Entre abril e junho deste ano, o BC já promoveu 19 leilões, com prazos de 60 a 91 dias corridos, aceitando entre 4.500 e 30 mil contratos por operação, dependendo das condições de mercado. As taxas de juros anual variaram de aproximadamente de 5,13% a 5,58% ao ano. Neste caso, leilões com taxas mais altas indicam maior demanda do mercado por proteção cambial ou maior prêmio exigido. Já taxas menores indicam menor percepção de risco.
Mas afinal, o que é swap cambial?
Realizar um contrato de swap cambial significa trocar rentabilidades ou indexadores de ativos financeiros entre duas partes. Essa operação é usada como uma forma de proteção — conhecida como hedge — contra a volatilidade do câmbio. Por meio do swap, o Banco Central atua para evitar movimentos disfuncionais no mercado cambial, reduzindo a pressão sobre o dólar e oferecendo mais previsibilidade a investidores e empresas.
No modelo tradicional, o BC ‘compra’ dólares no futuro e ‘vende’ juros em reais. Em outras palavras, ele garante proteção cambial enquanto contribui para aliviar a pressão sobre a taxa de câmbio. Como explica o próprio BC, “a compra de contrato de swap pelo Banco Central funciona como uma injeção de dólares no mercado futuro”.
Essa ferramenta é especialmente útil para empresas que têm receitas ou investimentos atrelados ao dólar — e que, portanto, ganham quando a moeda americana sobe —, mas que preferem se proteger das oscilações do câmbio e assegurar uma rentabilidade mais estável. Em vez de vender o ativo em dólar, essas empresas podem recorrer a um contrato de swap.
Na prática, o funcionamento é uma troca de fluxos financeiros entre as partes envolvidas. O Banco Central se compromete a pagar à empresa a variação do dólar no período, somada a um adicional chamado cupom cambial — um tipo de juro embutido na valorização da moeda americana. Em contrapartida, a empresa paga ao BC a variação da Selic, a taxa básica de juros da economia brasileira, atualmente em 15% (dados de 25/06).
Com isso, quem vende o contrato de swap (como uma exportadora, por exemplo) se protege contra uma eventual alta do dólar — já que o Banco Central cobre essa valorização. Em troca, assume o compromisso de pagar os juros internos do país.
Essa operação é vantajosa para quem quer minimizar os riscos da flutuação cambial sem abrir mão de seus ativos dolarizados. É como contratar um ‘seguro’ contra as variações do dólar: o Banco Central assume o risco cambial, enquanto o investidor ou empresa assume o risco dos juros domésticos.
Pontos importantes destacados pelo BC:
- A atuação do BC no mercado cambial é separada de sua política monetária;
- O montante de swaps cambiais pode ser ajustado para cima ou para baixo, dependendo das condições do mercado;
- O BC não vê restrições para que, dependendo do contexto, o estoque de swaps cambiais exceda os volumes máximos já atingidos.
Leilão tenta ajustar contas
Para explicar o momento atual, Felipe Sant’Anna, especialista em investimentos do grupo Axia Investing, retomou o movimento do Banco Central ao longo dos últimos meses. Ele lembrou que, quando o dólar estava em forte alta, a autoridade monetária passou a ofertar contratos de swap cambial tradicional. “O dólar sobe, sobe, sobe, e o Banco Central entrega dólar para o mercado, oferece dólares no swap com compromisso de recompra futura, com taxas e tudo mais”, afirma.
Nesse tipo de operação, se o dólar continua subindo após a venda dos contratos, o BC tende a recomprar mais caro no futuro, o que gera, tecnicamente, um prejuízo. No entanto, Sant’Anna destaca que o cenário se inverteu nos últimos meses. Desde o fim do ano passado, o dólar passou a cair com força. E isso, segundo ele, muda completamente a equação.
“O Banco Central já tinha feito muitos desses leilões e está hoje muito estocado nesse tipo de contrato futuro”, afirma o especialista. Com a queda da moeda americana, o BC se vê numa posição favorável. “Ele ofereceu dólares no mercado, com um compromisso de recompra no futuro, e agora tem a chance de recomprar mais barato.”
É justamente nesse contexto que entram os leilões de swap reverso, instrumento que o Banco Central utiliza para reduzir seu estoque dessas operações. Ao invés de ofertar dólares, ele passa a recomprá-los. “Com isso ele liquida alguns contratos que estavam pendentes”, explica Sant’Anna.
Ele ainda compara a manobra a um ajuste de contas: “Vamos supor que ele tem um estoque de bilhões de contratos de swap que foram vendidos para segurar a cotação e dar liquidez ao mercado. Agora, ele compra para reduzir esse estoque.” Essa atuação, segundo o especialista, é positiva sob a ótica do mercado, por dois motivos principais: o Banco Central evita prejuízos — já que está recomprando contratos mais baratos — e ganha fôlego para eventuais intervenções futuras.
“Ao reduzir o estoque de swap, o BC ganha espaço para atuar novamente, caso o dólar volte a subir ou o cenário externo piore, como em uma escalada da guerra”, explica Sant’Anna. Na prática, o banco central se reposiciona e preserva margem de manobra.
O especialista também ressalta que, caso o Banco Central continuasse ampliando suas posições em swaps sem conseguir desmontá-las num cenário de dólar em alta contínua, sua margem de manobra se estreitaria perigosamente. “Tu imagina se o Banco Central fez contrato, contrato, contrato, e o dólar não para de subir. Chega um momento que o BC fica com a água batendo no nariz.”
Sant’Anna resume a importância estratégica desse movimento: ao desmontar parte das operações agora, o BC recupera munição para reagir a futuras pressões cambiais. “Ele fica com poder de fogo para uma próxima alta do dólar também poder atuar.”