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- Às voltas com a inadimplência de consumidores e pequenas empresas, os bancos agora têm pela frente riscos de grandes clientes
- Santander e Bradesco estão mais expostos à Americanas que Itaú Unibanco e Banco do Brasil
- Americanas e Oi pediram recuperação judicial, enquanto Light tem dificuldades em atingir as metas de qualidade da Aneel
Os resultados do Santander Brasil no quarto trimestre de 2022 deixaram claro que o “caso Americanas” adicionou mais um fator problemático a um ano que não deve ser fácil para os grandes bancos do País. Às voltas com a inadimplência dos consumidores e das pequenas empresas, as instituições agora têm pela frente riscos de grandes clientes. A varejista, que está em recuperação judicial, ganhou a companhia da Light (de energia) e da Oi (telecomunicações) no grupo de empresas que disparam alertas no setor.
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Os casos são diferentes. A Americanas, com R$ 48 bilhões em dívidas, foi à recuperação judicial após as negociações com os bancos travarem e parte deles começar a liquidar dívidas antecipadamente. A Oi, por sua vez, está às portas de uma segunda recuperação judicial um mês após encerrar a primeira. A Light, por fim, contratou a consultoria Laplace, que atuou com a Oi, o que acendeu no mercado o sinal amarelo para possíveis dificuldades na rolagem das dívidas.
São detalhes que mudam o impacto de cada caso nos bancos. A Americanas, por exemplo, começa a ser rebaixada de degrau nas classificações de crédito das instituições financeiras, espécie de termômetro da probabilidade que elas enxergam de receber o dinheiro que emprestaram de volta.
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O Santander não citou a varejista diretamente, pelo sigilo bancário. Entretanto, no quarto trimestre, fez uma provisão extra de cerca de R$ 1,1 bilhão por um evento posterior a 31 de dezembro, relacionado a um cliente do atacado. Esse cliente foi rebaixado para uma categoria entre E e H, que são as de maior risco.
O fluxo para a Oi provavelmente seria outro: como a empresa acaba de deixar a recuperação judicial, é possível que os bancos ainda não tenham elevado seu selo de bom pagador. “Nomes mais conhecidos foram sendo provisionados, por diligência das próprias instituições, ao longo dos anos”, disse o presidente do Santander, Mario Leão, após ser questionado sobre o pedido de tutela de urgência contra execuções de dívida pela tele, que ele não citou em sua resposta.
A Light não se encaixa nem em um caso, nem em outro. O temor do mercado está na dificuldade da companhia em combater ligações irregulares de energia no Rio de Janeiro e, consequentemente, em atingir as metas de qualidade da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Isso poderia levar a uma perda da concessão, que expira em 2026, com efeito na rolagem das dívidas para além dessa data. Um dos maiores acionistas da companhia é Beto Sicupira, parte do trio de referência da Americanas – contra quem os bancos subiram o tom nas últimas semanas.
A grande divergência
Dos três casos, portanto, o mais concreto é o da Americanas, e os últimos dias trazem leituras sobre seu impacto para os bancos. Ao que parece, o evento deve intensificar a “grande divergência” identificada pelo Credit Suisse entre os quatro maiores bancos do País para este ano. Santander e Bradesco, os mais expostos à companhia, já tinham expectativa de resultados mais fracos que os de Itaú Unibanco e Banco do Brasil mesmo antes do colapso da varejista.
“Por um lado, Banco do Brasil e Itaú Unibanco devem ter rentabilidade entre 19% e 20% (este ano), se beneficiando de um ambiente de juros mais altos e de um melhor desempenho da qualidade de ativos”, afirmou Marcelo Telles, do Credit, em relatório enviado a clientes. “Do outro lado do espectro, Bradesco e Santander devem ter retorno de dois dígitos médios.”
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No Santander, o retorno despencou para 8,3% no quarto trimestre de 2022, sob o peso da Americanas. Sem ela, teria sido de 11%, também inferior aos dos trimestres anteriores, nos cálculos dos analistas do Citi.
Os dois bancos vinham sendo mais penalizados que a média pela deterioração da inadimplência das pessoas físicas, em especial de menor renda. “Em bancos tão grandes, que não estão expostos a um só nicho, não tem como evitar o ciclo”, diz Carlos Macedo, analista da plataforma Ohmresearch. “Os bancos como um todo começaram a ser mais restritivos no crédito na metade do ano passado.”
Os quatro maiores bancos do País emprestam para pessoas físicas, mas Santander e Bradesco estão mais expostos a elas, em especial em recortes de menor renda. O Itaú tem carteira fortemente ligada a segmentos mais afluentes da população, enquanto o Banco do Brasil se beneficia da baixa inadimplência no agronegócio. Esses dois bancos também têm uma conta bilionária da Americanas pendurada na carteira, mas em menor escala que a dos dois rivais.
Problemas à vista?
No setor financeiro e entre analistas, predomina a visão de que o caso Americanas não significa que outras grandes empresas terão problemas em série, aos moldes do que se viu na época da Lava Jato. Isso no curto prazo, porque a médio e longo prazos, a taxa de juros pode começar a pesar sobre as mais endividadas.
“Empresas que entraram neste momento com mais alavancagem terão um risco de deterioração se a Selic seguir mais alta por mais tempo”, disse Leão, do Santander. Segundo ele, o banco ainda não enxerga uma piora relevante no segmento de atacado para este ano, mas analisa com lupa os balanços.
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Nesta semana, a agência de classificação de risco Fitch se debruçou sobre o tema, e chegou à conclusão de que há um efeito cascata, administrável, mas nem por isso menos negativo.
“As carteiras de crédito dos bancos poderiam ser negativamente influenciadas por problemas financeiros em outras companhias que concentravam negócios com a Americanas, como os fornecedores”, escreveram o diretor sênior de instituições financeiras, Claudio Gallina, e o diretor Raphael Nascimento. “Como resultado, os bancos podem reduzir as notas dessas companhias, o que poderia levá-los a eventuais provisões contra perdas, afetando negativamente a rentabilidade, embora este impacto deva ser limitado e administrável.”