Donald Trump gera, mais uma vez, incertezas sobre tarifas comerciais e abala mercados (Foto: Adobe Stock)
Em meio à reunião de cúpula do Brics, que ocorre no Rio de Janeiro, o presidente dos Estados Unidos (EUA), Donald Trump, ameaçou impor taxas extras a produtos de países que se alinhem ao grupo, formado por 11 nações, entre elas Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. A publicação foi feita em seu perfil na rede Truth Social.
“Qualquer país que se alinhe às políticas antiamericanas do Brics será taxado com tarifa extra de 10%. Não haverá exceções a essa política. Obrigado pela atenção sobre essa questão”, escreveu Trump. No domingo (6), a declaração de líderes do Brics criticou medidas protecionistas adotadas no comércio global.
Analistas do mercado financeiro destacam que as ameaças não trazem grandes impactos. No entanto, se a medida for implementada, os setores de commodities e alimentos podem ser penalizados. “O Brics tem uma participação extremamente relevante na produção e no consumo de commodities no mundo. A China é o maior consumidor, enquanto Brasil e Rússia estão entre os maiores produtores de commodities de diferentes classes: energéticas, metálicas e agrícolas”, diz Felipe Corleta, sócio da The Link Investimentos. Na bolsa de Dalian, na China, o minério de ferro encerrou esta segunda-feira (7) em baixa de 0,68%, cotado a US$ 102,01.
Segundo Gianluca Di Mattina, especialista em investimentos da Hike Capital, a postura de Trump é interpretada como uma tentativa de conter a ascensão de blocos alternativos aos EUA, como o BRICS+, e fortalecer a posição americana na indústria doméstica. “Por ora, o mercado ainda trata como ameaça política, limitando reações mais bruscas nos ativos de risco”, afirma.
Jeff Patzlaff, planejador financeiro e especialista em investimentos, diz que se Trump colocar as tarifas em prática, o impacto potencial sobre a bolsa brasileira seria duplo. De um lado, o fluxo de capital estrangeiro pode se afastar do Brasil, reduzindo liquidez e valorização. Por outro lado, investidores podem passar a enxergar as small e mid-caps industriais como ativos de risco, trazendo retração generalizada em setores cíclicos.
“Existe uma chance de que ativos brasileiros se beneficiem indiretamente do conflito entre os EUA e os Brics. Mesmo com a ameaça de tarifas, o fluxo de capitais globais em busca de mercados emergentes — já favorecidos por ações da América Latina em meio à guerra comercial — pode sustentar alguma valorização do Ibovespa e do real”, diz Patzlaff.
Vale destacar que Trump anunciou que os acordos tarifários serão oficialmente divulgados nesta segunda. Se a implementação sair do papel, os analistas dizem que a Bolsa americana tende a experimentar aumento da volatilidade, com possíveis quedas abruptas em setores mais expostos ao comércio global. “O índice S&P 500 já mostra desempenho cauteloso, enquanto os investidores avaliam novos riscos”, diz Patzlaff. As ações de tecnologia também podem sofrer impactos, considerando que a China e Índia são os principais países na produção de eletrônicos consumidos pelo mercado americano.
O que o investidor deve fazer agora?
Como a medida ainda não é oficial, Corleta, da The Link Investimentos, reforça que o melhor é manter-se fiel à estratégia de investimentos já desenhada. “Não vejo como uma alteração estrutural de cenário que justifique o investidor alterar sua alocação de longo prazo”, explica.
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Gianluca Di Mattina, da Hike Capital, reforça que é importante evitar decisões impulsivas e acompanhar de perto a evolução do cenário. “Para quem deseja proteger o portfólio, pode ser interessante aumentar a exposição a empresas com foco no mercado interno e receita recorrente”, argumenta.
Na hipótese da escalada para uma nova etapa da guerra comercial, Felipe Sant’Anna, do grupo Axia Investing, diz que o investidor brasileiro deve dolarizar a carteira. “Negociar sem dólar pode gerar uma certa instabilidade para nossas reservas cambiais. Por isso, a alocação em ativos dolarizados é uma boa solução, pois o mundo corre para o dólar na hora da crise”, diz.
Ou seja, no consenso, o investidor deve manter a calma e não fazer movimentações abruptas diante das ameaças de Trump contra o Brics. Todavia, a diversificação de portfólio com ações defensivas do mercado local e ativos dolarizados podem proteger o investidor de uma volatilidade maior no mercado, caso Trump confirme as tarifas.