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Com negócio acelerado pela crise, Locaweb cresce quase 120% desde IPO

A empresa fez a abertura de capital no início de fevereiro

Com negócio acelerado pela crise, Locaweb cresce quase 120% desde IPO
Locaweb, em São Paulo. Foto: Rafael Arbex / ESTADAO

(Estadão Conteúdo) – Quando a Locaweb (LWSA3) realizou sua oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês), no início de fevereiro, para levantar recursos para fusões e aquisições, o novo coronavírus ainda não era pandemia e só começava a sair da Ásia.

Cinco meses depois, com a doença mudando fundamentalmente relações sociais e dinâmicas de mercado, a empresa de tecnologia que atua em várias vertentes conseguiu aproveitar as oportunidades que a crise trouxe. Resultado: sua ação sobe 117% desde o IPO.

O CEO da empresa, Fernando Cirne, afirma que os resultados vistos no primeiro trimestre de 2020 já foram fruto de um planejamento feito desde o fim do ano passado, quando o martelo pela entrada na B3 foi batido.

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“Não temos só uma plataforma de varejo, estamos integrados com marketplaces, oferecemos soluções de pagamentos, de logística”, diz o executivo, em entrevista ao Broadcast.

A aceleração da digitalização que a pandemia praticamente obrigou as empresas a fazerem foi forte em especial para o principal tipo de cliente da Locaweb, as pequenas e médias empresas (PMEs). “Em abril, vimos uma entrada (de clientes) 250% maior na comparação com 2019. O volume transacionado também cresceu muito: foi quase 80% maior no mês”, disse Cirne.

Um dos trunfos da Locaweb é o segmento de e-commerce, em que a empresa fornece suporte para que os clientes criem um site e comecem a vender através dele, e que inclui, por exemplo, uma solução de pagamentos – a Yapay. A receita do segmento cresceu mais de 31% no primeiro trimestre.

Neste quesito, o serviço da Locaweb se assemelha mais ao do Mercado Livre: a empresa dá a “prateleira”, e cobra mais caro conforme a “loja” cresce. “O motivo principal da atenção recente que a ação tem recebido é o crescimento dessa vertical”, comenta Pedro Fagundes, analista da XP Investimentos, que participou do processo de IPO do lado dos bancos coordenadores.

“O mercado vê um crescimento muito grande por muito tempo, porque o negócio é de assinatura. E quanto mais o cliente vende, maior o preço”, explica. Ele lembra que Totvs e Linx, em geral comparadas com a Locaweb, estão muito mais expostas ao varejo físico. “O crescimento do GMV em abril foi na casa de 80% e o crescimento de SSS (vendas mesmas lojas) foi de quase 50%. Não temos visto nenhum tipo de concentração apenas nos clientes mais novos”, afirma Rafael Chamas, CFO da companhia. “Em geral, temos crescimento de diversos ativos e em todas as vertentes com que trabalhamos no e-commerce. É um aspecto muito sustentável.”

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O modelo da Locaweb é comparado por Fagundes, da XP, ao da canadense Shopify, que sobe 132% na Bolsa de Nova York (Nyse) em 2020, aproveitando a corrida de empresas que nunca haviam pensado em vender pela internet para abrir sites e se integrar a marketplaces.

Essa comparação, feita por investidores, favoreceu a reputação da empresa brasileira junto aos estrangeiros, o que aumentou a liquidez do papel. Mesmo com os gringos puxando os preços para cima, as corretoras ainda veem um bom ponto de entrada. A Planner, por exemplo, inseriu o papel em suas escolhas para julho.

“Desde que começou a pandemia, as vendas só aceleraram, e a companhia, que tem 97% de sua receita recorrente, está se revelando uma das maiores beneficiárias da digitalização dos PMEs”, diz Mario Mariante, analista chefe da casa.

Para quem prefere não apostar apenas no crescimento, outros dois segmentos da Locaweb são apontados como mais defensivos por analistas: os de hospedagem de sites e de serviços de software, este último muito conectado ao de e-commerce.

Em relatório recente, o Goldman Sachs estimou que os dois filões, juntos, responderão por 70% das receitas da empresa em 2021. O Goldman considerou que a hospedagem, negócio original da Locaweb, é um negócio amadurecido. Fagundes, da XP, comenta que embora seja mais competitivo, o segmento é importante – e curiosamente, mesmo com a penetração da Locaweb no mercado, ela não é reconhecida por ele. “No roadshow, quando falávamos com os fundos, muitos não entendiam o negócio da Locaweb. Depois, eles descobriam que o site do fundo era hospedado por ela.”

Perspectivas

Chamas considera o potencial de aquisições como uma das grandes forças da Locaweb. “Temos mostrado que nosso pipeline está bastante aquecido. O momento atual não foi em hipótese alguma de desacelaração, e continuamos com metas bastante agressivas de M&A”, diz, lembrando que o Delivery Direto, adquirido em 2019 e que hoje é um dos motores do crescimento da empresa, faz parte da estratégia de adquirir startups e integrá-las a seu ecossistema.

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Mariante, da Planner, chama atenção para o fato de que os recursos captados pela companhia no IPO ainda estão em caixa. Fagundes, da XP, atribui outra parte da explosão dos papéis à espera por notícias neste front. “Todo mundo espera que eles anunciem alguma coisa em breve.”

Em outro ponto, Cirne acredita que mesmo com o fim da fase mais aguda da pandemia, as mudanças no varejo virtual vão se sustentar, dado que antes, o segmento tinha pouca participação nas vendas do setor no País. “Vemos que o nosso cliente do e-commerce aumenta o volume de transações por mais de três anos seguidos, e quase multiplica a receita por sete no período. Como colocamos muito cliente novo na base, temos conforto em dizer que este cliente vai transacionar muito mais a partir dos próximos anos.”

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