De lá para cá, os papéis ordinários da companhia (ELET3) subiram 7,33%, enquanto os preferenciais (ELET6) tiveram uma valorização mais significativa, de 31,6%. No mesmo período, no entanto, o Ibovespa avançou 36,44%, enquanto o Índice de Energia Elétrica (IEEX) da B3 acumulou ganhos de 28,05%. Os dados são de Einar Rivero, CEO e sócio-fundador da Elos Ayta Consultoria.
Apesar da vaorização aquém do Ibovespa desde então, as perspectivas seguem positivas para as ações da Eletrobras. As principais casas do mercado mantêm recomendação de compra para os papéis da companhia em 2025. A mediana dos preços-alvo é de R$ 52 para as ações ELET3 e de R$ 56 para os papéis ELET6, o que representa potenciais de valorização de 25,42% e 21,29% frente aos valores atuais, respectivamente.
O que mexeu com a Eletrobras nos últimos 3 anos?
Segundo Ruy Hungria, analista da Empiricus Research, três fatores ajudam a explicar o desempenho das ações da Eletrobras abaixo do Ibovespa no período. “O primeiro foi a movimentação dos papéis nos anos anteriores à privatização, quando eles já começaram a antecipar as melhoras mesmo antes de acontecerem, o que de certa forma espremeu parte do potencial após a operação em si”, reflete.
Outra questão envolve o preço de energia, que enfrentou intervalos de baixa nos últimos 3 anos, em uma combinação de alta do nível dos reservatórios e crescimento de geração renovável, o que causou, segundo o analista, um problema de sobreoferta de energia, que acabou pressionando a Eletrobras. “Por último, houve o embate com o governo desde o início de 2023, que foi resolvido apenas em fevereiro deste ano”, acrescenta.
Esse embate estava relacionado ao desejo do governo de conseguir mais direitos de voto na companhia. Desde o início do seu mandato, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) dirigiu críticas à privatização da Eletrobras, já tendo chamado a operação de “processo leonino contra os interesses do povo brasileiro”.
O temor de interferência política na empresa pressionou os papéis especialmente durante o ano de 2023, quando as ações ordinárias chegaram a ser cotadas a R$ 28. “Os ativos da Eletrobras caíram porque o mercado ficou com medo de o governo Lula ter maioria no conselho e alterar decisões estratégicas da companhia”, destaca Flavio Conde, analista da Levante Investimentos.
No final de fevereiro de 2025, no entanto, a disputa ganhou um desfecho considerado positivo pelo mercado. Foi mantida a limitação de 10% no poder de voto para qualquer acionista. O governo federal passou a ter o direito de indicar três dos dez membros do conselho de administração, desde que cumpram os requisitos de elegibilidade estabelecidos no estatuto da companhia. Esse direito será mantido enquanto o governo detiver mais de 30% das ações com direito a voto.
Por outro lado, a Eletrobras deixou de ter a obrigação de aportar recursos para a construção da usina nuclear de Angra 3. O governo brasileiro também se comprometeu a apoiar a Eletrobras em um possível processo de desinvestimento de sua participação na Eletronuclear, buscando um potencial comprador.
Para Alexandre Pletes, head de renda variável da Faz Capital, a decisão recente ajudou a destravar o preço da Eletrobras. “O entendimento é de que, de alguma forma, houve um avanço no desenrolar do impasse que existia entre o governo e a companhia. Agora, a expectativa é de que ocorra uma melhora operacional, especialmente com a redução das ineficiências ligadas às despesas administrativas”, avalia.
Pagamento de dividendos ainda levanta dúvidas
Quando o assunto são dividendos, especialistas se dividem nas opiniões sobre a Eletrobras. De um lado, há quem acredite que a empresa deve oferecer uma combinação consistente de crescimento e repasse de proventos nos próximos anos. Do outro, há quem prefira aguardar definições mais concretas sobre a capacidade de a companhia retomar um perfil consistente de geração de caixa.
Conde, da Levante, é do time dos mais otimistas sobre a empresa. O analista acredita que os gastos com investimentos da Eletrobras têm potencial para recuar no médio prazo, o que pode abrir espaço para uma política de dividendos mais robusta. “Na minha opinião, a empresa deve ser vista como um player de ‘crescidendos’ – uma combinação de crescimento com dividendos. A expectativa é de que a companhia apresente forte crescimento de resultados nos próximos cinco anos e, na sequência, consolide-se como uma grande pagadora de dividendos”, diz.
Victor Bueno, sócio e analista da Nord Investimentos, tem uma visão mais cética. Ele enxerga uma demora na evolução do lucro líquido e no processo de desalavancagem da companhia, o que, consequentemente, afeta o pagamento de dividendos. “Em um cenário de juros mais altos, o mercado mostrou uma preferência clara por companhias com bom histórico de distribuição de proventos. No momento, não temos recomendação de compra para as ações da Eletrobras. Ainda consideramos prematuro afirmar que a empresa conseguirá concluir com sucesso esse turnaround (processo de reestruturação)”, sinaliza.
O que esperar das ações daqui para frente?
A sensação é de “página virada” em relação aos embates recentes com o governo. “Com essa questão finalizada, esperamos que sejam minimizadas eventuais disputas sobre o poder de voto da União na empresa. Continuamos aguardando melhoras significativas em termos de governança corporativa e em seu desempenho operacional”, comenta Pedro Galdi, analista CNPI da AGF Investimentos.
Outro ponto favorável, para analistas, é o preço das ações da Eletrobras. O entendimento é de que o valor está descontado na comparação com pares do mesmo setor. Segundo os cálculos de Sidney Lima, analista da Ouro Preto investimentos, os ativos da companhia negociam com P/VPA ( Preço sobre Valor Patrimonial por Ação) abaixo de 1x, múltiplo considerado pequeno.
Para os próximos meses, Lima segue vendo um ambiente relativamente positivo. “A Eletrobras está avaliada com múltiplos atrativos e a expectativa é de que, com maior estabilidade regulatória e governança, a empresa avance em eficiência e aproveite novas oportunidades de geração. No entanto, é importante considerar os riscos ligados ao setor elétrico, como regulação tarifária e evolução da demanda por energia”, pondera.