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Que diferença faz pagar a taxa de corretagem?

Ágora reduz custo cobrado dos clientes. Veja tabela com os valores das principais casas

Que diferença faz pagar a taxa de corretagem?
Foto: Pixabay
  • A taxa de corretagem tem sido um dos principais elementos de atratividade na renda variável, ou, mais precisamente, a redução e até a eliminação da tarifa
  • A taxa de corretagem nada mais é do que uma comissão paga à corretora, que atua como uma intermediário para quem vai realizar operações na B3
  • Para o fundador da Academia do Dinheiro, as pessoas que estão começando a operar em renda variável precisam de orientação profissional, cujo custo está na tarifa. Em muitos casos, abrir mão dessa cobrança pode gerar um mau negócio

A quantidade de investidores pessoa física na bolsa de valores ultrapassou a marca de 3,170 milhões em novembro, de acordo com dados da B3. O total de CPFs cadastrados é 89% maior do que no início de 2020. Essa rápida evolução têm provocado uma corrida nas corretoras de valores, que buscam cada vez mais formas de mostrar valor para esse consumidor e ganhar a preferência desse novo público.

A taxa de corretagem é um dos principais elementos de atratividade na renda variável. Em 1º de dezembro, a Ágora Investimentos reduziu os valores cobrados dos investidores para R$ 4,50 em operações de swing trade e para R$ 2,50 no day trade, o que coloca a corretora em condição melhor ou parecida com as casas que oferecem serviços aos clientes, como XP, BTG, Nova Futura, Easynvest entre outras (veja tabela no fim do texto).

“Estamos com uma política de tarifa bem agressiva, em comparação à concorrência”, diz Juliana Nogueira, head de estratégia e marketing da Ágora Investimentos. “Chegamos a um denominador interessante para os dois lados [corretora e clientes]. A taxa não foi zerada porque ofertamos muita coisa para o nosso cliente.”

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Esse é um ponto bastante importante para todo investidor entender: quais são os serviços que estão sendo adquiridos e quais ele paga de forma indireta. Na mesa de operações da Ágora, por exemplo, há um time de operadores e a corretagem segue tabela da B3, utilizada por diversas casas como referência. A taxa nessa modalidade é de 0,5% sobre o valor investido mais uma taxa fixa de R$ 25,21.

“A gente tem um time super renomado. A nossa assessoria está sempre preocupada em buscar um produto adequado ao perfil do cliente”, afirma Nogueira. “Zerar a taxa de corretagem não é sustentável. Para fazer isso, tem que ganhar na outra ponta”, completa.

Esse visão é compartilhada por outros concorrentes. “A taxa de corretagem pode até ser zero, mas o produto não tem custo zero. Se você olhar bem, há um monte de cobranças envolvidas: inventam taxa de abertura de cadastro, colocam uma ordem de stop mais alta, aumentam a alavancagem para o cara stopar mais rápido”, disse André Ferreira, sócio-diretor da Nova Futura em entrevista recente ao E-Investidor. ” São várias coisas que vão contra o bom atendimento. E o serviço é ruim, a plataforma é ruim. No mínimo, eles tinham que ter um sistema que funciona.”

Mas o tópico taxa zero mexe com o imaginário de todo investidor. Será que esse custo faz diferença para a estratégia de médio e longo prazos?

O que é taxa de corretagem?

“Quem fica correndo atrás de corretagem não entendeu o que é um investimento, porque ela não vai fazer diferença para o retorno”, diz Viriato.

A taxa de corretagem nada mais é do que uma comissão paga à corretora, que atua como uma intermediária para quem vai realizar operações na B3, com ações e fundos imobiliários, por exemplo. A cobrança é feita pois o investidor não pode mandar a ordem de compra ou venda diretamente para a bolsa. Quem faz isso é a corretora, por meio de seus operadores e plataformas, que precisam ser remunerados (no caso dos profissionais) ou custeados (no caso da tecnologia).

E é justamente esse custo que faz especialistas ficarem reticentes quanto à taxa zero. Profissionais e recursos tecnológicos compõem a série de fatores que precisam ser pagos à corretora. Resta saber se será através de outras operações da empresa ou do investidor que não lê os pormenores dos anúncios. As casas de investimentos, por sua vez, garantem que o desconto da tarifa é sustentável, sem pegadinhas, tanto que o modelo vem se multiplicando no mercado.

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Michael Viriato, professor de finanças do Insper, defende que a escolha de um investimento não deve se justificar pela corretagem, que, para ele, é o elemento menos importante na decisão. “Quem fica correndo atrás de corretagem não entendeu o que é um investimento, porque ela não vai fazer diferença para o retorno”, diz Viriato.

O foco deve ser direcionado para a oferta do serviço em si, avalia o professor do Insper. Por exemplo, a qualidade das plataformas de operação – home broker e aplicativos – bem como das informações prestadas aos clientes, quando há assessoria.

Além disso, Viriato observa que investir em ações, normalmente, é um movimento baseado em objetivos de longo prazo. Portanto, o percentual de retorno pode ser planejado já considerando a tarifa que, pelo seu tamanho, não costuma prejudicar o rendimento final.

“Se você fizer um investimento de R$ 20 mil para ganhar 30%, vai ter um retorno de R$ 6 mil. Então os R$ 5 ou R$ 10 de corretagem não faz diferença”, explica o professor do Insper.

Essa é uma hipótese de quem tem uma quantia significativa para aplicar. Quem tem menos recursos disponíveis pode considerar outros referenciais. É que a taxa de corretagem, quando não é zero, pode ser fixa – independentemente do valor investido na operação – ou pode ser variável – conforme um percentual já estabelecido.

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Mauro Calil, fundador da Academia do Dinheiro, avalia que a taxa fixa é mais vantajosa para quem possui muito capital para investimento. Já quem tem menos recurso seria mais vantajoso ter uma taxa variável.

“Investindo R$ 1 mil, com corretagem fixa de R$ 10, você está pagando 1% de taxa. Se você está investindo R$ 10 mil, a taxa cai para 0,1%. Ou seja, é melhor para quem tiver mais dinheiro”, diz Calil. “Se vai investir R$ 1 mil, com corretagem de 0,5%, está pagando R$ 5 de taxa [na compra]. Se mantiver na carteira por cinco anos e lá na frente vender, vai pagar mais R$ 5. Então são R$ 10 em cinco anos. Não é nada”, complementa.

Para o fundador da Academia do Dinheiro, as pessoas que estão começando a operar em renda variável precisam de orientação profissional, cujo custo está na tarifa. Em muitos casos, abrir mão dessa cobrança pode gerar um mau negócio. “Não existe ‘almoço grátis’. Essa conta vai vir em algum lugar e pode ser você perder seu dinheiro por não ser bem orientado na hora de operar”, alerta Calil.

“Não existe ‘almoço grátis’. Essa conta vai vir em algum lugar e pode ser você perder seu dinheiro por não ser bem orientado na hora de operar”, alerta Calil.

Redução da tarifa: um caminho sem volta?

Uma das pioneiras na corretagem zero, ainda em 2018, a Clear defende que o negócio é sustentável e que não há cobranças disfarçadas. Para Roberto Indech, estrategista-chefe da Clear, esse foi um movimento adotado pelo mercado pois facilita o acesso dos pequenos investidores ao universo da renda variável. “A gente não tem nenhum truque, não cobra pacote, plano, como grande parte da concorrência tem, para que essa taxa zero seja compensada”, diz Indech.

Em setembro deste ano, a Rico Investimentos também zerou a corretagem para operações com ações, em setembro. No mesmo mês, a XP reduziu a cobrança em 75%, com valores que vão de R$ 2,90, para day trade, a R$ 4,90, para swing trade – Clear e Rico são marcas que pertencem à XP Inc.

Os serviços variam conforme cada casa, e é nisto que os investidores precisam ficar de olho. A Clear não oferece assessoria. O modelo adotado pela corretora visa dar autonomia e independência aos clientes nas operações. Para isso, são ofertados conteúdos através dos canais digitais, como e-mail e redes sociais. “Temos algumas parcerias com casas de análises, para distribuir recomendações de ações e BDRs”, acrescenta Indech.

Taxa de corretagem – ações – app/homer broker
Corretora Swing trade Day trade
Ágora R$ 4,50 R$ 2,50
BTG Tabela regressiva, de R$ 4,50 a R$ 0,25
Clear Zero Zero
Easynvest R$ 2,49 para o mercado fracionário e R$ 4,99 para o mercado padrão R$ 2,49 para o mercado fracionário e R$ 4,99 para o mercado padrão. A partir de 200 ordens no mês, o cliente não paga mais nada naquele mês
Guide 0,1% do volume operado, limitado a R$7,50
Nova Futura Valor máximo de R$6,98 por ordem executada valor máximo de R$3,49 por ordem executada
Órama Tabela regressiva, de R$ 4 a R$ 0,20, que varia sedundo à quantidade de ordens no mês
Rico Zero Zero
Toro Zero Zero
Vitreo Zero Zero
XP R$ 4,90 R$ 2,90

Fonte: Empresas (valores atualizados em 03/12/2020)

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