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PwC na berlinda: investidores questionam auditoria de Americanas (AMER3) e IRB (IRBR3)

Empresa é uma “big four”, ou seja, está entre as quatro maiores companhias contábeis do mundo

PwC na berlinda: investidores questionam auditoria de Americanas (AMER3) e IRB (IRBR3)
Logo da PWC, uma das maiores auditorias do mundo. Foto: REUTERS/Wolfgang Rattay
  • A PwC, uma das quatro maiores empresas contábeis do mundo, aprovou sem ressalvas os balanços da Americanas - que agora vive um escândalo contábil, com a identificação de inconsistências bilionárias
  • A mesma empresa auditou as informações contábeis do IRB (IRBR3), pouco antes de ser constatada a fraude nos balanços. Auditou a Petrobras, que atravessava o escândalo da Lava-Jato, e a gigante chinesa Evergrande

“Em nossa opinião, as demonstrações contábeis acima referidas apresentam adequadamente, em todos os aspectos relevantes, a posição patrimonial e financeira da Americanas S.A. e da Americanas S.A. e suas controladas.”

Esta foi a conclusão da auditoria Pricewaterhousecoopers Brasil (PwC Brasil) em relação às demonstrações financeiras da Americanas (AMER3) referentes ao ano de 2021, quando houve uma análise completa. O último resultado divulgado pela varejista, no 3° trimestre de 2022, também foi aprovado sem ressalvas.

Vale lembrar que a PwC é uma “big four”, ou seja, está ao lado da KPMG, Ernst&Young e Deloitte como as quatro maiores empresas contábeis do mundo. Saiba mais sobre a auditoria nesta reportagem.

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“O negócio da PwC, e de qualquer outra grande auditoria, é confiança. O mercado acreditou que as informações que a Americanas vem reportando ao longo desses anos são verdadeiras, porque tínhamos a chancela de uma empresa que a gente confiava”, explica Juan Espinhel, especialista de investimentos da Ivest.

Entretanto, pouco mais de três meses depois de chancelar as contas da varejista, a Americanas se encontra no centro de uma polêmica financeira.

Empossado há apenas nove dias, o então CEO, Sérgio Rial, levou a público na última quarta-feira (11) a descoberta de “inconsistências contábeis” na ordem de R$ 20 bilhões nas contas de fornecedores da empresa. Em seguida, renunciou ao cargo.

De acordo com o executivo, que participou de uma videoconferência com investidores e analistas na quinta (12), o problema deve se arrastar há pelo menos sete anos. O efeito nas ações foi arrasador: a AMER3 sofreu uma queda histórica de 77% na última sessão, passando de R$ 12,00 para R$ 2,72.

Nas redes sociais, investidores, analistas e influenciadores financeiros questionaram a atuação da auditoria, por não ter identificado o “erro” contábil. A empresa também analisou – e aprovou sem ressalvas – as informações contábeis do IRB (IRBR3), pouco antes de ser constatada a fraude nos balanços.

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Além disso, também auditou a Petrobras, que atravessava o escândalo da Lava-Jato, e a gigante chinesa Evergrande, que passa por uma grave crise.

Veja três das postagens mais populares sobre assunto no Twitter:

As críticas, entretanto, extrapolaram os comentários na rede social. A Associação dos Investidores do Mercado de Capitais (Amec) divulgou uma nota à imprensa sobre o caso Americanas e também questionou a atuação da auditoria.

“A Amec externaliza sua perplexidade quanto à atuação das instâncias de governança da companhia e dos seus respectivos gatekeepers, principalmente auditorias, à luz da magnitude estimada da inconsistência contábil”, afirmou a associação.

Questionada pelo E-Investidor, a PwC afirma não comentar casos de clientes.

A auditoria tem culpa?

A responsabilização das auditorias por falhas encontradas na contabilidade já ocorreu anteriormente. Em 2020, a gigante KMPG foi multada em R$ 300 mil por irregularidades na verificação de contas da Petrobras entre 2009 e 2011. A PwC, que também aprovou as informações contábeis entre 2012 e 2014, foi absolvida.

No caso da Americanas, ainda faltam muitas informações para atribuir responsabilidades. A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) já instaurou três processos administrativos desde a última quinta-feira (12) para investigar a contabilidade da varejista e o anúncio do fato relevante.

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Ivo Cairrão, sócio fundador e conselheiro no Grupo IAUDIT, de gestão de risco, compliance e auditoria, explica que não é função da auditoria externa encontrar fraudes e, sim, atestar a razoabilidade dos números apresentados. Entretanto, a auditoria deveria auxiliar na procura de eventuais problemas contábeis, como as inconsistências bilionárias encontradas na varejista.

“Em caso de problemas como estes – caso sejam verídicos, comunicar os administradores e, dependendo da gravidade de eventual falha, comunicar aos órgãos responsáveis (Coaf, por exemplo). Os auditores podem responder, também, civil e criminalmente, caso se comprove silêncio de fatos constatados”, afirma Cairrão.

Rafael Scardua, sócio da Matriz Capital, também aponta esse caminho. “Um processo de auditoria deve ser instaurado pelos órgãos competentes (Conselho federal de Contabilidade e pela CVM) para tentar identificar a lisura no processo de auditoria ou se realmente houve uma tentativa de fraude. Caso seja confirmado má fé, a empresa deve responsabilizada por Crimes econômicos e Fraudes”, explica.

Para Espinhel, da Ivest, os dois episódios seguidos, com IRB e agora Americanas, enquanto a PwC é auditora, produzem uma quebra de confiança no mercado. Isto, independentemente de uma eventual responsabilização ou não das auditorias.

O especialista também ressalta que antes da PwC, era a KPMG que auditava os balanços da varejista. “É muito difícil acreditarmos que duas das quatro maiores empresas de auditoria não pegaram um erro que vinha acontecendo há anos. Então, pode ser que seja uma malícia interna da empresa”, diz Espinhel.

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No final do dia, eventos como esse ajudam na maturidade do mercado brasileiro, segundo Espinhel. “Os investidores devem ficar mais atentos às divulgações dos balanços. Muito analista vai ter que suar a camisa para tentar bater os números e ver se tem inconsistências”, diz.

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