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Empresa da Bolsa avança sobre caminhoneiro autônomo. Como fica a ação?

Negócio deve ficar pronto no início de 2024 e busca conquistar o interesse dos que sofrem com o “retorno vazio”

Empresa da Bolsa avança sobre caminhoneiro autônomo. Como fica a ação?
BlackRock possui cerca de 5% das ações da Randon (Fonte: Shutterstock/Reprodução)

As empresas inovadoras tendem a ampliar sua expectativa de vida, escalar novos produtos e serviços e abrir novas frentes de trabalho. É justamente isso que tenta a JSL (JSLG3), que pretende lançar o “uber” dos caminhões. Trata-se de um aplicativo que está em fase de desenvolvimento.

A companhia pertence à holding Simpar (SIMH3), que administra sete negócios com operações independentes e complementares, sendo Movida (MOVI3), Vamos (VAMO3), CS Brasil, Automob, Banco BBC Digital, CS Infra e a JSL.

O aplicativo, batizado de Torre de Controle, deve ficar pronto no início de 2024 e buscará conquistar o interesse das empresas e dos motoristas autônomos, principalmente os que sofrem com o chamado “retorno vazio”, ou seja, quando o caminhão realiza volta para o destino de origem sem carga após uma entrega em outra cidade ou Estado.

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O Brasil é um país de proporções continentais e possui 1,6 milhão de caminhoneiros autônomos, o que dá à JSL um vasto mercado de atuação. Ainda assim, a empresa precisa cativar seu público a aderir ao app. O sucesso poderá incrementar a receita da companhia e impactar diretamente as ações da empresa na Bolsa.

A ação JSLG3 reporta alta de 60,7% no acumulado de 2023, mas encerrou o rali da terça-feira (24) em baixa de 0,23%, cotada a R$ 8,80. A companhia, já posicionada como maior transportadora do País, gera interesse para boa parte dos investidores.

Há, inclusive, uma máxima no setor de transportes que afirma que os caminhoneiros “levam o Brasil nas costas”. Se o aforismo é real ou não, isso pouco importa. Entretanto, a categoria já mostrou em ocasiões recentes que, se pisar nos travões, o Brasil freia junto.

Riscos

O BTG Pactual (BPAC11), que tem recomendação de compra para a ação, com preço-alvo em R$ 12, lembra que a JSL está exposta a riscos macroeconômicos e regulatórios. Seu negócio depende de regulamentação para crescer e a empresa costuma alavancar significativamente seus projetos para capturar o máximo de valor para o acionista.

O lucro líquido ajustado da JSL no segundo trimestre de 2023 alcançou R$ 41 milhões frente a expectativa de R$ 79 milhões por parte do banco. “O resultado foi prejudicado por despesas financeiras maiores que o esperado”, escreveram os analistas Marcel Zambello, Fernanda Recchia e Lucas Marquiori em relatório divulgado dia 8 de outubro.

A XP Investimentos, por sua vez, também tem uma visão positiva para a empresa e os analistas Pedro Bruno e Matheus Sant’Anna reiteraram a recomendação de compra, com preço-alvo em R$ 14. Eles pontuam a abordagem contínua de eficiência de custo, as oportunidades de crescimento orgânico e inorgânico e os níveis de valuation (valor do ativo) atrativos como pontos cruciais da análise.

Torre de Controle versus Truckpad

Em maio de 2022 a JSL anunciou a aquisição da Truckpad, uma empresa de intermediação de fretes, por R$ 10 milhões. A oportunidade surgiu em razão da falta de liquidez – ou seja, incapacidade de arcar com certos pagamentos –, à época, a Truckpad se viu obrigada a colocar seus ativos à venda. Com isso, a JSL avançou sobre a companhia.

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Agora, com o app quase pronto, a JSL expande seu cross-selling (venda incrementada) e já tem uma base de potenciais clientes incorporados por meio da TruckPad. Ainda assim, o risco está na falta de aderência por parte do público-alvo, mesmo fator que comprometeu as operações da companhia comprada no ano passado. A taxa de ociosidade no setor beira os 30%, volume relacionado ao “retorno vazio”.

Para Fabricio Gonçalvez e Yallon Mazuti, da Box Asset Management, a visão para a companhia depende de vários fatores, como sua estratégia de negócios, competitividade, gestão e execução de projetos como o próprio Torre de Controle.

Eles explicam que entrar em um mercado que já está ocupado pode ser desafiador, especialmente se outras empresas tentaram algo similar. “A JSL enfrentará concorrência e precisará oferecer um diferencial significativo para ganhar mercado”, afirmam, acrescentando que para se diferenciar, precisará oferecer funcionalidades únicas no aplicativo, preços competitivos, excelente atendimento ao cliente e estabelecer parcerias estratégicas com empresas do setor.

Ainda assim, elencam que o mercado de transporte e logística é fundamental para a economia e pode ser afetado por questões como a demanda por serviços de entrega, eficiência operacional, regulamentações governamentais, inovações tecnológicas e condições econômicas. “Pelas análises dos múltiplos e análises gráficas, a recomendação [para JSLG3] é neutra, com preço-alvo primeiramente de R$ 9,19, podendo ser alongado a R$ 9,90”, pontuam.

Riscos inerentes

O sócio-fundador e analista de ações da Nord Research, Bruce Barbosa, frisa que o grande problema do negócio de logística é que ele compete com o próprio caminhoneiro autônomo. Além disso, afirma, a JSL está condicionada a fatores econômicos, embora tenha reportado resultados positivos recentemente.

“Existe a possibilidade de a empresa começar a transportar commodities, que é um ativo defensivo frente à economia brasileira, mas, de qualquer forma, o negócio da JSL depende de transporte e o transporte depende de Produto Interno Bruto (PIB)”, diz, acrescentando que a companhia está entregando resultado, mas a longo prazo não vê como um negócio que possa chamar de “bom”.

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“Em relação à Torre de Controle, não é algo que será transformador para a empresa, então eu não vejo diferença”, ressalta, complementando que a Nord tem recomendação neutra para a JSL e não trabalha com preço-alvo.