Sede do Banco do Brasil, em Brasília: estatal concentra 32% do crédito rural e sente mais o impacto da crise no agronegócio. (Foto: Adobe Stock)
As ações do Banco do Brasil(BBAS3) registram forte volatilidade nesta sexta-feira (15). Os papéis começaram o pregão em baixa, chegaram a cair 3%, mas aceleraram o ritmo de alta e conseguiram fechar no sinal positivo de 4,03%, cotados a R$ 20,65. O resultado final positivo surpreende em meio à repercussão do balanço do segundo trimestre de 2025 (2T25) e às revisões de recomendação por parte de analistas.
O Banco do Brasil (BBSA3) reportou lucro líquido ajustado de R$ 3,8 bilhões no segundo trimestre, queda de 60,2% frente a 2024. O resultado fraco e a deterioração da carteira levaram casas como XP e Bradesco BBI a destacarem a pressão sobre o balanço.
“O Banco do Brasil divulgou números bastante fracos, aquém de nossas estimativas em lucratividade”, diz Evandro Medeiros, analista CNPI da Suno Research, sobre o balanço do BB no 2T25.
A Ativa Investimentos rebaixou a recomendação para “neutro” e colocou o preço-alvo em revisão, avaliando que o desempenho do banco ficou aquém do esperado. Para a corretora, o novo conjunto de metas é “conservador” e 2025 será “um ano de transição para um 2026 melhor”.
Mas o que provocou a virada das ações do BB no pregão desta sexta? Investidores já tinham precificado a piora nos resultados e a teleconferência de resultados, realizada nesta sexta, acalmou os ânimos do mercado, com declarações que apontam uma perspectiva de ajustes. Felipe Prince, vice-presidente de controles internos e gestão de risco do Banco do Brasil, espera que até junho do ano que vem a inadimplência do agro caia para a faixa entre 2% e 2,5%. “O Ibovespa operou perto da estabilidade, com o resultado do Banco do Brasil em foco: um pessimismo com relação aos números do banco que, de certa forma, já havia sido precificado, o que explica essa alta da ação, hoje”, diz Felipe Moura, estrategista e sócio da Finacap Investimentos.
Ele destaca que, em geral, os resultados das empresas brasileiras no segundo trimestre vieram até melhor do que se esperava, o que tem dado alguma sustentação para o Ibovespa mesmo com as incertezas que ainda prevalecem no cenário mais amplo, macro. “Mesmo em linha com o esperado, e uma receita muito ruim pelo lado do agro para o Banco do Brasil, não foi o evento decisivo do dia. Além do balanço do BB, houve alta em dados do varejo dos EUA, que resultou em avanço dos juros futuros americanos, após uma leitura, na semana, sobre a inflação no atacado dos EUA em julho que já se mostrava pressionada, esfriando desde então as apostas de cortes de juros por lá. Economia americana segue forte, o que resulta em nova ponderação sobre o espaço que o Federal Reserve terá para, de fato, cortar a taxa de juros”, diz Bruna Centeno, economista e sócia da Blue3 Investimentos.
O que está acontecendo com o Banco do Brasil?
O principal fator de pressão, segundo a Ativa, veio da carteira de agronegócio, impactada pela Resolução 4.966/21 do Conselho Monetário Nacional (CMN), que antecipa o reconhecimento de perdas. Desde então, as provisões vêm subindo rapidamente.
No trimestre, o custo do crédito saltou 103,8% em relação ao mesmo período de 2024, totalizando R$ 15,9 bilhões e respondendo isoladamente pela maior parte da deterioração do balanço. A inadimplência acima de 90 dias atingiu 4,21% da carteira total, com destaque negativo para operações agropecuárias, que chegaram a 3,49%.
Apesar de a margem financeira bruta ter somado R$ 25,1 bilhões, com alta trimestral de 4,9%, o desempenho anual foi negativo (-1,9%) devido ao encarecimento das captações pós-fixadas. Enquanto a margem com clientes cresceu 12,3% em 12 meses, a margem com mercado caiu 51,4% no mesmo intervalo, prejudicada por operações de câmbio e emissões atreladas à Selic.
Mudança de postura do BB diante da inadimplência
Na teleconferência de resultados realizada hoje (15), a presidente do Banco do Brasil, Tarciana Medeiros, reconheceu que “o resultado de 2025 estará aquém de nossa capacidade” e reforçou que o banco não vai “fugir da realidade”.
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Ela destacou que a instituição tem 50% do mercado de agronegócio no Brasil e seguirá sendo líder no segmento. “As especificidades do agro no Brasil não têm muito paralelo no mundo”, afirmou, citando pesquisa interna que encontrou semelhanças apenas parciais com bancos da Holanda.
Tarciana ressaltou que a postura do banco mudou em relação à cobrança:
Éramos conhecidos como o banco que não protesta, não buscava garantias. Isso mudou.
Ela também explicou que o BB agora aciona o Judiciário quando necessário e passou a exigir alienação fiduciária – prática que impede que determinados créditos entrem em processos de recuperação judicial.
O vice-presidente de gestão financeira e RI, Geovanne Tobias, complementou que a área de cobrança foi integrada às agências, reunindo 800 especialistas para recuperação de crédito.
Quando a crise no Banco do Brasil vai acabar?
O vice-presidente de controles internos e gestão de risco, Felipe Prince, afirmou que a inadimplência no agro, atualmente em 3,49%, deve cair para algo entre 2% e 2,5% até junho de 2026.
Acompanhe aqui em tempo real a cobertura das ações do Banco do Brasil (BBAS3) no pregão do Ibovespa hoje.