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Programa Voa Brasil vai impactar as ações das companhias aéreas?

Previsão é que programa passe a vigorar no final de agosto, ofertando passagens de avião a R$ 200

Programa Voa Brasil vai impactar as ações das companhias aéreas?
Avião (Fonte: Shutterstock/Reprodução)
  • Segundo o ministro dos Portos e Aeroportos, Márcio França, o “Voa Brasil”, programa que vai disponibilizar passagens de avião a R$ 200 o trecho, vai ganhar vida a partir do final de agosto
  • Analistas divergem sobre impacto no caixa da empresa, mas enfatizam que, caso haja, só surtirá efeitos na receita no 4T23
  • A Empiricus Research não recomenda a compra das ações, devido ao alto nível de endividamento

O sonho de viajar pelo País de avião pagando apenas R$ 200 o trecho está prestes a se tornar realidade para parte da população brasileira. A partir do final de agosto, como prevê o ministro dos Portos e Aeroportos, Márcio França, o “Voa Brasil” começará a funcionar, por meio das companhias Latam (LTMAY), Gol (GOLL4) e Azul (AZUL4).

Apesar de os analistas ouvidos pelo E-Investidor afirmarem que as aéreas poderão sofrer um impacto positivo no caixa, a situação delas ainda é delicada e nenhuma das três casas recomenda a compra das ações. Isso porque elas ainda sentem reflexos da pandemia, quando o setor foi crucialmente impactado.

Larissa Quaresma, analista da Empiricus Research, explica que somente o volume de passageiros da Azul foi praticamente recuperado no patamar pré-pandemia, com o fluxo de junho de 2023 superando o de junho de 2019. Já para Gol e Latam, os fluxos estão 20% e 6% abaixo, respectivamente.

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“Mesmo que o dólar tenha caído 10% em 2023 e o querosene de aviação 12%, eles ainda estão em patamares altos. Além disso, essas companhias precisaram tomar bastante dívida para atravessar a pandemia, o que ocasionou balanços extremamente alavancados, com despesas financeiras altíssimas. Com a Selic alta, a despesa continua pressionando o lucro final, que ainda está negativo no caso das três companhias”, acrescenta.

Impacto no caixa

Quaresma se mostra otimista em relação a oferta de passagens a R$ 200, já que são trechos que a companhia voa com uma ociosidade alta. Contudo, ela pontua que o tamanho do impacto dependerá da adesão ao programa e acrescenta que os números em receita e margem só devem começar a serem vistos, com mais relevância, no quarto trimestre de 2023.

Alex Carvalho, analista CNPI da CM Capital, concorda com a visão e acrescenta que CVC (CVCB3) também pode se beneficiar desse programa. “Neste sentido, a espera de um crescimento de curto prazo do transporte aéreo e do turismo podem acabar incorporando o caixa das mesmas”, afirma.

Para Mario Goulart, analista CNPI, o programa pode ser bom para as empresas já que visa ocupar os assentos ociosos, mas ele ainda possui ressalvas por ainda haver poucas informações disponíveis.

Já Ricardo Brasil, fundador da Gava Investimentos, mostra uma visão contrária. Para ele, como não haverá subsídios e investimentos do governo, o impacto é pequeno no caixa das empresas. “Eu acredito que o programa não vai ter um grande impacto. A ideia é ocupar a parte ociosa dos vôos, mas isso as empresas já tentam faz tempo”, analisa.

Dívidas de aéreas pesam mais

Com um peso superior aos impactos do programa “Voa Brasil”, um ponto-chave destacado pelos quatro analistas é a atual condição financeira das empresas parceiras. “Essas companhias têm uma dívida muito maior do que seu patrimônio líquido. Você compra uma ação de uma delas hoje e você está comprando uma dívida”, afirma Goulart.

Gava, destacando ainda uma crise no setor, relembra que, historicamente, “não tem nenhuma empresa aérea que se sustente”, citando casos de falências, como Vasp e Itapemirim, além de fusões globais, como o próprio caso da Latam, que foi incorporada pela LAN Airlines do Chile, e KLM, fundida com a francesa Airfrance.

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“As aéreas trabalham com uma margem muito pequena. Não é um setor fácil. Por conta da pandemia, você teve Gol e Azul o tempo inteiro tendo que fazer novos aportes, por meio de follow-on, para não quebrar. São empresas extremamente complicadas, não tem como indicar”, diz.

Sem recomendação

Em relação aos números, Carvalho demonstra que as empresas ainda vêm se recuperando no período pós-pandemia e mostram sinais de melhora no curto prazo. A GOLL4, valoriza 28% em 2023, enquanto a AZUL4 sobe 59% este ano, de acordo o especialista. “Já CVCB3 é a que ainda fica devendo uma melhora mais expressiva, onde acumula uma baixa de 34,7%”. Quaresma também cita Latam, que sobe 29% na Bolsa chilena.

No 1T23, a CVC reportou um prejuízo líquido de R$ 127,9 milhões. O mercado agora aguarda o resultado do 2T23 no dia 8 de agosto.

Já as aéreas, de acordo com Carvalho, “se deram melhor no intervalo”. A Gol com um EBIT de R$ 537,2 milhões no segundo trimestre de 2023, ante R$ 191,9 milhões negativos de igual etapa de 2022. A margem operacional foi de 13% no 2T23, alta de 18,9 p.p. (pontos porcentuais) frente a margem do 2T22. Azul divulga seu resultado de segundo trimestre em 10 de agosto de 2023.

Para Carvalho, Gol ainda pode ter um upside de 43%, com o cenário favorável em seus resultados e diante de uma taxa de juros também mais controlada, chegando aos R$ 13,50. Às 12h08 desta quinta-feira (3), o papel está cotado em R$ 9,44.

Já a Azul, pode seguir o movimento altista de médio prazo e visar os R$ 20,00, para Carvalho da CM Capital. Também às 12h08, o papel está em R$ 17,34, o que equivale a um upside de 15,34%.

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Apesar das altas de Gol, Latam e Azul, Quaresma pontua que a Empiricus não está com recomendação para os ativos. “Em função da situação financeira ainda delicada, com balanço muito alavancado, essas companhias não estão presentes em nenhuma carteira recomendada da Empiricus Research. Preferimos esperar uma melhoria na saúde financeira antes de recomendar a compra, mesmo que isso signifique perder uma parte da valorização inicial”.

Quem vai se beneficiar do programa?

O programa vai priorizar inicialmente aposentados e pensionistas do INSS e é destinado a quem não voou nos últimos 12 meses. Será utilizado o CPF do comprador para obter essa informação. Cada passageiro poderá comprar quatro trechos por ano.

De acordo com o ministro França, a premissa do programa é justamente aproveitar os meses de baixa procura nos voos nacionais, de fevereiro a junho e de agosto a novembro. Nesses períodos, ocorreria uma ociosidade média de 21% nos voos domésticos, portanto, as empresas saíram no lucro por ocupar parte desses assentos. A ideia é ofertar um quarto dos lugares não utilizados para o programa e os destinos vão depender da disponibilidade de assentos.

Também faz parte da proposta que os aeroportos devolvam parte do valor da taxa de embarque em cashback, para ser usado em alimentação no aeroporto ou no transporte até lá, por exemplo. A meta é vender até R$ 1,5 milhão de passagens por mês e aumentar essa quantidade gradualmente.

Em nota ao E-Investidor, o Ministério dos Portos e Aeroportos comunicou que “o site para compra dos bilhetes está em fase final de desenvolvimento, portanto ainda não há como detalhar como será o processo de aquisição das passagens”. Ainda não há um site oficial ou documento que explique mais detalhes do programa.

O que dizem as companhias

Antes mesmo deste estímulo do governo para aquecer o turismo pós-pandemia entrar em vigor, os dados do setor parecem promissores. Segundo a Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC), 7,2 milhões de pessoas viajaram para destinos domésticos no Brasil em junho, maior resultado para o mês desde 2015.

A Azul afirmou em nota que “vê como positiva a iniciativa apresentada para incentivar o acesso de mais brasileiros ao transporte aéreo”. A companhia disse que segue participando do grupo de trabalho do Ministério de Portos e Aeroportos e continua colaborando com o desenvolvimento do projeto.

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Já a GOL comenta em nota que tem participado nos últimos meses de um grupo de trabalho que atua na viabilização de um projeto que amplie ainda mais o acesso da população ao transporte aéreo, com a Associação Brasileira das Empresas Aéreas (ABEAR) e a Secretaria de Aviação Civil.

“Os resultados desses encontros têm sido bastante promissores e com as expectativas tanto do governo, como das empresas, sendo atendidas. O setor aéreo está se recuperando da maior crise da história e políticas públicas que tenham como objetivo o crescimento e o desenvolvimento do turismo são muito bem-vindas”.

Procurada, a CVC Corp (CVCB3) respondeu que está em período de silêncio e, portanto, não participou da reportagem.

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