Setores ligados à economia doméstica, favorecidos por um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) moderado e com alavancagem sob controle – mas beneficiados por um possível corte nos juros – apresentaram o melhor desempenho em 2025, segundo avaliação do Safra. Commodities, por sua vez, ficaram entre os destaques negativos devido à perspectiva de piora na relação oferta/demanda e ao câmbio mais forte.
Para 2025-2027, os segmentos domésticos mais alavancados, como os setores de consumo, devem liderar o crescimento de lucros. Apesar do desempenho positivo acumulado no ano em diversos setores, os valuations (valores dos ativos) seguem atrativos, com os maiores descontos em Educação, Distribuição de Combustíveis, Consumo, Transportes e Construção, destacam os analistas Cauê Pinheiro, Carolina Carneiro, Yves Adam e Luana Nunes, em relatório.
O banco lembra que estamos próximos ao início do ciclo de corte de juros no Brasil e se analisarmos a performance do Ibovespa nas últimas nove ocasiões em que o Banco Centrla reduziu a Selic (seis meses antes do primeiro corte, seis meses após o início e 12 meses após o início), os resultados reforçam a visão positiva do banco para a bolsa. Segundo eles, quando os juros de fato caírem, provavelmente veremos nova reprecificação das ações.
Conforme levantamento do Safra, nos seis meses que antecederam o ciclo de baixa, o Ibovespa apresentou valorização em 67% das vezes, com alta média de 11%. Nos seis meses seguintes ao início dos cortes, a bolsa subiu em 100% das ocasiões, com ganho médio de 22,6%. Nos 12 meses após o início do ciclo de corte nos juros, a valorização média foi de 38,6% (houve queda apenas em 2011, quando os cortes ocorreram sem fundamentos). Além disso, o múltiplo P/L do Ibovespa se expandiu em 15,5% em média, passando de 9,1 vezes para 10,5 vezes.
No contexto atual, o Ibovespa acumula alta de 16,5% nos últimos seis meses, desempenho alinhado à média histórica do período que antecedeu o corte de juros.
“Com base no cenário macroeconômico do Safra, para 2026 estimamos crescimento de 1,6% no PIB, inflação de 3,7% e Selic em 11,5% no fim do ano. Para 2027, nosso time estima crescimento de 2,2% no PIB, inflação de 3,0% e Selic em 9,5% no fim do ano. Com isso, nosso múltiplo P/L projetado para o Ibovespa para 2027, de 7,6 vezes, está cerca de 23,2% abaixo da média histórica, sugerindo espaço para continuidade das altas”, afirmam.
Fundamentos Corporativos
Segundo o Safra, nos últimos dez anos (de 2015 a 2025), houve crescimento expressivo dos fundamentos corporativos: a receita das empresas que compõem o Ibovespa subiu 191% e o lucro avançou 218%, nível 2,75 vezes acima da inflação acumulada (IPCA de 79%). Nesse mesmo período, o Ibovespa apresentou valorização de 213%, uma taxa anual composta de 12,1%. Esse desempenho indica crescimento real significativo de receita, com expansão de lucratividade e reflexo nos preços dos ativos.
Durante o período de análise, a relação preço/lucro (P/L) futuro recuou de 10,1 vezes em dezembro de 2015 para os atuais 9,4 vezes, indicando que o mercado optou por não precificar inteiramente essa evolução de lucros, possivelmente estimando que as incertezas fiscais, os ruídos políticos e os juros reais elevados tenderiam a ter impacto negativo sobre o lucro futuro, além de aumentar o custo de oportunidade do investimento em ações.
Para o Safra, com a alta dos lucros e a redução dos múltiplos, a bolsa se tornou relativamente mais barata em termos históricos, o que pode representar uma oportunidade para investidores de longo prazo. Além disso, aponta, a perspectiva de crescimento do lucro por ação do Ibovespa de 14,6% ao ano para os próximos três anos e fatores, como a expectativa de cortes na Selic, o bom desempenho das contas externas e a redução do risco-país, combinados com um prêmio de juros reais elevados (taxa da NTNB 2050 em 7,3%), reforçam um ambiente potencialmente favorável para reprecificação dos ativos.