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A variante Delta arruinará a recuperação econômica?

Provavelmente não. Mas problemas potenciais nos campos da oferta e da demanda são um risco para a economia

A variante Delta arruinará a recuperação econômica?
Foto: Evanto Elements
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  • Na Casa Branca, as autoridades vêm monitorando de perto a progressão da variante Delta, mas não veem nenhuma evidência de que ela está prejudicando a recuperação
  • A preocupação é com problemas no tocante à disponibilidade de trabalhadores e com a oferta e a demanda no caso de muitos serviços

(Neil Irwin, The New York Times) – A boa notícia no que se refere à variante Delta é que ela coloca a economia em risco apenas de duas maneiras, e a má notícia é que envolvem a oferta e a demanda.

Até agora a recuperação continua robusta de acordo com os muitos dados disponíveis. Indicadores em tempo real da atividade comercial mostram poucas evidências de que os americanos estão numa regressão na sua atividade econômica.

Mas apesar de não haver nenhuma razão para uma repetição dos enormes transtornos vistos em 2020, a nova variante coloca em risco a rápida recuperação que observamos durante meses. Mas à medida que áreas importantes da economia estudam como voltar a funcionar plenamente, a variante pode acabar travando a máquina.

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A emergência da variante já causou vários dias de oscilação em Wall Street. E o chairman do Federal Reserve, Jerome Powell, será questionado pelos jornalistas sobre as implicações econômicas da Delta na coletiva de imprensa a ser realizada depois da reunião do comitê de política monetária do órgão.

Na Casa Branca, as autoridades vêm monitorando de perto a progressão da variante Delta, mas não veem nenhuma evidência de que ela está prejudicando a recuperação – ou que será necessário implementar um novo pacote de estímulo fiscal de curto prazo tão cedo.

“No geral parece que os riscos diminuíram consideravelmente em comparação com o auge da crise”, disse Kathy Bostjancic, economista chefe na Oxford Economics. “Mas acho ser necessário nos preocuparmos com os riscos macroeconômicos, e nossa experiência nesses últimos 19 meses mostra isso”.

À medida que economistas e responsáveis políticos analisam vários cenários para entender a natureza desses riscos, o que salta à vista é que não existe a chance de uma desativação importante, pelo contrário, a preocupação é com problemas no tocante à disponibilidade de trabalhadores e com a oferta e a demanda no caso de muitos serviços.

Oferta x Demanda

Do lado da oferta já têm ocorrido graves problemas em muitas cadeias de fornecimento, especialmente as que dependem de produtos importados da Ásia. E isto vem gerando um efeito cascata nos Estados Unidos, como a escassez de chips de computadores, que tem dificultado a produção automobilística e contribuído para uma alta da inflação.

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O risco maior no plano doméstico decorre da escassez de mão de obra nos Estados Unidos.

Os empregadores se queixam da falta de funcionários e, se o risco renovado da doença deixar até mesmo os adultos vacinados relutantes em entrar ou retornar ao mercado de trabalho, a escassez de mão de obra só vai piorar.

O que é um fato real se as escolas voltarem ao ensino remoto, mesmo que por um tempo curto – dificultando ainda mais a volta dos pais ao trabalho.

“O que acontece se você tem um novo surto? Indagou Bostjancic. “Fechar a escola por uma semana? Isso é muito problemático para os pais que querem retornar ao trabalho”.

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Do lado da demanda, há alguma tranquilidade no que se refere aos gastos aparentemente robustos dos consumidores americanos, com suas economias acumuladas por causa da pandemia, os dólares recebidos do pacote de estímulo federal e os aumentos de salários.

O índice de confiança do consumidor subiu ligeiramente em julho, segundo a Conference Board, sugerindo que a emergência da variante até agora não prejudicou de maneira importante a disposição do consumidor a gastar.

Há mesmo uma distorção perversa que pode reduzir o efeito da variante sobre a demanda por coisas como gastos com restaurantes e ingressos para concertos. A taxa de infecção continua relativamente baixa em locais onde o número de vacinados é alto. Naqueles lugares onde a infecção vem disparando, as pessoas se mostram majoritariamente contra qualquer coisa que se assemelhe a um lockdown.

Mas como dois economistas do Bank of America, Stephen Juneau e Anna Zhou, observaram, Michigan observou um recuo nos gastos com serviços durante o aumento das infecções no início deste ano, mesmo se ausentes as restrições formais das atividades.

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“Até agora vimos poucas evidências de que a variante Delta afetou significativamente a atividade econômica ou gastos com serviços”, escreveram os economistas numa nota recente. “Mas dados de pesquisas apontam para uma maior hesitação das pessoas em frequentar locais físicos e uma maior preocupação com o vírus”.

Isso será particularmente relevante em alguns segmentos da economia que demoraram mais para se recuperarem da recessão provocada pela pandemia.

Uma questão particularmente problemática é que a solução no caso dessas oscilações está no campo da saúde pública. Se a recuperação sofrer uma paralisia, a política fiscal e monetária não terá um papel muito construtivo. O dinheiro que já está fluindo para a economia foi suficiente para produzir um superaquecimento e a inflação é uma grande preocupação.

Pode ocorrer uma queda da demanda por razões muito específicas, como a compra de sanduíches de um restaurante no centro ou quartos num hotel para centro de convenções. Mas é difícil afirmar neste momento que existe muito risco de uma demanda agregada inadequada.

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Autoridades da Casa Branca afirmam que a vacinação nos últimos meses – e a ajuda vigorosa do governo federal para as pessoas e empresas – estabeleceram as bases para a economia manter seu ímpeto mesmo com a propagação da variante. E acreditam que desta vez o consumidor reagirá de modo diferente à propagação do vírus.

Em ondas passadas, as pessoas preocupadas com o risco de contrair a covid-19 ou assumiram esse risco e continuaram suas atividades econômicas normais, ou deixaram de gastar em locais como lojas e restaurantes. Agora, segundo as autoridades, os consumidores temerosos têm uma terceira chance. Eles podem se vacinar e manter suas rotinas costumeiras – ou, se já estão vacinados, simplesmente continuar gastando como sempre fizeram. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

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