O Ministério Público Federal (MPF) denunciou o investidor Nelson Tanure por operações financeiras feitas na construtora Gafisa (GFSA3) que teriam contado com informação privilegiada.
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O Ministério Público Federal (MPF) denunciou o investidor Nelson Tanure por operações financeiras feitas na construtora Gafisa (GFSA3) que teriam contado com informação privilegiada.
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Por meio da denúncia, proferida na quarta-feira (17), o MPF entende ter indícios suficientes de crimes para abrir um processo penal contra o empresário. Agora, um juiz federal deve decidir se acata ou não as acusações, que envolvem a aquisição da incorporadora Upcon pela Gafisa, em 2019.
De acordo com as investigações, Tanure, enquanto acionista relevante da Gafisa, e Gilberto Benevides, controlador da Upcon, teriam agido em conjunto para tirar vantagens da transação entre as duas empresas. Procurados, a Gafisa esclareceu que não faz parte da medida judicial e que não tem conhecimento sobre procedimentos que envolvem seus acionistas. A defesa de Tanure diz que a acusação formulada pelo MPF “foge do escopo das regras que regem o procedimento penal” (leia a versão estendida abaixo). O E-Investidor acionou Benevides e seus advogados, mas eles não responderam aos questionamentos até a publicação do texto.
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Antes de a aquisição ser concluída, Tanure injetou mais de R$ 100 milhões na Upcon por meio da compra de títulos emitidos pela empresa. Com a entrada do dinheiro no caixa, o valor do capital social da Upcon saiu de R$ 10 milhões para R$ 160,8 milhões.
Como o acordo de aquisição da Upcon pela Gafisa previa o pagamento via troca de ações, ao aumentar o capital social da Upcon, Benevides recebeu mais ações da Gafisa do que deveria para fechar a transação, segundo a denúncia do Ministério Público. Posteriormente, as ações foram repassadas com desconto por ele a Tanure, diz o MPF.
“Em outras palavras, a Gafisa pagou pela compra da Upcon valor muito superior àquele que a empresa realmente valia, disponibilizando a Benevides (na verdade, ao denunciado Nelson Tanure) mais ações da Gafisa do que lhe deveriam ser entregues. Isto tudo sem conhecimento do mercado ou dos demais acionistas”, diz o MPF, na denúncia. Para evitar suspeitas e ocultar do mercado os interesses de ambos, o MPF alega que os denunciados estruturaram uma operação bastante complexa.
O MPF identificou ainda que o caso ocorreu em meados de 2019 e deve prescrever (quando o Estado perde o direito de punir o acusado) em fevereiro de 2026, por isso pediu urgência na apreciação do caso.
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A acusação formal do Ministério Público Federal surge a partir de um inquérito aberto na 9ª Vara Criminal Federal de São Paulo após a gestora Esh Capital, de Vladimir Timerman, investidora minoritária da Gafisa, apontar irregularidades de Tanure ao órgão.
Outras duas transações financeiras envolvendo Tanure e a Gafisa seguem em investigação no inquérito que corre na justiça de São Paulo, mas ainda não foram denunciadas pelo MPF.
Uma delas é o investimento da Gafisa no fundo imobiliário Brazil Realty, investigado pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) por fraude com o envolvimento de Daniel Vorcaro, presidente do Banco Master. A construtora chegou a ter R$ 325,6 milhões aplicados no Brazil Realty FII entre 2019 e 2022 (leia mais nesta reportagem).
O segundo caso é sobre a compra da empresa Wotan pela Gafisa. A operação é investigada por supostamente ter omitido que a empresa era uma parte relacionada a Nelson Tanure, segundo o MPF.
“A acusação formulada pelo Ministério Público Federal foge do escopo das regras que regem o procedimento penal na medida em que: a Comissão de Valores Mobiliários não apontou até hoje nenhuma ilicitude na assinalada operação; o Delegado de Polícia Federal, que também investigou os mesmos fatos, narrou expressamente que não havia encontrado qualquer indício de suposta prática de crime; e a operação de aquisição da Upcon Incorporadora S/A, ocorrida entre os anos de 2019 e 2020, foi amplamente debatida na Gafisa S/A, com a publicação de fatos relevantes antes e depois do fechamento do negócio, que passou pelo crivo e foi aprovado pela maioria dos acionistas da própria construtora, que não foi sequer incluída na acusação. “O empresário Nelson Tanure lastima a açodada denúncia e tem certeza de que os fatos serão esclarecidos”, disse Pablo Naves Testoni, advogado de Tanure, ao E-Investidor.
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