Mercado

Avanço da vacinação consolida retomada econômica na Bolsa

Migração de investidores para setores que mais sofreram com a chegada do coronavírus já é realidade

Companhias do setor aéreo, como Azul (AZUL4), já conseguem ver significativa melhora em seus balanços. Foto: Fabio Motta/Estadão
  • A luz no fim do túnel trazida pelas vacinas já se traduz em números na Bolsa de Valores, com o Ibovespa próximo aos 130 mil pontos
  • Com a reabertura econômica batendo à porta, os investidores começam a, cada vez mais, reposicionarem as carteiras para os setores mais afetados pela crise do coronavírus
  • Apesar do otimismo, existem riscos que podem segurar esse potencial de alta dos mercados

“A da China nós não compraremos, é decisão minha”. As palavras ditas pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) em outubro do ano passado marcaram o início truncado do processo de vacinação no Brasil, a passos mais lentos que o esperado pela população e pelo mercado financeiro.

Hoje, cerca de cinco meses após a enfermeira Mônica Calazans ‘cortar a fita’ da vacinação no País, o cenário é outro. Grande parte do grupo de risco já foi vacinado e a imunização por idades se inicia. Em São Paulo, por exemplo, é previsto que até setembro toda a população já tenha recebido pelo menos a primeira dose.

A luz no fim do túnel trazida pelas vacinas já se traduz em números na Bolsa de Valores, com o Ibovespa próximo aos 130 mil pontos, após uma valorização de 8% em pouco mais de 45 dias (1 de maio e 18 de junho).

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Os dados, inclusive, derrubam a falta dicotomia entre salvar vidas ou a economia. “A vacinação nos traz de volta muita coisa que a pandemia nos tirou, principalmente na questão da mobilidade, pensando do ponto de vista econômico”, afirma Gino Olivares, economista-chefe da Galapagos Capital e professor do Insper. “Acredito que esse período nebuloso na história está acabando. E aqui fica a minha dúvida, e a de todos: por que o Governo Federal não conseguiu enxergar antes que a solução [para a economia e para a população] passava pela vacinação? ”, afirma.

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Segundo o especialista da Galapagos, se as vacinas tivessem chegado ao braço dos brasileiros de forma mais rápida e com melhor logística, a economia já teria deslanchado – e com isso, a Bolsa de Valores. “Estaríamos em outro patamar”, diz Olivares. “O grande responsável pelo programa nacional de vacinação se omitiu. O papel do Governo Federal, além de fornecer as vacinar, é estabelecer os critérios para elas. Não deveríamos ter estados em níveis diferentes de imunização.”

Essa também é a visão de Pedro Serra, gerente de research da Ativa. “Sempre tivemos uma perspectiva positiva em relação à vacina. O Brasil tem um histórico bom de vacinação, vacinar não é problema, a questão é organizar e ter doses”, explica. “O Governo Federal talvez poderia ter antecipado a compra das doses, mas o fato é que agora nós temos. Bem atrasado, mas temos.”

Para o alto e avante

Superados os entraves políticos e logísticos, agora o sentido é para o alto e avante. Com a reabertura econômica batendo à porta, os investidores começam a, cada vez mais, reposicionarem as carteiras para os setores mais afetados pela crise do coronavírus. É o caso, segundo os especialistas ouvidos, de shoppings centers, varejistas de vestuário, aéreas e companhias ligadas à educação.

De acordo com o levantamento exclusivo feita pela Economatica para o E-Investidor, entre 21 de fevereiro, considerado o início da pandemia no Brasil, e dezembro de 2020, o setor aéreo do Ibovespa perdeu 27,47% do valor de mercado, passando de R$ 35,6 bilhões para R$ 25,8 bilhões. No segmento estão incluídas as empresas Gol (GOLL4), Azul (AZUL4) e CVC (CVCB3).

Os shoppings, varejo de vestuário e educacional fizeram movimento semelhante, com perdas respectivas de R$ 16,2 bilhões (-36%), R$ 11,1 bilhões (-23%) e R$ 18,9 bilhões (-50,4%) em 2020. Já os segmentos que mais cresceram nos períodos mais densos da crise do coronavírus foram os relacionados à tecnologia e às novas necessidades trazidas pelo isolamento social. O e-commerce, um dos grandes campeões do período de fechamento, saltou mais de 40% entre fevereiro e dezembro de 2020.

Com a recuperação da economia e o fim do isolamento social em um horizonte próximo, o cenário se inverteu. Em 2021, os papéis do setor aéreo e shoppings já registrando movimento de recuperação, com altas de 17,06% e 11,81%, respectivamente.

Por outro lado, as empresas de e-commerce estão no vermelho em 2021, com queda de 12,38% no valor de mercado em comparação com o final do ano passado.

“Estamos com uma perspectiva muito boa em relação à vacinação, já que com o fim das restrições, muitos setores devem se beneficiar. As medidas restritivas poderão ser retiradas de uma maneira geral, os eventos sociais voltarão a acontecer, como a volta às aulas presenciais, festas, o turismo, o varejo de vestuário”, afirma Serra.

E nessa precificação da retomada econômica na Bolsa, o segmento que ainda segue muito defasado é o da educação, que acumula uma alta mais tímida, de 1,91%. “O setor foi muito afetado e não só nas graduações. Por exemplo, a educação executiva [pós-graduação] acabou, porque as pessoas se matriculam nesse tipo de curso não só pelas aulas, mas pelo networking, que fica prejudicado no ensino on-line”, afirma Olivares.

Quando o assunto é recomendações, os top picks da Ágora Investimentos dentre os papéis pertencentes a setores chaves da reabertura econômica são Azul (AZUL4) e Aliansce Sonae (ALSO3). “É importante o avanço da vacinação para a retomada. Podemos ter um PIB com uma expansão maior do que era inicialmente previsto e isto tem impacto no crescimento do lucro das empresas, apesar de ainda termos alguns pontos de atenção, como a questão política e fiscal”, explica José Cataldo, head de research da casa.

Riscos

Apesar do otimismo, existem riscos que podem segurar esse potencial de alta dos mercados. Um deles é o avanço da inflação (IPCA), que deve fechar em 5,82% na mediana das projeções divulgadas no último Boletim Focus, acima do teto da meta (5,25%).

Para Olivares, o aumento generalizado de preços também poderia afetar os contrato de aluguéis dos lojistas de shoppings, que são reajustados pelo IGP-M. O indicador já está com uma alta de mais de 30% em 12 meses. “A negociação entre proprietários e as lojas pode emperrar um pouco a recuperação desse segmento, mas acredito que vai prevalecer o bom senso”, explica. “No mais, ainda estamos com um patamar de juros nominais e reais historicamente baixos.”