A Ambipar (AMBP3) teve o pedido de recuperação judicial aprovado pela Justiça na última quinta-feira (30), em um processo que corre na 3ª Vara Empresarial da Comarca da Capital do Estado do Rio de Janeiro.
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                A Ambipar (AMBP3) teve o pedido de recuperação judicial aprovado pela Justiça na última quinta-feira (30), em um processo que corre na 3ª Vara Empresarial da Comarca da Capital do Estado do Rio de Janeiro.
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Capitaneada pelo executivo Tercio Borlenghi Junior, a empresa aponta o ex-diretor financeiro João Arruda como o grande causador da crise que se abateu sobre a companhia a partir de setembro de 2025.
Na versão da Ambipar, Arruda firmou contratos desvantajosos com a instituição financeira alemã Deutsche Bank sem as aprovações do Conselho de Administração. E esses contratos teriam levado a multinacional de gestão ambiental, com mais de R$ 4,7 bilhões de caixa até junho deste ano, a um rápido colapso.
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Entretanto, o E-Investidor teve acesso a um documento que contradiz essa argumentação.
No dia 27 de fevereiro deste ano, o Conselho de Administração da Ambipar se reuniu e aprovou um contrato firmado com o Deutsche Bank no valor de US$ 493 milhões, como mostra uma ata assinada por Borlenghi Junior, diretor-presidente e conselheiro da companhia.
O mesmo contrato, agora, é classificado pela Ambipar como feito à revelia dos conselheiros e um dos estompins da crise. Procurados, Ambipar e Tércio Borlenghi não se posicionaram até a publicação do texto.
O Deutsche Bank reafirmou a regularidade dos contratos firmados com a Ambipar (leia abaixo). A assinatura de João Arruda, acusado de negociar o contrato individualmente, não consta na ata.
Procurada, a defesa técnica do ex-CFO da Ambipar apontou que “as falsas acusações feitas pela empresa (Ambipar) e seus representantes contra João Daniel Piran de Arruda acabaram de desmoronar” frente à descoberta desse documento. O corpo jurídico, coordenado pelo David Rechulski Advogados, aponta que a ata evidencia a ciência “plena e inequívoca” da alta direção da empresa do aval do Conselho de Administração da Ambipar em relação às operações com Deutsche Bank.
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“O que estava em curso era um arremedo de tentativa de transformar João Arruda em ‘bode expiatório’ de uma crise que, comprovadamente, não deu causa. Felizmente, contra fatos e documentos que provam a verdade, não há campanha de fake news que resista. O bode expiatório saiu da sala”, afirmou a defesa de Arruda, que é taxativa em apontar a própria administração da Ambipar pela condução dos contratos com o Deutsche Bank.
O contrato com o Deutsche Bank era um “swap cambial”. Esse é o nome técnico para operações que visam diminuir os efeitos da variação do câmbio sobre as dívidas que uma empresa tem em moeda estrangeira.
No caso da Ambipar, o Deutsche Bank seria responsável por garantir que um salto do dólar não encarecesse demais as dívidas da companhia no exterior. Como? Em uma troca de “riscos”: se o dólar subir, o Deutsche Bank paga a Ambipar. Se o dólar cair, é a empresa que deve desembolsa valores.
Nesse tipo de contrato é comum que garantias sejam pedidas ou que ocorram “chamadas de margem“, quando um dos lados precisa depositar mais dinheiro para cobrir as garantias.
Segundo a Ambipar, tais swaps foram negociados pelo ex-diretor financeiro Arruda sem o aval necessário da administração e com a inserção de cláusulas que abriram caminho para que o Deutsche Bank exigisse mais dinheiro da empresa como garantia das operações. Uma dessas cláusulas desvantajosas, diz a companhia, permitiu incluir nos cálculos o preço dos greenbonds, os títulos de dívida da Ambipar no exterior.
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A última parcela exigida, e não paga pela Ambipar no prazo, foi de R$ 60 milhões. Antes, a empresa diz ter pago R$ 200 milhões em chamadas de margem.
“Ocorre que as chamadas de margem passaram a se basear numa interpretação indevida do aditivo e em cálculos unilaterais elaborados pelo próprio Deutsche Bank, com sobrecustos embutidos no preço e curvas de precificação totalmente dissociadas da realidade de mercado”, argumenta a Ambipar, no processo de recuperação judicial.
Sem pagar o débito com o Deutsche Bank, a Ambipar ficou submetida ao vencimento cruzado de praticamente todas as outras dívidas que a empresa tinha – cerca de R$ 10 bilhões. Por isso, a companhia recorreu à recuperação judicial. O diretor Arruda renunciou em 19 de setembro.
Já de acordo com o Deutsche, todas as operações seguiram os padrões de mercado e foram aprovados pela administração da Ambipar. “Os swaps foram firmados a pedido da empresa e o aditivo foi celebrado para ajudar a reduzir os custos de hedge (proteção cambial) da empresa”, disse o banco alemão, em nota à reportagem. “As chamadas de margem solicitadas pelo Deutsche Bank foram motivadas principalmente pela variação cambial e de taxas de juros.”
Independentemente da discussão técnica sobre os contratos com o Deutsche Bank, os investidores ainda se perguntam como uma empresa que havia registrado um caixa de R$ 4,7 bilhões em junho de 2025 entra em uma recuperação judicial três meses depois. E tendo como estopim uma dívida de R$ 60 milhões com operações de câmbio.
O Estadão apurou que os credores da Ambipar também buscam responder a essa pergunta e procuram desde o fim de setembro onde está o caixa bilionário da empresa – leia aqui.
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Na semana passada, o Bradesco (BBDC3; BBDC4), que tem R$ 390 milhões de créditos a receber da companhia, ingressou com um processo para responsabilizar pessoalmente os executivos da empresa por suposta fraude contábil. A suspeita é de que o caixa da Ambipar tenha sido esvaziado ou fraudado – veja aqui.
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