O Banco do Brasil Investimentos (BBAS3) pretende transformar o leilão recorde de Cepacs em São Paulo, que arrecadou R$ 1,68 bilhão, em vitrine para conquistar novos contratos com prefeituras em outras regiões do País. (Imagem: Adobe Stock)
Ao longo dos últimos 20 anos, o banco de investimento se consolidou como a principal instituição financeira no segmento, assessorando mais de uma dezena de leilões destes títulos, sendo a maioria deles em parceria com a prefeitura da capital paulista.
Olhando para frente, a ideia é crescer neste segmento que, embora esporádico, representa uma fonte de receita importante, especialmente em momentos como o atual em que as ofertas de ações estão em baixa e sem tendência de recuperação no curto prazo.
“Temos algumas conversas pelo Brasil. Estamos avaliando uma possível assessoria para novos municípios”, antecipou o diretor-presidente do Banco do Brasil InvestimentosBB-BI, Geraldo Morete, em entrevista à Broadcast. “Os leilões de Cepac não ocorrem com frequência, mas, quando ocorrem, movimentam valores representativos e ajudam, certamente, na nossa composição de resultado. São uma fonte de resultado importante para nós”, ressaltou.
Morete classificou os leilões da cidade de São Paulo como uma “vitrine”, dado que as operações envolvem valores expressivos e geram visibilidade para este tipo de operação do mercado de capitais. Isso ajuda a atrair outros municípios interessados neste mecanismo de captação de recursos, que, para muitos gestores públicos, ainda é desconhecido.
O Cepac é um título de valor mobiliário, negociado em bolsa de valores, que permite que as empresas ampliem a área construída em cada terreno, indo além do permitido originalmente na lei de zoneamento de cada bairro. Em troca, a prefeitura arrecada dinheiro para obras de melhoria da infraestrutura e moradias na região.
Valor recorde
Nesta terça-feira, 19, a Prefeitura de São Paulo realizou o maior de todos os tempos, referente à Operação Urbana Faria Lima, considerado o filé mignon da cidade, com grande demanda para construção de prédios residenciais e comerciais. O certame comercializou 94,8 mil títulos, o equivalente a 57,6% da oferta, pelo valor médio de R$ 17,6 mil, sem ágio em relação ao valor de partida. Com isso, o leilão movimentou um total de R$ 1,668 bilhão.
Apesar das sobras de Cepacs e da falta de ágio, a arrecadação foi recorde para os cofres públicos paulistanos. “O leilão de hoje pode ser considerado ruim? Eu acho que não, uma vez que o valor atingido foi o maior de todos”, enfatizou Morete, comemorando o resultado. O BB-BI foi o coordenador-líder da oferta.
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O executivo mencionou que as cidades que estão passando por forte valorização imobiliária têm potencial para organizar leilões de Cepacs. Como exemplo, citou o litoral de Santa Catarina, onde os municípios de Balneário Camboriú e Itapema têm os valores de metro quadrado mais altos do País, repletos de empreendimentos de alto padrão.
Outras cidades que já fizeram leilões destes títulos também têm potencial para levar estas operações para mais bairros. Esse é o caso do Rio de Janeiro, por exemplo, que já tem uma operação do tipo no Porto Maravilha, região central, e poderia estender para a Barra da Tijuca, principal eixo de crescimento na zona oeste.
Morete destacou também o fato de o banco já ser parceiro da prefeitura, o que ajudaria a abrir caminhos para discutir uma eventual operação envolvendo o mercado de capitais e os títulos públicos. “O que nós temos feito é orientar e assessorar os nossos gerentes de relacionamento que atendem as prefeituras, para que essa pauta de Cepacs esteja presente”, contou.
Renda fixa
Paralelamente a isso, o diretor-presidente do BB-BI reiterou o cenário já bastante conhecido no mercado de capitais, em que as emissões de títulos de renda fixa estão aquecidas – caso de CRIs, CRAs e debêntures incentivadas –, enquanto os instrumentos de renda variável – oferta de ações – estão travados por causa dos juros altos.
“Em um cenário de médio prazo, nós não estamos vendo um horizonte para a retomada dos IPOs (oferta inicial de ações, na sigla em inglês). Enquanto o patamar de juros estiver acima de dois dígitos, esse processo de retomada dos IPOs seguirá um pouco mais lento”, estimou. Já os instrumentos de renda fixa têm sido cada vez mais buscados por empresas como fonte de financiamento.