- Especialistas dizem que empresa está retomando o nível de produção a patamares históricos
- Analistas estimam lucro entre US$ 2,7 bilhões e US$ 977 milhões para mineradora; veja os motivos para a diferença
- Analistas fazem estimativas de dividendos para a ação; veja se o papel está interessante para o investidor
O lucro líquido da Vale (VALE3) pode desabar até 65,5% no terceiro trimestre de 2024 em relação ao terceiro trimestre de 2023, segundo o Itaú BBA. A casa é mais pessimista entre as oito ouvidas pelo E-Investidor. As perspectivas são de que a empresa apresente um desempenho menor que no ano passado devido à queda do preço do minério de ferro no mercado internacional. No entanto, o balanço deve apresentar pontos positivos devido às questões cambiais e melhores perspectivas em relação à produção da mineradora. A Vale deve divulga seu balanço nesta quinta-feira (24) após o fechamento do mercado.
Para os analistas do Goldman Sachs, a empresa mostrou em sua prévia operacional divulgada no dia 15 de outubro que o terceiro trimestre de 2024 foi o mais forte para a produção da mineradora desde o quarto trimestre de 2018. Eles dizem que esse é só o começo do que esperam ser uma “reviravolta operacional” da Vale após anos desafiadores desde 2019.
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A Vale reportou uma produção de 90,9 milhões de toneladas de minério de ferro entre julho e setembro de 2024, uma alta de 5,5% em comparação com igual período de 2023. O preço médio da tonelada de minério de ferro foi US$ 90,6, uma redução de 13,8% em relação ao terceiro trimestre de 2023, quando a empresa vendeu cada tonelada a US$ 105,1.
Ou seja, mesmo que a Vale tenha produzido mais em uma surpreendente recuperação, os próprios analistas do Goldman Sachs estimam que os números desse ano serão menores do que os apresentados em 2023. Em relatório, a equipe de especialistas estima que o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) da Vale deve atingir US$ 3,7 bilhões, uma queda de 11,27% na comparação com os US$ 4,17 bilhões verificados no mesmo período do ao passado.
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Virgílio Lage, especialista da Valor Investimentos, concorda com o Goldman Sachs de que a Vale está no início da retomada operacional. Segundo eles, os dados mostram que a empresa está um cenário sustentável de recuperação. No entanto, ele comenta que isso não é o suficiente trazer grande melhoria para o balanço. Ao olhar a linha dos lucros e Ebitda, o especialista da Valor Investimentos se mostra o mais otimista entre os analistas consultados pela reportagem: ele projeta lucro líquido da Vale entre US$ 2,4 bilhões e US$ 2,7 bilhões no terceiro trimestre de 2024, baixa de 3,57% até 14,3% em relação aos US$ 2,8 bilhões apresentados um ano antes.
O fator China no balanço da Vale
Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos, lembra que a estrada para a recuperação de VALE3 em relação ao preço do minério de ferro é longa. Ele comenta que recentemente houve uma nova rodada de estímulos à economia chinesa anunciada pelo governo da segunda maior economia do mundo. No entanto, diz que o dinheiro injetado pode não ser forte o suficiente para alavancar o crescimento da China, situação que já foi vista em pacotes anteriores.
Na semana passada a China anunciou uma nova rodada de estímulos para a sua economia, com foco em reforma de habitações populares e término de construções já iniciadas. “Os estímulos ficaram concentrados em ofertas já existentes, que em nada corroboraram para criação de uma demanda nova, o que realmente interessaria para a Vale, podendo também ser bacana pensando em preço de minério de ferro”, argumenta Arbetman.
Justamente por causa da falta de fato novo que leve à criação de demanda é que ele argumenta que a situação do minério de ferro deve continuar estática. A Ativa Investimentos estima que o lucro da Vale no terceiro trimestre de 2024 deve ficar em US$ 1,9 bilhão, baixa de 32,14% na comparação com a igual período de 2023. Para o Ebitda, o especialista diz esperar uma queda de 6,47% na comparação com o do terceiro trimestre de 2023.
Redução de custos na Vale
A equipe da Ágora Investimentos também espera um resultado pressionado. Os analistas estimam lucro líquido de US$ 1,39 bilhão, baixa de 50,8% em relação ao mesmo intervalo do ano passado. O Ebitda da Vale deve ficar em US$ 3,4 bilhões, redução de 23,5% ante o terceiro trimestre de 2023.
A Ágora Investimentos concorda que o balanço tende a apresentar menor resultado final devido ao preço do minério. Todavia, afirmam que a companhia ainda deve apresentar alguns pontos positivos, como a redução de custos na mina ao porto (C1). Em relatório assinado por Renato Chanes, a corretora relata que os custos devem cair para US$ 59,20 por tonelada, contra US$ 61,20 no segundo trimestre de 2024.
A Ágora não é a única casa mais otimistas em relação aos números da mineradora. Felipe Sant’ Anna, especialista em mercado da mesa proprietária Star Desk, relata que o resultado da Vale pode surpreender positivamente. Na visão dele, a empresa está fazendo um grande esforço na gestão para compensar a queda do preço do minério de ferro no mercado internacional. Outro motivo para um eventual bom resultado viria dos embarques de minério do Brasil para o exterior, que tiveram números expressivos no último trimestre.
Desse modo, ele apresenta uma visão muito mais otimista que a do Itaú BBA. O especialista da Star Desk estima que a empresa deve reportar lucro de US$ 1,95 bilhão, recuo de 30% em relação ao terceiro trimestre de 2023. O Itaú BBA diz que o lucro tende a ser de apenas US$ 977 milhões, por isso a queda de 65,5%. Para o banco, o preço do minério deve pesar mais que os embarques.
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Quanto VALE3 vai pagar em dividendos?
Se o consenso é de queda no Ebitda, o investidor também deve esperar uma baixa nos dividendos da ação VALE3? Segundo os analistas do BTG Pactual, a tendência realmente é de piora. Eles comentam que os dividendos da Vale devem ficar em 6,5% em 2024 e o dividend yield (DY, rendimento de dividendos) cair para 5,8% em 2025.
Tal recuo tende a acontecer como reflexo da queda do preço do minério, que para os analistas do banco deve continuar em um patamar considerado baixo. O BTG tem recomendação neutra para VALE3, com preço-alvo de US$ 12 para a American Depositary Receipts (ADRs, recibos que permitem a investidores comprar nos EUA ações de empresas não americanas) da mineradora negociada em Nova York. O valor equivale a uma potencial alta de 15,27% em relação ao fechamento de quarta-feira (23), quando o papel encerrou o pregão a US$ 10,41.
Na visão de Felipe Sant’ Anna, da Star Desk, a situação da Vale pode ficar ainda pior caso Donald Trump seja eleito presidente dos EUA. Segundo ele, o presidenciável tem como proposta aumentar a taxação para os produtos chineses, o que deve desacelerar ainda mais a economia do país asiático e fazer com que o minério de ferro caia ainda mais.
Ele comenta que a commodity deve ficar abaixo dos US$ 100 ao longo dos próximos 12 meses, o que deve fazer com que a Vale pague apenas R$ 2 em dividendos nos próximos 12 meses, ou 3,74% do preço da ação no fechamento de quarta-feira (23), quando encerrou a sessão em R$ 59,35. Por causa disso, o analista comenta que o momento certo de comprar VALE3 ocorreria na faixa dos R$ 50, preço consideravelmente menor que a cotação das últimas semanas, quando o papel oscilou entre R$ 55 e R$ 65.
A Ativa Investimentos tem a mesma visão. O especialista calcula um dividend yield de 7,6%. Arbetman estima que a mineradora pagará dividendos de R$ 4,60 por ação nos próximos 12 meses com o minério de ferro na faixa dos US$ 90. O analista tem recomendação neutra com preço-alvo de R$ 75, avanço de 26,36% em relação ao fechamento de quarta-feira.
Preço atrativo da VALE3
Mesmo que tenha a pior estimativa para o balanço, os analistas do Itaú BBA estão otimistas com o papel. Eles comentam que a ação está atrativa, pois já conta com o desconto do segmento devido à queda do preço do minério de ferro. Desse modo, a equipe do Itaú BBA tem classificação de outperform para a VALE3, equivalente à recomendação de compra. O preço-alvo estipulado é de US$ 13 para a ADR, uma alta de 24,87% em relação fechamento de quarta-feira.
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O Goldman Sachs também recomenda compra. O banco americano calcula que a empresa deve pagar um dividend yield de 8,5% em 2024, 6,3% em 2025 e de 5,5% em 2026. Para o banco norte-americano, a recomendação de compra não está tão relacionada aos dividendos da Vale, mas ao potencial alta do ativo. O preço-alvo dos especialistas chega a US$ 15,51 para a ADR, avanço de 49% na comparação com o último fechamento.
O cenário que o investidor deve encontrar no balanço que será divulgado hoje à noite é de lucro e Ebitda pressionados em relação ao mesmo período do ano passado. O vilão? Os preços do minério de ferro. Assim, os analistas consultados pela reportagem preveem impacto direto nos dividendos da mineradora, que tendem a cair, e investir na Vale (VALE3) agora é para quem visa lucrar com a possível alta do papel, desde que o investidor saiba dos riscos e da volatilidade do preço do minério de ferro.