Nicholas McCarthy entrou no Grupo Itaú (ITUB3) em outubro de 2016 para ser diretor de investimentos do Private Bank. Em 2022, passou a comandar a área de investimentos do segmento de Wealth Management and Services do banco privado, o maior do Brasil, onde permanece até hoje.
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Nesses oito anos e três meses, atravessou o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), a queda colossal e abrupta dos mercados com a pandemia da covid-19, assim como a recuperação incerta das Bolsas após a crise sanitária. Com uma postura publicamente otimista com o mercado brasileiro e pragmática em relação ao mundo ele não caiu, por exemplo, no conto da “recessão nos EUA”, ventilado entre 2022 e 2023. Mas desta vez é diferente.
“Estamos com a menor exposição em Bolsa (brasileira) dos últimos oito anos”, afirma McCarthy. A recomendação atual para investidores moderados é de que até 5% da carteira seja voltada a ações brasileiras, equivalente a posição “-2” na escala da instituição. O próximo passo, -3, equivale a zerar a indicação para a classe de ativos. O que, por ora, não é uma opção, já que a Bolsa está barata, ainda que não haja sinal de grande recuperação.
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A cautela de McCarthy acontece em função da deterioração rápida e profunda dos ativos brasileiros, em especial nos últimos 30 dias. No fim de novembro, o Governo apresentou as medidas que fariam parte do pacote de corte de gastos, ansiosamente esperado pelo mercado, que já via com preocupação o aumento da dívida pública.
O anúncio decepcionou, e não exatamente pelas medidas. Junto às iniciativas para contenção fiscal, o ministro Fernando Haddad (PT) incluiu a apresentação de uma proposta que vai na contramão e eleva os gastos da União: a isenção do Imposto de Renda (IR) para quem ganha até R$ 5 mil. A contraparte, aumento da tributação para aqueles que recebem acima de R$ 50 mil, não fez a conta fechar. A partir desse momento, a credibilidade do Executivo implodiu – agora, não há mais confiança de que as contas públicas serão tratadas com seriedade. E sem controle da dívida, as expectativas para os juros e para a inflação sobem no horizonte. Até qual patamar? Uma pergunta difícil de responder.
Os investidores me perguntam onde investir. E o que eu posso falar? Eu digo: aplica no CDI
“Não temos visibilidade sobre a inflação de 2025”, diz McCarthy. Sem isso, aponta o diretor, os grandes investidores estrangeiros e locais fazem as malas para fora do País. Com eles, saem também os dólares, o que impulsiona a cotação da moeda, em alta globalmente. Nesta semana, a divisa estrangeira bateu recordes atrás de recordes de valor nominal, chegando a encostar em R$ 6,30. Já há quem se questione o que pode ocorrer no País se o dólar chegar a R$ 6,50.
“Precisa ter visão para os investimentos voltarem, para controlar a inflação e cair os juros. O Brasil está fora do radar”, diz o diretor de estratégia, que se diz “triste” com a situação, mas não vê irracionalidade no comportamento do mercado.
Para ele, o salto dos juros futuros para até 16% ao ano, o que seria o maior patamar desde 2006, são nada menos do que a tentativa dos investidores precificarem uma inflação bastante acima da meta, de 3%. Um cálculo feito às cegas, já que não há clareza sobre o cenário fiscal.
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Aliás, a conjuntura atual, para McCarthy, é de fato bem parecida com o segundo mandato da ex-presidente Dilma. Claro, com alguns avanços, como as reformas, mas com uma relação Dívida/PIB muito pior. Hoje, além da menor fatia em Bolsa brasileira em oito anos, o Itaú também reduziu a exposição a prefixados para -1, o que significa uma recomendação de 10% para o investidor moderado e 14% para o arrojado, abaixo da média. Os títulos públicos estão desvalorizando devido aos sequenciais aumentos das rentabilidades dos novos papéis emitidos pelo Tesouro Nacional. Até porque novos títulos com rentabilidade prefixada maior, significa desvalorização para quem tinha os títulos “velhos”, com rentabilidade menor, a não ser que deixe o capital aplicado até o vencimento. Um risco que o banco prefere reduzir.
Apostar no dólar versus real também não é a recomendação. O novo mandato de Donald Trump gera incertezas e pode vir a fortalecer a moeda norte-americana caso o candidato leve à frente as propostas inflacionárias de taxação de importações e combate à imigração. O que seria o maior risco para os mercados globais em 2025 e, inclusive, poderia desembocar em recessão. Não é o cenário-base de McCarthy, que acredita que Trump será moderado, mas a insegurança afasta a indicação para a alocação nas moedas.
A visão mais otimista fica com os títulos IPCA+, que pagam a variação da inflação mais uma taxa prefixada. Ainda que também estejam sofrendo desvalorizações com os sequenciais aumentos dos juros reais dos novos títulos, são uma forma de manter o poder de compra no longo prazo.
Contudo, ele diz que não é o IPCA+ a grande estrela do momento. “Os investidores me perguntam onde investir. E o que eu posso falar?”, diz, com o ar de quem tem 25 anos de experiência de mercado, conhecimento amplo sobre as diversas classes de ativos, mas que nos últimos dias precisou recomendar… CDI. “Eu falo: aplica no CDI”.
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Mesmo imerso em um mercado errático, McCarthy não perde a característica. Otimista, ele calcula que, com uma sinalização mais forte de compromisso fiscal, a Bolsa poderia subir “30% em 1 semana”. “Precisamos de um choque de credibilidade”, conclui.