Salesio Nuhs, CEO da Taurus (TASA4), fala em transferir operações do Brasil para os EUA após tarifas contra produtos nacionais na economia americana. (Foto: Taurus)
A Taurus (TASA4) volta a atrair as atenções do mercado financeiro sete anos depois de se tornar a “queridinha” da Bolsa de Valores, quando apresentou alta de 180% em 2018. Agora, porém, o interesse decorre das apostas de que a ação deve cair com a cobrança de tarifas de 50% pelos Estados Unidos a produtos importados do Brasil. Prova disso é que o aluguel do papel, até esta quinta-feira (7), já somava 3,162 milhões de posições.
A virada de percepção sobre as ações da Taurus aconteceu logo após o anúncio do presidente americano, Donald Trump, das novas taxas a produtos brasileiros. O mercado vê evidências de vendas a descoberto, ou seja, operações baseadas em apostas na queda do ativo. De 9 de julho, data do anúncio da sobretarifa de Trump, até o fechamento do pregão desta quinta-feira (7), a ação TASA4 acumulou baixa de 26%. No ano, a queda chega a 32,47%.
“Possivelmente, são especuladores atuando, entrando no papel na expectativa vendedora e se ‘hedgeando’ (referência a hedge, proteção contra volatilidade do mercado) para uma possível queda do papel”, argumenta o operador de renda variável da Manchester Investimentos, Victor Borges.
Segundo ele, a taxa de aluguel do papel está em 0,52% e, na ponta vendedora, estão os investidores estrangeiros. “Os gringos estão saindo da posição à vista e indo para a posição de derivativo, o volume vendedor no papel aumentou. E não é movimento de Tesouraria porque não tem programa de recompra de ações ativo. Talvez sejam os gringos apostando no pior com a cobrança das novas tarifas dos EUA.”
O sócio da Levante Investimentos, Enrico Cozzolino, também ressalta o forte movimento de aluguel da ação, o que pode indicar venda a descoberto.
“O investidor está se precavendo para uma queda considerável da ação com a tarifa. A Taurus pode se dar mal, por isso dobrou as posições short e vai recomprar o papel com o preço muito abaixo do que vendeu”, afirma.
Taurus transfere linha de montagem para os EUA
A Taurus é altamente dependente dos EUA, de onde vêm 90,3% de suas receitas. Atualmente, a companhia mantém uma unidade no país, mas a fábrica de São Leopoldo, no Rio Grande do Sul, produz a maior parte dos equipamentos.
Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), os EUA foram o destino de 61% das exportações brasileiras de armas e munições em 2024, com 53% das vendas partindo do Rio Grande do Sul e 47% de São Paulo.
Para tentar driblar as tarifas, o presidente-executivo da empresa, Salesio Nuhs, anunciou a transferência de operações brasileiras para os EUA. A mudança pode causar a perda de até 15 mil empregos no Rio Grande do Sul, dos quais 3 mil diretos.
“A companhia acaba de tomar a decisão de começar a transferir para a sua unidade nos Estados Unidos as linhas de montagem (não a fabricação) das armas da família G, principal linha de produto da marca”, disse o CEO da Taurus, Salesio Nuhs, em nota ao Estadão
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Tarifaço de Trump interrompe avanço da Taurus
Ações da Taurus sofrem pressão do tarifaço de Trump. (Foto: Divulgação/ Taurus)
Para participantes do mercado, o tarifaço interrompe um momento bastante positivo das operações da Taurus.
No primeiro trimestre, a companhia registrou receita operacional líquida de R$ 349,1 milhões, dos quais R$ 283,1 milhões provenientes do mercado externo. O lucro bruto somou R$ 112,9 milhões, com margem bruta de 32,3% – superior à das concorrentes americanas Ruger (22,0%) e Smith & Wesson (24,1%). O balanço do segundo trimestre será divulgado na próxima terça-feira, 12 de agosto.
“O fundamento da empresa está sólido. A Taurus está bem posicionada em relação aos seus concorrentes no segmento em que atua”, diz Borges, da Manchester. “A companhia gera caixa e seu endividamento é baixo. Além disso, há expectativa de alta nas vendas no segundo trimestre. No nível micro, ela está muito bem.”
Cozzolino, da Levante, também acredita que a queda da ação está relacionada ao temor do tarifaço.
“Quando se olha o fundamento, a empresa vem cumprindo e vem entregando como se estivesse na Dinamarca. É uma empresa sólida. É um ativo atrativo, mas com um cenário futuro ainda muito incerto.”
Segundo Cozzolino, a ação da Taurus (TASA4) ainda é negociada a múltiplos baixos. “Vejo a empresa barata, mas, na incerteza, o mercado desfaz posição e aloca em papéis mais defensivos.”