Entenda o impacto da recuperação judicial da Azul no turismo brasileiro. (Foto: Adobe Stock)
A Azul (AZUL4) anunciou, nesta quarta-feira (28), o pedido de Chapter 11 – equivalente à recuperação judicial no Brasil – com o objetivo de eliminar mais de US$ 2,0 bilhões em dívidas. A decisão pode trazer impactos relevantes para o setor de turismo brasileiro, além de levantar dúvidas sobre possíveis efeitos no bolso dos consumidores, especialmente em relação ao preço das passagens aéreas.
A companhia disse que obteve um financiamento Debtor-in-Possession Financing (DIP), que se refere a uma linha de financiamento para manter as operações da companhia durante o processo, de aproximadamente US$ 1,6 bilhão de parceiros financeiros, que será usado para refinanciar certas dívidas existentes e prover cerca de US$ 670 milhões em nova liquidez.
Em comunicado à CVM, a aérea disse que a “durante todo o processo de reestruturação, clientes, tripulantes e parceiros permanecem como prioridade da Azul. A Azul continuará voando e operando normalmente, enquanto mantém seus compromissos durante este processo”.
Já especialistas ouvidos pelo E-Investidor alertam para possíveis riscos aos clientes da Azul diante do novo pedido de recuperação judicial — incluindo incertezas sobre voos já comprados, impacto nos preços das passagens e efeitos na concorrência do setor aéreo brasileiro.
Preço das passagens áreas pode aumentar com recuperação judicial da Azul?
Segundo Artur Horta, analista de mercado financeiro da GTF Capital, o setor aéreo brasileiro é muito sensível ao que acontece na economia, como movimento do câmbio, juros, inflação. “Não é um setor tão resiliente como o de saneamento e energia. É um setor muito volátil. Então, toda vez que tiver alguma companhia entrando em recuperação judicial, mostra que o setor está estruturalmente mais fraco”, explica.
Por outro lado, segundo o Horta, essa fragilidade do setor aéreo não se traduz em preços de passagens aéreas mais caras – mas um pedido de recuperação judicial, como o da Azul, pode sim impactar os preços. “Uma companhia em recuperação judicial precisa buscar mecanismos para aumentar sua geração de caixa. E nesse sentido, pode ser que ela leve o preço em algumas rotas que ela domina”, explica.
Já Jeff Patzlaff, planejador financeiro e especialista em investimentos, acredita que a tendência é que a demanda da Azul pressione os preços para cima, especialmente pelo contexto econômico americano. “A estabilidade dos juros nos Estados Unidos e a valorização do dólar também impactam os custos das aéreas brasileiras, que têm parte significativa de seus custos atrelados à moeda americana, como leasing (operação semelhante a um aluguel) de aeronaves e combustível”, afirma.
Há risco de clientes sofrerem prejuízo com voos já comprados?
Mesmo em recuperação judicial, a Azul assegura que suas operações e vendas de bilhetes seguem normalmente durante o processo de recuperação judicial. “Os clientes das companhias aéreas não precisam ficar preocupados, mesmo quem já está com passagem comprada. Isso porque a recuperação judicial diz respeito a uma negociação com os credores das companhias aéreas. Os clientes, os contratos firmados com os clientes e as passagens vendidas não serão afetado”, diz o especialista Horta.
Outros programas da aérea, como o Azul Fidelidade, também continuam operando normalmente. “Qualquer ajuste em sua operação pode limitar o acesso a destinos turísticos, impactando negativamente o fluxo de viajantes e a economia local. No entanto, a empresa afirma que suas operações e vendas permanecem inalteradas durante o processo de recuperação judicial, mantendo clientes, tripulantes e parceiros como prioridade”, afirma Fernando Canutto – sócio do Godke Advogados e especialista em Direito Empresarial.
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Mesmo assim, Patzlaff aconselha aos clientes ficarem atentos a possíveis mudanças na malha aérea, como cancelamentos ou reprogramações de voos, especialmente em rotas menos movimentadas. “Recomendo acompanhar as comunicações oficiais da companhia e manter os dados de contato atualizados para receber informações em tempo real, em caso de cancelamentos, os consumidores têm direito ao reembolso integral ou à reacomodação em voos de outras companhias, conforme previsto na Resolução nº 400 da Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC)”, diz.
Como fica o uso de milhas?
Para o especialista Horta, a recuperação judicial da Azul (AZUL4) pode gerar uma redução de custos. “Nessa economia de custos, há uma diminuição considerável dos serviços que a companhia aérea fornece e como, por exemplo, os snacks dentro do voo. Então, talvez os programas de milhas da Azul fiquem menos atrativos agora para a companhia conseguir economizar custo e não gastar tanto com marketing e essas coisas”, avalia.