- Desde janeiro 2018 até novembro deste ano, a Terra Investimentos sugeriu a empresa em 54,2% das carteiras recomendadas
- A Austrália e o Brasil são os maiores produtores de minério de ferro do mundo
- Especialistas, no entanto, divergem de opinião quando questionados se a Vale continuará como destaque no futuro
A mineradora Vale nos últimos anos esteve presente diversas vezes na lista de ações recomendadas nas carteiras mensais de bancos e corretoras. Desde janeiro de 2018 até novembro deste ano, por exemplo, a Terra Investimentos sugeriu a empresa em 54,2% das vezes.
Leia também
A frequente presença da Vale nas carteiras recomendadas ocorre porque a companhia é uma das maiores mineradoras do mundo, competindo apenas com rival da Austrália, país que passou por polêmicas ambientais recentes – em 2020, a gigante de mineração australiana BHP foi autorizada a destruir cemitérios aborígenes para mineração. E também porque a Vale corresponde a 13,86% da carteira do Ibovespa, além de ser uma boa pagadora de proventos.
Apesar da Vale também já ter passado por questionamentos ambientais decorrentes dos rompimentos nas barragens de Mariana (2015) e Brumadinho (2019), Renato Chanes, analista da Ágora Investimentos, explicou que a companhia tem pagamentos relativos às tragédias provisionados, o que não impacta mais no balanço da mineradora.
Publicidade
Invista em oportunidades que combinam com seus objetivos. Faça seu cadastro na Ágora Investimentos
Assim, a Vale possui uma vantagem em relação ao resto do mundo: o minério de ferro brasileiro tem uma composição mais rica do que o encontrado nos outros países. No Brasil, principalmente na região dos Carajás, o teor ferroso chega a 67%, enquanto em outras localidades da Austrália atinge os 58%.
Ou seja, no processo para a extração do minério, a Austrália necessita de mais carvão para queimar e libera, portanto, mais dióxido de carbono (CO₂, principal gás causador do aquecimento global) se comparado com a mineradora brasileira. “Em um mundo com preocupações globais mais latentes, existe uma prioridade pela Vale do que pelas internacionais”, diz Chanes.
De acordo com o United States Geological Survey (USGS, ou Serviço Geológico dos Estados Unidos), a Austrália e o Brasil foram os maiores produtores de minério de ferro entre janeiro e julho deste ano. Juntos, somam 50% da produção mundial (35% austrália e 15% Brasil).
Em relação à posição na carteira do Ibovespa, o analista da Ágora explica que pelo papel corresponder a uma grande parcela do índice, a ação da Vale precisa ser considerada nos portfólios. “Dessa forma, é muito difícil superar o benchmark (referência de performance) caso um investidor não tenha a companhia na carteira”, diz.
Além disso, ele destaca que qualquer investidor precisa ter discernimento de saber quando montar e desmontar uma carteira. “Como o papel possui forte liquidez, é muito mais fácil comprar ou vender a ação (VALE3) do que ativos do mesmo setor”. O especialista cita como exemplo a Marcopolo (POMO4).
Publicidade
Os analistas da Terra Investimentos dizem também que pela Vale ser a empresa com maior peso no índice Bovespa é possível correlacionar a carteira, ou rendimentos individuais, ao principal benchmark dos ativos de renda variável. “Portanto, mesmo que a Vale passe por um período ruim, é provável que o índice também apresente um desempenho ruim. Isso torna o investimento menos arriscado, pois ela nunca vai perder de muito para o índice de referência”, afirma o analista Regis Chinchila.
Veja o histórico do desempenho da Vale nos últimos cinco anos, quando a companhia valorizou cerca de 128%:
Consumo da commodity
Com o desenvolvimento econômico da China, o país se tornou a segunda maior economia do mundo. Para tal, demandou minério de ferro para construir sua infraestrutura. Tanto que hoje corresponde a dois terços da demanda global da commodity. A região também passou a corresponder por aproximadamente 85% da produção da Vale, dependendo da sazonalidade.
O aumento no consumo asiático ajudou no balanço financeiro da companhia, que potencializou seu pagamento de dividendos. A remuneração aos acionistas é uma parcela do lucro distribuído aos detentores de ações, podendo ser pago de forma mensal, trimestral ou semestral. O valor pago aos acionistas aumentou 800% entre 2018 e 2022, passando de R$ 0,171 por ação a R$ 1,539 por papel. No período, o valor máximo pago ocorreu em 30 de setembro de 2021, R$ 8,197 por ação.
De acordo com Fred Nobre, líder da área de análise da Warren, os estoques nos portos chineses estão com 19 dias de consumo e o histórico médio é de 27. “Com o inverno na região europeia se aproximando o final do ano deve ter um acréscimo na demanda [da commodity produzida na Vale, o que pode aumentar ainda mais o pagamento de proventos]”, explica.
Publicidade
A equipe de analistas da Terra Investimentos destacou, ainda, que a mineradora tem uma política bem definida de dividendos, atrelados ao resultado operacional. “Isso praticamente garante que os investidores serão remunerados, trazendo segurança, pois mesmo em um período de desvalorização o acionista ainda receberia os dividendos”, afirma o analista Regis Chinchila.
A companhia Vale foi procurada pelo E-Investidor, mas não quis responder sobre quais eram os motivos para que a empresa praticamente dobrasse de valor a cotação do papel nos últimos anos.
Expectativas para o futuro
Apesar da companhia ter apresentado um desempenho positivo desde 2018, os especialistas entrevistados divergiram de opinião quando questionados se a Vale continuará como destaque no futuro.
Os analistas da Terra apontaram alguns motivos do porquê os investidores podem ter um futuro próspero. Primeiro, a economia da China é a principal força motriz do minério de ferro “e uma hora ou outra ela deve voltar a se expandir”. Segundo, a Petrobras, vista como uma alternativa na carteira do Ibovespa – também por conta do peso no índice –, “deve se afastar do modelo atual de gestão, podendo fazer com que os investidores prefiram a Vale nesse processo de escolha”.
O crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) chinês diminuiu significativamente no segundo quarto de 2022, contradizendo as expectativas de recuperação apresentadas pelo governo do presidente Xi Jinping. O crescimento da economia chinesa para o ano de 2022, que antes era previsto em 5%, deve se aproximar dos 4%, um dos mais baixos das últimas décadas, afirmou o colunista do E-Investidor Thiago de Aragão.
Publicidade
Na terça-feira (1), o minério de ferro WTI alcançou seu patamar mais baixo em quase um ano ao bater US$ 80,03 a tonelada. O recuo estava 100% relacionado a questões econômicas da China e políticas de Covid-zero do país.
Tanto o especialista da Ágora Investimentos quanto o analista da Warren acreditam que o futuro não será tão agradável assim para a Vale. Chanes, da Ágora, afirmou que é muito difícil ter um olhar otimista para uma empresa de commodities que é tradicionalmente cíclica, enquanto Nobre, da Warren, declarou que a demanda por minério de ferro no setor de construção civil da China caiu, desacelerando o consumo.
Nobre diz não recomendar a compra dos papéis da mineradora, mas aconselha uma manutenção. “Estamos esperando alguns triggers (gatilhos) para voltar a recomendar a Vale”, afirma, ao se referir à retomada da demanda da China, à reabertura da economia e ao fim da política de Covid-zero.