Sede do Banco do Brasil, em Brasília: estatal concentra 32% do crédito rural e sente mais o impacto da crise no agronegócio. (Foto: Adobe Stock)
Na noite desta quinta-feira (14), após o fechamento do mercado, o Banco do Brasil (BBAS3) divulgará os números do segundo trimestre de 2025, em um balanço cercado de expectativa. Desde junho, quando o banco apresentou um primeiro trimestre muito abaixo do esperado e retirou o guidance do ano, o mercado vem cortando projeções de lucro e dividendos, o que derrubou as ações mais de 30%. Contudo, por volta das 11h20 (de Brasília), as ações ampliaram ganhos para 1,24%, no valor de R$ 19,52.
O motivo central dessa turbulência é a deterioração acelerada da carteira de crédito ligada ao agronegócio, historicamente um dos trunfos do BB, mas hoje um ponto de vulnerabilidade.
Com a alta da inadimplência e recorde de pedidos de recuperação judicial no campo, a estatal enfrenta um cenário desafiador que afeta mais seu balanço do que o de concorrentes privados.
Projeções para o resultado
Analistas esperam forte queda no lucro trimestral. A Genial Investimentos reduziu sua projeção para R$ 5,1 bilhões, queda de 46,6% na comparação anual, sendo ainda mais otimista do que casas como Safra (R$ 4,64 bilhões), JP Morgan (R$ 4,9 bilhões), Goldman Sachs (R$ 5 bilhões) e Santander (R$ 4,8 bilhões).
A inadimplência total deve ficar entre 4,2% e 4,5%, alta de mais de 1 ponto percentual sobre 2024. A rentabilidade (ROE) também deve despencar: o Safra prevê 10,3%, contra 21,6% no mesmo trimestre do ano passado; o Goldman Sachs, 10,2%; e a XP, mais otimista, 12%.
A crise no agro e o peso para o BB
O problema não nasceu em 2025. Ele começou com a queda dos preços das commodities, aumento de custos com insumos e problemas climáticos nas safras de 2022/23 e 2023/24. Produtores rurais, já endividados desde a pandemia, enfrentam juros mais altos e fluxo de caixa comprimido.
No primeiro trimestre deste ano, a inadimplência da população rural atingiu 7,9% (ante 7% no mesmo período de 2024), segundo a Serasa Experian. Além disso, os pedidos de recuperação judicial dispararam 21,5% no comparativo trimestral, com destaque para produtores pessoas físicas.
Uma atualização da Lei de Falências em 2020, que permitiu a esses produtores acessar a RJ, abriu brecha para um aumento desse tipo de solicitação – fenômeno que o próprio BB classificou como risco moral.
A estatal sofre mais que os pares privados porque financia desde pequenos agricultores familiares até grandes cooperativas, respondendo por cerca de metade de todo o crédito rural e agroindustrial do sistema financeiro (R$ 735 bilhões no total).
Enquanto no Itaú, Santander e Bradesco o agro representa menos de 10% da carteira, no BB essa fatia é de 32%.