Efeito dominó: quem são as empresas e fundos impactados pela liquidação do Master
Três empresas já comunicaram ao mercado que tinham exposição aos CDBs do banco de Vorcaro; Estadão levanta 17 fundos de pensão com aplicações em letras financeiras, sem garantia do FGC
Fachada do Banco Master. Foto: Werther Santana/Estadão
A liquidação do Banco Master, de Daniel Vorcaro, pelo Banco Central foi a maior intervenção bancária da história do Brasil e vai afetar muita gente no mercado brasileiro. O investidor pessoa física, que comprou massivamente Certificados de Depósitos Bancários (CDBs) da instituição ao longo dos últimos anos, vai se apoiar na garantia do Fundo Garantidor de Créditos (FGC) para reaver até R$ 250 mil dos valores investidos. Empresas, fundos de pensão ou outros investidores que tenham comprado outros tipos de ativos do Master, no entanto, não terão a mesma sorte.
Reunimos quem são as empresas e fundos que já informaram ao mercado que foram impactados pela liquidação do Master. Veja:
Oncoclínicas (ONCO3)
Até agora, a Oncoclínicas é a maior impactada pela liquidação do Master dentre as empresas de capital aberto. O mercado já tinha ciência de que R$ 478,2 milhões do caixa da companhia estava alocado em CDBs da instituição e R$ 217 mi estavam provisionados desde outubro – a provisão é uma reserva de dinheiro para antecipar perdas financeiras prováveis.
Na terça-feira, a companhia divulgou um fato relevante informando que teve R$ 433 milhões em CDBs vencidos antecipadamente. O impacto direto no caixa é de R$ 216 milhões, a diferença entre o saldo de R$ 433 mi e o provisionamento.
Para amenizar o impacto, a Oncoclínicas disse que vai “tomar medidas cabíveis”, incluindo a opção de compra sobre as cotas de dois Fundos de Investimento em Participações (FIPs), o Tessália e o Quiron, que eram ligados a Vorcaro. O vencimento antecipado dos CDBs do Master ativa cláusulas do contrato firmado entre a companhia e o banqueiro, permitindo que a Oncoclínicas assuma as ações que estavam nos FIPs.
Considerando o valor de fechamento da ONCO3, de R$ 2,07, na segunda-feira (17), o montante de cotas equivaleria a R$ 203 milhões.
Mas as ações vem em queda na Bolsa desde a liquidação do Master. Por volta das 14h30, eram negociadas a R$ 1,67, com queda de 6,70% no pregão. Considerando a cotação atual, o montante de cotas seria equivalente a cerca de R$ 185 milhões.
Emae (EMAE4)
A Emae, Empresa Metropolitana de Águas e Energias, também divulgou um fato relevante informando que tinha 5,88% do caixa em CDBs do Letsbank, uma das instituições do conglomerado do Master que também foi liquidada. A companhia não informou os valores, mas fontes ouvidas pelo Estadão/Broadcast calculam um valor de R$ 160 milhões, montante investido sob a gestão do empresário Nelson Tanure.
Os valores não possuem garantia específica – como o FGC para as pessoas físicas – e seguem o regime da liquidação extrajudicial do Master.
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Apesar disso, no FR, a Emae diz que “capacidade operacional não foi impactada e que mantém posição de caixa suficiente para fazer frente às suas obrigações e ao curso normal de seus negócios”.
Segundo balanço trimestral, até setembro, o caixa da empresa era de R$ 243,9 milhões.
Cedae
A Cedae, Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro, é uma empresa estatal, de capital fechado e que também foi afetada pelo Master. Em fato relevante divulgado na terça-feira, a companhia disse que mantinha aplicações em CDBs do banco, mas que havia solicitado resgate parcial do investimento antes da liquidação extrajudicial do Master. O banco de Vorcaro estava inadimplente e, como foi liquidado, agora o resgate está suspenso.
“A companhia deve proceder à habilitação de crédito junto ao liquidante designado pelo Banco Central do Brasil”, diz a Cedae.
Sem informar o valor das aplicações, a companhia disse ainda que está “avaliando os impactos financeiros decorrentes do evento, bem como adotando todas as providências cabíveis para a preservação de seus direitos, inclusive no âmbito do processo de liquidação.”
Os fundos de pensão estaduais e municipais são um instrumento de previdência fechada para servidores públicos, criados para complementar a aposentadoria do INSS dos funcionários. Ao contrário dos investidores pessoa física, que serão ressarcidos em até R$ 250 mil pelo Fundo Garantidor de Créditos (FGC), os investimentos feitos pelos fundos de pensão correm risco de perda total.
Isso porque investiram em letras financeiras (LF), um título de renda fixa que na prática funciona como um “empréstimo” para o banco emissor. Mas, ao contrário dos CDBs, as LFs não contam com proteção do FGC.
Segundo apurou o Estadão, o Master emitiu quase R$ 3 bilhões de LFs. Desses, R$ 1,8 bilhão estavam em fundos de pensão.
Em outubro, o E-Investidor mostrou que o Fundo Único de Previdência Social do Estado do Rio de Janeiro (Rioprevidência), o maior afetado dentre dos fundos de pensão, estava proibido pela Justiça de realizar novos investimentos em ativos ligados ao Master. Apesar do fundo dizer que tem aproximadamente R$ 960 milhões em LFs do banco de Vorcaro, o Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro (TCE-RJ) dizia que o montante somava R$ 2,6 bilhões – cerca de 25% de todos os recursos dos pensionistas.
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Veja a lista de todas as 17 instituições afetadas:
Rioprevidência: R$ 970 milhões
Amprev: R$ 400 milhões
Maceió: R$ 97 milhões
Prefeitura de São Roque (fundo de pensão): R$ 93,15 milhões