Tempo Real

Americanas (AMER3) solta balanço e acionistas sabem, pela 1ª vez, o real tamanho da fraude

Depois de vários adiamentos, varejista anuncia os resultados financeiros referentes a 2023 e ao primeiro semestre de 2024; confira

Americanas (AMER3) solta balanço e acionistas sabem, pela 1ª vez, o real tamanho da fraude
Fachada de loja da Americanas (Foto: PEDRO KIRILOS/ Estadão Conteúdo)

A Americanas (AMER3) divulgou, nesta quarta-feira (14), os seus resultados referentes ao ano fechado de 2023 e aos primeiros seis meses de 2024. A companhia apresentou prejuízo de R$ 2,272 bilhões no ano passado, 82,8% menor em relação a 2022 (considerando os números reapresentados após a descoberta da fraude de resultados da companhia). No primeiro semestre deste ano, o prejuízo foi de R$ 1,4 bilhões, 55,9% menor ante igual intervalo de 2023.

Tudo começou em janeiro do ano passado, quando a companhia comunicou ao mercado, via fato relevante, a descoberta de “inconsistências contábeis” na casa de R$ 20 bilhões – o número, tempos depois, foi atualizado para R$ 43 bilhões. A notícia veio acompanhada dos pedidos de demissão de Sérgio Rial e André Covre, CEO e CFO da companhia, que tinham assumido o cargo logo antes, no dia 1º de janeiro. Recentemente, ex-diretores da Americanas foram presosrelembre aqui a fraude da Americanas.

As primeiras informações davam conta de que o impacto bilionário na companhia estava relacionado ao “risco sacado, que não era lançado como dívida”. Segundo a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o “risco sacado” consiste em uma modalidade de antecipação de recebíveis.

Ou seja, “a companhia vendedora emite uma fatura que contempla o prazo a ser financiado pelo banco, porém não reconhece em sua contabilidade a venda pelo valor presente. E com isso apresenta um Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) maior”. Assim, a empresa compradora consegue distorcer sua real situação financeira.

Publicidade

Invista em oportunidades que combinam com seus objetivos. Faça seu cadastro na Ágora Investimentos

Oito dias depois do anúncio do rombo financeiro, em 19 de janeiro de 2023, a Americanas entrou em recuperação judicial.

Finalmente, o balanço da Americanas

Segundo a companhia, o resultado financeiro de 2023 da Americanas foi negativamente marcado pelo impacto operacional da crise financeira e da redução de receitas, com custos adicionais da investigação e da recuperação judicial, parcialmente compensados por impactos tributários. “A homologação do plano de recuperação judicial e a sua execução abre caminho à expectativa da companhia para gerar lucro tributável em 2024 o que possibilitou o reconhecimento de impostos diferidos no valor de R$ 4,8 bilhões no quarto trimestre de 2023”, informou.

Além disso, a varejista destaca que a queda do prejuízo vista na primeira metade de 2024 “da continuidade dos impactos positivos iniciais da nova estratégia de negócios e esforços de transformação da Administração da empresa”.

No ano passado, o Ebitda da Americanas fechou negativo em R$ 2,804 bilhões, 56,9% melhor do que em 2022. Já neste primeiro semestre, o número fechou positivo em R$ 1,34 bilhão, revertendo negativo de R$ 1,185 bilhão do mesmo período de 2023. A receita líquida de 2023 foi de R$ 14,942 bilhões, 42% menor do que o registrado em 2022. De janeiro a junho deste ano, porém, o indicador ficou em R$ 6,849 bilhões, queda de 2,6% sobre o período correspondente do ano passado.

A dívida líquida da Americanas terminou 2023 em R$ 33,456 bilhões, alta de 20,8% sobre 2022. Já no primeiro semestre de 2024, ficou em R$ 38,879 bilhões, acréscimo de 16% sobre o montante do fim do ano passado.

A Americanas afirma que a captação do financiamento extraconcursal na modalidade “debtor-in-possession” (Financiamento DIP, isto é, devedor em posse) pelos acionistas de referência (R$ 1 bilhão em 2023 e mais R$ 3,5 bilhões em 2024) aumentaram o saldo da linha de Debêntures de Curto Prazo (títulos de dívida usados em projetos específicos da empresa), que também aumentou em função das provisões de juros dessas e das demais debêntures emitidas pela Americanas em anos anteriores.