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Americanas (AMER3): acionista minoritário perde fortuna após tombo da ação

Empresário detinha 113 milhões de papéis da companhia em julho, antes dos papéis alcançarem mínimas históricas

Americanas (AMER3): acionista minoritário perde fortuna após tombo da ação
Inácio de Barros Melo Neto em evento da Faculdade de Medicina de Olinda (FMO). Foto: Reprodução/YouTube da FMO

Até então desconhecido pelo mercado financeiro, Inácio de Barros Melo Neto ganhou fama em julho ao se tornar o maior acionista minoritário da Americanas (AMER3). , mas acabou perdendo cerca de R$ 70 milhões com a queda dos papéis da varejista. Acima dele, no quadro de composição acionária da varejista, estava apenas o trio 3G – Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira –, conhecido por suas participações em outros negócios de destaque, como a AB InBev, controladora da Ambev (ABEV3).

Na época, Melo Neto informou que tinha passado a deter 12,52% do total de ações ordinárias da companhia, o equivalente a 113 milhões de papéis. Em e-mail enviado à empresa, o investidor de 44 anos explicou que não pretendia alterar a composição de controle ou a estrutura administrativa da Americanas, mas sim obter lucros em uma futura venda.

No dia 12 de julho, quando foi divulgado o comunicado sobre o aumento de participação acionária do empresário, o preço da ação da varejista valia R$ 0,69. Dessa forma, considerando que Melo Neto possuía 113 milhões de papéis da companhia, ele tinha uma cifra aproximada de R$ 77,970 milhões com os ativos.

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Cerca de um mês depois, o sonho virou pesadelo. A empresa divulgou os números dos aguardados balanços do exercício de 2023 e do 1º semestre de 2024, que foram repetidamente adiados. No acumulado do ano passado, a varejista registrou prejuízo de R$ 2,2 bilhões, 82,8% melhor do que o observado no mesmo período de 2022. Já nos seis primeiros meses deste ano, o resultado negativo foi de R$ 1,4 bilhão, 56% menor do que no mesmo intervalo de 2023.

Apesar de melhores no comparativo, os dados ainda revelam uma conjuntura de extrema preocupação para a Americanas. Conforme explicamos nesta reportagem, os melhores números vieram em um contexto favorável para o setor de varejo, quando o Brasil passava pelo fim do ciclo de alta da Selic e por uma melhora no endividamento das famílias. Agora, as perspectivas já mudaram, sendo esperada uma nova alta dos juros pelo Banco Central.

Além dos balanços ainda preocuparem o mercado, a falta de “horizonte” – já que a empresa decidiu retirar os “guidances” (projeções financeiras) para os próximos meses – desperta um nível extra de insegurança. Sem as estimativas, o mercado segue cauteloso com a companhia e deve acompanhar de perto o desenrolar da recuperação judicial da Americanas.

Em 15 de agosto – o primeiro pregão após a divulgação dos resultados –, as ações da varejista chegaram a derreter 57%, terminando o dia a R$ 0,14, quase o preço de uma bala de iogurte. Desde então, o valor do papel da empresa só cai. Nesta sexta-feira (23), os ativos recuam 14,29% a R$ 0,06, renovando a mínima histórica de preço a R$ 0,05. Mais cedo, as ações entraram em leilão por oscilação máxima permitida.

Levando em conta o tombo de 91,30% do papel, desde o anúncio da posição de Melo Neto em 12 de julho e a cotação atual, é possível dizer que a “fortuna” de Melo Neto foi reduzida em cerca de R$ 71,19 milhões. A reportagem não conseguiu contato com o empresário para confirmar a sua atual posição acionária na Americanas, mas o espaço segue aberto.

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Agora o mercado aguarda o agrupamento de ações da empresa. A “união’” dos papéis ordinários na proporção de 100 para 1 está prevista para a próxima segunda-feira (26). Com a operação, 100 papéis AMER3 vão se unir para formar uma nova ação, com o preço também sendo multiplicado pelo mesmo fator

O agrupamento representa uma tentativa da Americanas sair do grupo de “penny stocks” – ações que são negociadas abaixo de R$ 1 – e cumprir obrigações para continuar na B3.

Quem é Inácio de Barros Melo Neto?

Empresário do setor de educação, Melo Neto chegou a ser eleito vereador pelo PSB em Recife em 2008. Quatro anos depois, nas eleições municipais de 2012, ele se candidatou a suplente de vereador, declarando R$ 1,2 milhão em bens. O valor era composto por dois apartamentos em Recife e uma casa financiada em Olinda, além de uma cifra obtida com a venda de imóveis.

Já em 2015, o empresário fundou a Faculdade de Medicina de Olinda (FMO), credenciada pelo Ministério da Educação (MEC) com nota máxima em 2022. O investidor também criou o Instituto Maria Alcoforado de Barros Melo, uma instituição sem fins lucrativos ligada à faculdade, que procura atender crianças com síndrome de down e seus familiares.

Integrante da 3ª geração de uma família dedicada à educação, o Inácio de Barros Melo Neto tem ainda uma outra empreitada no setor de ensino: o Colégio Ecolar, também localizado em Olinda. Fundada no ano de 2019 e inaugurada em 2020, em meio ao cenário desafiador da pandemia da Covid-19, a escola atende alunos da educação infantil e do ensino fundamental 1.