-gerdau-ggbrr-usiminas-usim5-csn-csna3_100220250438-710x473.webp)
O presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou a imposição de tarifas de 25% sobre o aço e alumínio produzidos em outros países, oficializado com a ordem executiva assinada nesta segunda (10). Analistas do mercado financeiro, ouvidos pelo E-Investidor, dizem que duas empresas da Bolsa podem ser drasticamente impactadas pelo tarifaço de Trump, mas há uma fabricante de aço que está vacinada no assunto e os aumentos de impostos podem até beneficiá-la.
Trump, assinou, por volta das 20h de Brasília, o decreto com a imposição de amplas tarifas de 25% sobre as importações de aço e alumínio pelo país, inclusive sobre os embarques desses produtos pelo Canadá e do México, que juntos respondem por cerca de 40% das importações de aço dos EUA.
“Hoje estou simplificando nossas tarifas sobre aço e alumínio“, disse Trump no Salão Oval ao assinar ordens executivas. “São 25% sem exceções ou isenções”, disse. Estas tarifas seguem-se às taxas de 10% anunciadas sobre a China – que anunciou as suas próprias tarifas retaliatórias sobre alguns produtos importados dos EUA – e às taxas de 25% sobre o Canadá e o México, que foram adiadas. Na Bolsa de Nova York, as ações das siderúrgicas americanas já reagiam, nesta segunda-feira, à expectativa de aplicação de tarifas. Os papéis da Nucor ganharam 5,58%, os da Steel Dynamics subiram 4,86%, os da Cleveland-Cliffs saltaram 17,93% e os da Alcoa tiveram alta de 2,24%.
De acordo com João Daronco, analista da Suno, é muito cedo para ter uma opinião definitiva sobre as tarifas sobre o aço e o alumínio no Brasil, principalmente porque não se sabem os reais desdobramentos.
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Bruno Corano, economista da Corano Capital, comenta que os Estados Unidos não conseguem produzir nem de perto a quantidade necessária para suprir o consumo interno de aço. O país é um grande importador de aço. Ele importa esse aço primeiro do Canadá, depois do Brasil e depois do México. São os três maiores exportadores de aço para os Estados Unidos. “O Brasil não vende, não tem uma dependência única e exclusiva dos Estados Unidos para a venda de aço, vende para vários outros mercados. Então é muito mais sensível a concorrência com outros produtores de aço, especialmente a China, do que o fato de os Estados Unidos taxarem o aço”, diz.
Na visão dos analistas da Ágora Investimentos, as tarifas prometidas pelos Estados Unidos podem ter um efeito negativo no mercado, pela pressão que o anúncio pode causar nas ações de siderurgia. Já Acilio Marinello, sócio-diretor da essentia consulting, a medida deve fazer com que o preço global do aço desça no curto prazo por excesso de oferta no mundo até que o mercado se reequilibre.
“A política não se aplica somente para o Brasil, mas para todos os produtores e exportadores de aço no mundo. Isso deve gerar uma redução das exportações globais para os Estados Unidos, provavelmente, e com isso vai ter um aumento da oferta desse produto”, diz Marinello.
Segundo o Instituto Aço Brasil, os EUA ficaram com 60% do volume de exportações de produtos siderúrgicos do Brasil em 2024. João Abdouni analista da Levante Inside Corp, relata que as companhias podem ter alguma dificuldade para redirecionar suas exportações no curto prazo.
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“O que pode ocorrer também são novas operações de aço serem expandidas nos EUA, o que geraria mais competição”, diz Abdouni. Ele afirma ainda que as empresas brasileiras teriam uma menor produção de aço, justamente para compensar as margens de lucratividade, que tendem a ser menores com os impostos de Donald Trump. O E-Investidor entrou em contato com o Ministério da Indústria para saber o que o governo faria nesse caso, mas não obteve resposta até o momento.
Quais empresas podem sofrer com o tarifaço de Trump?
Em linhas gerais, os analistas citam duas ações que podem sofrer com o tarifaço de Trump: Usiminas (USIM5) e CSN (CSNA3). Bruno de Souza, CEO da consultoria SouzaMAAs, comenta que a Usiminas e a CSN têm uma presença mais concentrada no mercado brasileiro e exportam para os EUA. “A imposição das tarifas pode afetar negativamente suas exportações, reduzindo a competitividade e diminuindo potencialmente as receitas provenientes do mercado americano”, diz Souza.
O especialista lembra também que a Vale (VALE3) pode ser afetada indiretamente, já que a redução na produção de aço no Brasil, decorrente das tarifas, poderia diminuir a demanda interna por minério de ferro, o que não seria favorável o para a companhia. “Para a Vale, o impacto direto das tarifas sobre o aço pode ser limitado, uma vez que a empresa exporta principalmente matérias-primas e não produtos siderúrgicos acabados”, salienta.
Já Arthur Horta, especialista em investimentos da GTF Capital, diz que entre Usiminas e CSN, a segunda seria a mais afetada. Segundo ele, ainda que a Usiminas exporte para os EUA, o número é muito inferior na comparação com a CSN. Na visão dele, a CSN tende a ser a mais impactada e, por isso, o investidor deve ter cautela com a ação.
Alguma ação estaria blindada ao tarifaço de Trump?
Segundo os analistas do Safra, o investidor pode pensar que as ameaças de Donald Trump de aumentar os impostos sobre as importações americanas de aço seriam prejudiciais para todas as empresas do setor. No entanto, os especialistas dizem que o governo americano tende a taxar justamente as produções realizadas fora do país. Como a Gerdau (GBBR4) produz o aço dentro dos EUA, a empresa não seja taxada. Isso acabaria beneficiando a produção da companhia. Ou seja, a empresa é a única a estar protegida em relação a esses aumentos.
Os analistas do BTG Pactual lembram que a expectativa é de que os preços do aço aumentem nos EUA após os impostos, o que deve beneficiar a Gerdau no curto e médio prazo. “No entanto, alertamos os investidores de que ainda não sabemos por quanto tempo essas tarifas, ou o fluxo de notícias, permanecerão em vigor, e os fundamentos do aço dos EUA permanecem um pouco pressionados no curto prazo”, dizem Leonardo Correa e Marcelo Arazi.
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Desse modo, o consenso entre os analistas é de que o investidor deve ter o papel da Gerdau na carteira e evitar fazer novas aquisições. O Safra comenta que a estabilização do preço do aço tende a ser muito positiva para a empresa, ao ponto dela superar a rival Usiminas. “Para colocar o cenário em contexto, se os preços do aço no Brasil e nos EUA se estabilizarem nos níveis do quarto trimestre de 2024, a ação da Gerdau seria negociada a 3,7 vezes o múltiplo (EV/EBITDA) estimado para 2025 e 4% de rendimento do fluxo de caixa livre, um múltiplo muito mais atraente do que o da Usiminas, que seria negociada a 4,9 vezes para 2025”, dizem.
O Safra tem recomendação de compra para a Gerdau com preço-alvo de R$ 23,50 para o fim de 2025, uma possível alta de 28,93% na comparação com o fechamento de sexta-feira (7). Para a Usiminas a recomendação é neutra, com preço-alvo de R$ 6,80, crescimento de 21,42% na comparação com o fechamento de sexta-feira (7), dia em que o papel terminou o pregão a R$ 5,60.
A Ágora Investimentos tem a ação da Gerdau como a sua top pick do setor (ação favorita). Os analistas calculam um preço-alvo de R$ 19 para o fim de 2025, uma alta de 13,8% em relação ao fechamento sexta-feira. A recomendação da corretora para Usiminas e CSN é de neutra. A Levante também diz ter preferência pela ação da Gerdau e, como Vale deve ser pouco afetada, também entra para a lista de suas preferências. Os demais ativos devem ficar de fora da carteira.
Em resumo, o investidor pode encontrar na Gerdau uma segurança e benefício sobre o tarifaço de Trump, o que não tende a ser o mesmo para CSN e Usiminas. Ainda assim, o investidor deve se lembrar do conselho da Suno e do BTG: ainda é cedo para tomar alguma decisão de grande mudança na carteira de investimentos. Os novos impostos não foram oficializados e muita coisa pode mudar, o que deve exigir parcimônia do investidor.
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(Com informações do Broadcast)