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Com crise das Americanas (AMER3), o investidor deve mexer na carteira?

Veja a recomendação dos especialistas após o rombo contábil de R$ 20 bilhões que chocou o mercado

Com crise das Americanas (AMER3), o investidor deve mexer na carteira?
Fachada das Lojas Americanas. Crédito: Felipe Rau/Estadão
  • O melhor a se fazer é não fazer nada. A frase foi repetida por especialistas de investimentos nesta quinta-feira para acalmar os investidores que questionavam o que fazer com a alocação em Americanas (AMER3) na carteira
  • O tombo dos papéis de Americanas no pregão desta quinta-feira não inspira uma oportunidade de compra para aproveitar uma eventual retomada, na avaliação de Fernando Ferrer, analista da Empiricus
  • O essencial agora, na avaliação de André Meirelles, diretor de alocação e distribuição da InvestSmart, é aguardar o balanço do quarto trimestre de 2022, que está previsto para ser divulgado no dia 29 de março

O melhor a se fazer é não fazer nada. A frase foi repetida por especialistas de investimentos para acalmar os investidores que questionam o que fazer com a alocação em Americanas (AMER3) na carteira.

O nervosismo surgiu em meio à crise que recaiu sobre a companhia após fato relevante mencionando inconsistências em lançamentos contábeis e a renúncia de Sérgio Rial da presidência. Saiba quem é o ex-CEO.

“A quinta-feira foi o D+1 após o fato relevante e o primeiro dia após a saída do Rial. A gente ainda está no meio do pânico generalizado do mercado. É um momento de muita cautela, pois há muitas perguntas, especulação, mas poucas respostas”, observa Heitor De Nicola, especialista de renda variável e sócio da Acqua Vero Investimentos. Ele destaca que o BTG Pactual, parceiro da assessoria, reforçou a orientação de cautela para “acompanhar os próximos capítulos” da crise.

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André Luzbel, líder de renda variável da SVN Investimentos, também diz que “a coisa mais racional agora é não fazer nada, para esperar os desdobramentos e entender um pouco melhor a situação”. “Vai ter muita volatilidade e tem gente que vai conseguir operar bem o papel, mas para o médio e longo prazo o melhor é aguardar”, acrescenta.

O essencial agora, na avaliação de André Meirelles, diretor de alocação e distribuição da InvestSmart, é aguardar o balanço do quarto trimestre de 2022, que está previsto para ser divulgado no dia 29 de março.

“Com esse documento, que deve vir atualizado, será possível entender com mais clareza a real situação da companhia e, assim, avaliar se a ação atualmente vale mais ou menos do que o preço de mercado”, afirma Meirelles.

“É melhor ter calma e esperar, porque [a ação de Americanas] já caiu demais. O setor de varejo está muito fragilizado com os juros altos, e já recomendo não ter uma posição muito grande nesse momento de alta [de juros]. É melhor procurar empresas exportadoras, empresas de utilities, que são setores mais defensivos. O varejo é muito volátil e deu para perceber que o risco é alto”, avalia João Abdouni, analista da Inv.

No fechamento do mercado, as ações amargaram uma queda histórica de 77,42% e terminaram o dia cotadas a R$ 2,71. O valor de mercado da companhia caiu mais de R$ 8,37 bilhões em um dia. Nesta reportagem, mostramos as maiores quedas diárias na Bolsa desde 1986.

Forte queda não abre janela para compra

O tombo dos papéis de Americanas no pregão de quinta-feira não inspira uma oportunidade de compra para aproveitar uma eventual retomada, na avaliação de Fernando Ferrer, analista da Empiricus. “Não vale o risco”, afirma, destacando que ainda há muitas dúvidas a serem esclarecidas – como uma eventual necessidade de um aumento de capital, uma diluição de participações e o posicionamento dos acionistas de referência.

“São muitas dúvidas que merecem ser monitoradas e os investidores têm que ficar de fora tanto da dívida quanto das ações da companhia. Tentar ‘pegar uma faca caindo’, ainda mais num caso tão complicado e cheio de incertezas, não é um posicionamento que me agrada mesmo tendo em vista essa queda bastante grande dos papéis”, pondera Ferrer.

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Meirelles, da InvestSmart, afirma ainda que mesmo uma tomada de fôlego do papel não significa que o problema acabou. “Eventuais altas do papel podem significar tanto uma reprecificação do mercado e o início de uma recuperação do valor da ação quanto um fenômeno conhecido como ‘dead cat bounce’, o ‘pulo do gato morto’, em que o papel demonstra uma pequena recuperação antes de voltar a cair intensamente”, alerta.

Entenda o caso

A Americanas informou na quarta-feira (11) à noite, após o fechamento do mercado, que foram detectadas inconsistências em lançamentos contábeis na rubrica “redutores da conta fornecedores” na ordem de R$ 20 bilhões na data-base de 30 de setembro de 2022. Além disso, informou que o presidente da companhia, Sérgio Rial, e o diretor de Relações com Investidores, André Covre, decidiram deixar os cargos 11 dias após tomarem posse. João Guerra assume interinamente.

Em conferência na quinta-feira (12) para clientes locais e estrangeiros do BTG Pactual, Rial explicou como ocorreu o rombo de R$ 20 bilhões que, nas palavras do próprio executivo, deixou todos surpresos.

A primeira grande conclusão de Rial é de que “esse valor está totalmente dentro do balanço da varejista”, mas as despesas financeiras com dívidas bancárias de compras de fornecedores foram contabilizadas de forma errada. “Não existe R$ 20 bilhões fora do balanço”, de acordo com o executivo. Veja mais detalhes da conferência.

Durante a tarde, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) informou ter aberto dois processos administrativos para analisar as inconsistências contábeis da Americanas. A medida era amplamente esperada pelo mercado.

Durante o dia, corretoras e bancos também divulgaram suas avaliações sobre o caso. O Itaú BBA, por exemplo, decidiu reavaliar a cobertura de Americanas até que “possam entender melhor a situação), e agora os papéis da empresa constam como “under review” (sob revisão).

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Já o Morgan Stanley removeu a recomendação “overweight” (equivalente à compra) e o preço-alvo de R$ 16 para Americanas.

Enquanto isso, os acionistas minoritários já procuram meios de reaverem possíveis prejuízos com as ações. Segundo oInstituto Ibero-Americano da Empresa, pelo menos 100 investidores individuais e dois fundos de investimentos procuraram a associação e estudam ingressar com procedimentos arbitrais na Câmara de Arbitragem de Mercado (CAM) contra a varejista.

*Com informações de Altamiro Silva Junior, Elisa Calmon, Juliana Garçon e Talita Nascimento

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