Membro do conselho executivo do Banco Central Europeu (BCE), Fabio Panetta afirmou nesta sexta-feira (23) que os criptoativos podem ser motor para “mais turbulências”, caso não ocorra regulação. Em discurso na conferência anual do Banco de Compensações Internacionais (BIS, na sigla em inglês), na Basileia, ele disse que a “ilusão” de que os criptoativos serviriam como “dinheiro fácil e um estoque robusto de valor se dissipou” com o chamado “inverno cripto” em novembro de 2021, com forte queda no preço desses ativos, o que levou a uma queda de cerca de 2 trilhões de euros nesses ativos dentro de menos de um ano.
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Panetta afirmou que, segundo estimativas, três quartos dos usuários de bitcoins sofreram perdas de seus investimentos iniciais, naquele momento. Ele disse que os criptoativos são usados como “aposta” e também para contornar controles de capital. A autoridade argumentou contra uma validação oficial desses criptoativos, que para ele significaria “socializar seus riscos”.
Na opinião do dirigente do BCE, os criptoativos são “altamente voláteis” como reflexo de sua “ausência de valor intrínseco”, que os tornam altamente sensíveis a mudanças no apetite por risco e nas narrativas do mercado. Ele vê ainda uma contradição num sistema que, embora criado para se contrapor à centralização do sistema financeiro, se tornou em si altamente centralizado.
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Panetta não vê os criptoativos como um modo de financiamento “inovador e robusto”, mas sim “deletério”, em um ambiente com “falhas de mercado e externalidades negativas”. Diante disso, mais problemas podem surgir, a menos que “salvaguardas regulatórias sejam colocadas em vigor”.
A autoridade do BCE criticou também a tecnologia blockchain, usada nos criptoativos, qualificando-a como “extremamente lenta”, intensiva no uso de energia e com escala “insuficiente”. A grande volatilidade nos preços também dificulta que os criptoativos sejam usados em transações cotidianas, apontou.
Nesse contexto, Panetta defendeu que o setor público “adote uma posição determina” em prol de uma regulação abrangente, que lide com os riscos sociais e ambientais associados aos criptoativos, incluindo o uso de criptoativos sem aval oficial para “propósitos especulativos”. Ele ainda defendeu que se resistam a pedidos de apoio oficial aos criptoativos, “o que na prática socializaria riscos”, e pediu que o setor público contribua para o desenvolvimento e estabelecimento de ativos digitais confiáveis, “incluindo por meio de seu trabalho em moedas digitais de bancos centrais”.